A médica vencedora do Big Brother Brasil Thelma Assis comemora os debates levantados pelo programa, relembra sua trajetória e fala sobre dinheiro, representatividade e luto
Thelminha sempre gostou de sonhar alto – e correr atrás do que quer. Logo cedo decidiu que queria ser médica. Cresceu numa família humilde, na zona norte de São Paulo, e batalhou muito para conquistar seu diploma e a especialização em anestesia. Formada e trabalhando em quatro hospitais, a médica inventou um novo sonho no ano passado: participar da 20a edição do Big Brother Brasil. E não só foi parar no reality show como saiu vitoriosa de uma edição de repercussão histórica e marcada por colocar em pauta debates como o machismo e o racismo.
Aos 35 anos, Thelma Assis é médica, bailarina, sambista e, mais recentemente, apresentadora e influenciadora digital. Desde sua vitória no programa, que contou com o apoio de muitas celebridades, ela estampou capas de revistas, campanhas publicitárias, se tornou embaixadora de uma marca de beleza e ganhou também um quadro no programa “É de Casa”, da mesma TV Globo que produz o Big Brother no Brasil. Seu posicionamento, determinação, inteligência emocional e, acima de tudo, sua potência, acompanhada 24 horas por dia por milhares de pessoas, a levou ainda mais longe do que ela poderia sonhar. Thelminha é a convidada do Trip Fm desta semana e bate um papo com Paulo Lima sobre a importância dos debates levantados pelo programa, racismo, representatividade e dinheiro.
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Trip. Você perdeu seu pai um pouco antes de entrar no Big Brother, que é uma situação de dor profunda. Depois de passar por isso você viveu aquela loucura toda do programa, conflitos, afetos, tudo misturado. Depois você saiu para conhecer a quarentena, encarar a pandemia sendo uma médica. Você tinha tudo para estar completamente louca nesse momento. Como ficou sua cabeça?
Thelma Assis. Manter a estabilidade emocional diante de algumas situações que a vida nos coloca realmente não é uma tarefa fácil. Eu costumo dizer que meu pai foi meu primeiro paciente. Ele lutou nove anos contra um câncer, um linfoma, e ele fez o diagnóstico quando eu estava no quinto ano da minha faculdade, bem no período da medicina em que a gente tem que ter dedicação exclusiva. Como muitas pessoas sabem, eu era bolsista e tinha que zelar muito por essa bolsa, não podia faltar, não podia perder. Foi um momento muito difícil e eu já fui aprendendo a lidar com esses obstáculos que a vida nos coloca. Eu sabia o prognóstico do meu pai, né? Existe essa palavra na medicina, prognóstico, que é a expectativa de vida de uma pessoa diante de uma determinada doença. E eu sentei pra estudar e sabia que o meu pai teria dez anos de vida, no máximo. E o que eu fiz foi proporcionar ao máximo uma qualidade de vida para ele durante esses nove anos. Não foi fácil. Eu perdi as contas de quantas vezes eu passei a noite com ele no hospital e fui trabalhar no dia seguinte. Foram muitos anos de plantão, uma dedicação muito grande a ele. Eu sou filha única, então eu meio que carregava a família nas costas.
Então na minha história de vida eu tive algumas experiências que acabaram me fortalecendo para quando eu me vejo dentro de um reality show, onde você tem que respeitar o espaço do outro, convivendo com pessoas muito diferentes. Em 98 dias, o confinamento traz situações que a gente acaba vivendo e conhecendo só dentro dele. E eu nunca poderia imaginar que aqui fora as pessoas também estivessem também passando por uma situação semelhante. E talvez por isso também essa edição do Big Brother tomou essa proporção, porque as pessoas acabaram se identificando com a nossa realidade lá dentro, com quão difícil é ficar confinado. Se muitas pessoas estão confinadas com as pessoas que elas amam e ainda assim parece que os conflitos se exacerbaram, imagina com pessoas que você não conhece e que são totalmente diferentes de você. Realmente, não foi fácil, mas eu pratico a empatia com muita facilidade. Lógico, lá dentro, em 98 dias, teve momentos em que eu tive que me posicionar, falar de uma forma mais incisiva. Mas não é o meu perfil ficar brigando 24 horas por dia, pelo bem da minha saúde emocional.
Quando eu saí, não esperava essa pandemia. Eu achei que fosse algo mais resolutivo a curto prazo. E aí eu me vejo no aeroporto, na fila de embarque, parecia cena do filme, parecia que eu estava entrando num outro mundo. Eu até questionei meu marido se eu poderia levantar a máscara pra tomar água. Ele falou: "Mas se você não levantar você não vai conseguir beber". Eu falei: "É porque eu não sei como agir. Eu tenho que me afastar das pessoas para poder beber água?" Então foi uma experiência muito impactante. Eu acho que nunca vou sentir o que foi aqui fora e nem ninguém vai saber o que foi lá dentro, confinados, tendo uma pandemia que a gente não sabia a proporção. Enfim, foi uma experiência inesquecível e que eu vou poder compartilhar com meus filhos e com meus netos. E que só ajudou a somar, mais uma experiência para eu me tornar uma pessoa mais forte e com capacidade de me regenerar.
