Criador da Cooperifa lança seu 7º livro e fala sobre sua arte e o Prêmio Transformadores
Na edição 2010 do Prêmio Trip Transformadores, um dos homenageados da noite foi o "poeta vira-lata" Sérgio Vaz, por seu trabalho social na região de Piraporinha, bairro periférico da Zona Sul de São Paulo, onde fundou a Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa). Ali, no espaço do bar do Zé Batidão, criou um núcleo cultural voltado para a literatura onde mantém há quase 10 anos saraus e grupos de discussão para movimentar a região carente com o mais precioso bem que se pode conseguir: a arte.
Um ano depois de receber o prêmio, Sérgio lança seu sétimo livro e primeiro trabalho escrito em prosa. Literatura, Pão e Poesia será lançado oficialmente nesta sexta (dia 5) no Cemur - Teatro Municipal de Taboão da Serra. Com texto de abertura escrito pela professora Heloisa Buarque de Hollanda e posfácio da premiada jornalista Eliane Brum, o livro mostra o poeta saindo da sua zona de conforto e encarando mais um novo desafio na sua carreira literária. E com desafios, Sérgio está mais do que acostumado.
"Em outubro a Cooperifa vai completar dez anos e vamos fazer uma festa de dez dias para comemorar. Não dava para esperar esse sucesso quando nós começamos em 2001. A Cooperifa foi uma coisa que eu fiz pensando na gente, no povo do bairro e pros amigos. Não tínhamos ideia da dimensão que isso ia tomar", comentou Vaz em entrevista à Trip. "E o Prêmio Transformadores também ajudou a gente. Gerou um destaque e um maior interesse das pessoas. Mesmo pessoas da própria comunidade que não conheciam o trabalho passaram a conhecer depois do prêmio. Fora que aumenta a nossa auto estima, afinal, um prêmio para a Cooperifa é um prêmio para a própria comunidade."
"A importância do Prêmio Transformadores é muito grande para projetos como o nosso. Ele é o reconhecimento do trabalho de gente que já faz. Esse tipo de reconhecimento ao nosso trabalho é muito bacana. E é legal porque as pessoas que são premiadas tem a chance de conhecer outros projetos e outros trabalhos que estão acontecendo por todo o país."
Literatura, Pão e Poesia
Nas palavras da professora Heloisa Buarque de Hollanda na abertura do livro, que chega às lojas em formato de bolso pela Global Editora, “o título diz, literalmente, a que veio. Se ao título juntarmos o autor, o sentido maior do livro se abre diante de nós. O escritor cidadão, o poeta ativista. Para quem trabalha com tendências ou fica de olho nos novos horizontes da literatura, não há como não se dar conta da chegada da literatura marginal ou periférica, que veio com força e garra na virada do milênio”. Vaz concorda com a colega e diz que gostou do desafio de escrever em prosa em oposição ao seu trabalho mais recorrente com poesia.
"Meu trabalho é todo voltado para a literatura. Minha literatura, na maior parte do tempo, fala justamente da falta de pão e da poesia que a gente precisa para sobreviver. O título do livro resume um pouco do meu trabalho dessa forma. É a minha tríade: literatura, pão e poesia", explicou o autor. "Eu já até estou com um outro livro de poesia pronto. A prosa para mim é só um desafio, uma forma de aprender e de melhorar a minha poesia. Foi algo que eu gostei muito de fazer, afinal, a poesia é a síntese de uma ideia. Na prosa é possível se extender um pouco mais e de uma forma que a poesia talvez não consiga agir."
"Escolhi lançar o livro em formato 'de bolso' primeiramente por ser mais barato. Eu escrevo para a minha comunidade. O livro vai sair a R$ 19.90, que é um preço acessível. Assim ele vai ser um livro prático, fácil de carregar e para que a nossa comunidade também possa ler. Não adianta nada fazer um livro enorme e bonito a um preço de R$ 50, mas que as pessoas de quem eu gosto e com quem eu convivo não possam comprar", continuou.
Atitude e vontade
Na vida de Sérgio, dez anos já foram dedicados diretamente a levar a poesia e a literatura em geral para o coração da periferia de São Paulo. Nos seus saraus, cerca de 250 a 300 pessoas comparecem semanalmente para ouvir e dividir seus trabalhos com outros poetas, sejam eles da comunidade ou não. Mas uma iniciativa vencedora como essa não começa do nada e exige dedicação, trabalho, atitude, vontade e especialmente amor pela causa. Como o próprio poeta explica "para tudo na vida, a primeira coisa é gostar do que se faz."
"Para uma iniciativa como essa dar certo, é preciso acreditar. Se é para ajudar as pessoas do seu bairro, é preciso gostar de onde você vive. Você não pode começar um trabalho assim pensando em ter patrocínio de governo, nem pensando em ter apoio da iniciativa privada. Essas iniciativas tem de partir do coração. Se não for uma coisa que a pessoa realmente goste de fazer e acredite, é muito difícil dar certo. Agora, se você acreditar, faça. Faça por que as outras coisas acontecem."
Vai lá: Lançamento do livro Literatura, Pão e Poesia
Quando: 5 de agosto de 2011, a partir das 19h
Onde: Cemur - Teatro Municipal de Taboão da Serra - Praça Nicola Vivilecchio, 165 - Centro, Taboão da Serra/SP
Quanto: Grátis
Informações: (11) 4788-3881