A filósofa Sueli Carneiro indica livros de autoras negras para conhecer - ou reconhecer - a realidade dessas mulheres
Homenageada deste ano no Trip Transformadores, Sueli Carneiro dedica seus dias a mudar a realidade de mulheres negras no país. Nenhum tipo de discriminação passa ileso ao trabalho da filósofa e doutora em educação, também fundadora do Instituto Geledés — nascido há 30 anos para evidenciar a exclusão que mulheres negras sofrem na sociedade.
"O lugar que nos foi destinado, como o limite da exclusão, nos faz portadoras de uma visão crítica da sociedade brasileira, com a radicalidade que somente esse lugar contém. Trazemos dessa realidade, narrativas que ainda não foram contadas, personagens insondáveis em sua grandiosidade humana", declara Sueli, que acredita que a literatura é uma das maneiras de entrar em contato com isso.
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Se por vezes o mercado editorial invisibiliza autoras negras e suas histórias, a filósofa aponta que existem editoras dedicadas a esse tipo de literatura, como a Mazza, Malê, Nandyala e Pallas Atenas. Além disso, Sueli destaca saraus, batalhas de poesia e sites negros que celebram e divulgam essas autoras. É o caso do Geledés, fundado por ela, e também do Alma Preta e Nós Mulheres da Periferia. "Elas estão por aí, é só querer encontrar."
Veja abaixo a lista de livros que Sueli Carneiro fez para o Trip Transformadores e prepare sua leitura!
Ponciá Vicêncio - Conceição Evaristo
Conceição vê sua literatura como uma escrevivência, que ela assim nos define: "Nossa escrevivência não é para adormecer os da casa grande, e sim, para incomodá-los em seus sonhos injustos". Ponciá Vicêncio é a saga de um eterno desterro do qual emanam resistências e resiliências protagonizadas por mulheres negras, ampliando e enriquecendo o imaginário social acerca das mulheres brasileiras. A autora é a primeira dama negra da literatura brasileira e é candidata a Academia Brasileira de Letras, reivindicando a cadeira número 7 da ABL, que foi de Nelson Pereira dos Santos.
Um defeito de cor - Ana Maria Gonçalves
Ana Maria Gonçalves, com seu romance "Um defeito de cor", venceu na categoria Literatura Brasileira o prêmio Casa de Las Américas, em 2007. Segundo o júri, a obra se caracteriza por "um grande poder de evocação e pela união orgânica das descrições de variados contextos históricos", numa narrativa que mostra a sociedade brasileira do século XIX.
O homem azul do deserto - Cidinha da Silva
Cidinha da Silva é considerada uma das melhores cronistas da atualidade. O homem azul do deserto é o seu décimo segundo livro e marca o momento em que a sua prosa poética alcança o seu maior refinamento: “Desacelero e olho à volta para descobrir quem canta na manhã ensolarada de domingo. O monturo de lixo se mexe. Emerge de lá, pulando ora numa perna, ora noutra, uma mulher de dreads grossos, pele negra curtida de sol e gordura das sobras dos restaurantes, roupa de sacos de lixo pretos customizados. Um luxo!" Vale a pena conferir.
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Quarto de despejo - Carolina Maria de Jesus
O livro, de 1960, consiste no diário de Carolina Maria de Jesus, e teve impacto impressionante nos anos 60, sendo traduzido em 15 idiomas. É um olhar singular de uma mulher favelada sobre a cidade e seus territórios envoltos pelas racialidade, os gêneros e as classes sociais. Fruto do impacto causado por esse livro, emerge o primeiro Plano de Desfavelamento da Prefeitura de São Paulo, em 1961, que, segundo os seus idealizadores, representaria o despertar da cidade para esse grave problema humano e social: a favela.
Primavera para as rosas negras - Lélia Gonzalez
É uma publicação indispensável para os interessados nas temáticas de gênero e na questão racial no Brasil e mundo. Reúne, pela primeira vez, textos inéditos dessa precursora da reflexão sobre a mulher negra na sociedade brasileira. Lélia Gonzalez é a principal referência das mulheres negras de minha geração.
O que é lugar de fala ? - Djamila Ribeiro
Djamila Ribeiro é a mais potente expressão do feminismo negro contemporâneo e do protagonismo político das jovens negras brasileiras. Seu livro é essencial para a compreensão de como a interseccionalidade de gênero, raça e classe compõem uma ótica especial para enxergar não só o mundo, mas também as relações sociais. A escrita conduz à exigência de uma ruptura dos paradigmas que determinam a redução da humanidade de certos grupos, em especial o das mulheres negras.
Créditos
Imagem principal: Mario Ladeira