Você mencionou um personagem desse filme, que é o seu marido. Ele deve ter enlouquecido porque de repente a mulher dele, que é médica, entra no Big Brother, é vista por todo mundo, surgem os haters, um pessoal te chamando de planta. E aí você sai de lá ovacionada, com R$ 1,5 milhão no bolso, famosa, celebrada, festejada. É um twist carpado de 360 graus. E ele continua igualzinho, na vida dele. Como é que a cabeça dele está segurando essa mudança toda? Na verdade ele já estava há três anos casado – de um relacionamento de 11 anos – com uma pessoa versátil, ligada no 220V, que chegava inventando as coisas... Eu tenho muito foco no que eu quero. Então eu chegava pra ele com os meus sonhos e falava: "Olha, eu quero entrar no Big Brother esse ano". Num primeiro momento ele falou: "Ah, você está ficando louca". Só que aí depois eu consigo colocar as coisas como um projeto de vida e vou traçando caminhos para que se transforme em realidade, vou buscando ferramentas. E é interessante que aí, de um dia para o outro, ele abraça o meu sonho e vira um grande parceiro, um grande aliado nessa conquista. E com o Big Brother foi assim também.
E a minha família, minha mãe, também sofreram muito. Não é fácil ter exposta uma pessoa que você ama, que você conhece a índole, o caráter. Mas a gente sabia disso, eu sabia quando estive disposta a me expor durante três meses. Mas só sentindo na pele mesmo as pessoas ofendendo, citando coisas que não eram reais e você tentando falar: "Não, isso não é verdade, a minha esposa não é assim..." Foi um período difícil, mas ele conseguiu sobreviver muito bem. Quando eu saí encontrei um marido mais maduro, bem posicionado. Ele disse que no começo queria atirar pra tudo quanto é lado, dava entrevista, queria falar. E depois foi se conscientizando de que ele teria também que ter uma empatia com as pessoas que estavam dentro do jogo e foi amadurecendo junto comigo. E hoje a gente é parceiro de projeto, trabalha junto. Como fotógrafo ele é um grande aliado, trabalha bastante comigo essa questão com a câmera, com a mídia. É uma dupla que tem dado certo.
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Eu me lembro da Djamila Ribeiro falar numa Casa Tpm: tem dias que eu queria não falar sobre racismo. Queria falar sobre cerveja, sobre o show que eu fui, sobre outras coisas. Mas aí você vê que no Big Brother que você participou tinham 20 pessoas e só dois eram negros. Então não dá para gente não falar sobre essas questões. Como foi pra você chegar num lugar tão importante, que você sonhava, e ver que tinha só você, o Babu e outros 18 brancos? Na minha vida eu frequentei muitos ambientes predominantemente brancos. Na faculdade de Medicina, eu era a única negra da minha turma de cem pessoas. No ballet, que também é um curso elitizado, eu era uma das poucas. E me tornando médica eu consegui ter uma condição financeira para fazer algumas viagens. Cheguei num hotel bacana na África do Sul e me questionaram se no Brasil existiam muitas pessoas negras. Eu falei: "Como assim? A maioria das pessoas do Brasil são negras". E os funcionários do hotel falaram: "Nossa, mas aqui na África do Sul não vêm muitos brasileiros negros". Então, infelizmente, eu já passei diversas vezes por essa situação. E ao entrar no BBB fiquei procurando quem era o outro personagem negro. Porque parece que a gente sempre faz parte de uma cota. “Nós temos que colocar ali duas pessoas pra poder representar”. Mas não representa. Porque nós somos a maioria da população. Infelizmente isso acontece na mídia, em outros setores também. Sempre nos lugares onde a gente vê as pessoas negras eles estão ali na prestação de serviço, subservientes. Infelizmente, nos lugares de destaque, a gente ainda não vê na mesma proporção da nossa população. E o que acontece? A gente acaba sempre se aliando, somando. Foi o que aconteceu comigo e com o Babu. Então uma das primeiras frases que eu falei pro Babu foi: "A gente sabe, né? A nossa cútis sempre nos aproxima". E é isso. Eu conversava muito pouco sobre jogo com o Babu. Conversava mais de história de vida, porque é inevitável. Ele sendo um cara que cresceu na favela, eu sendo uma mulher negra que cresci na periferia de São Paulo. Em vários momentos a nossa história se cruzava. Porque a gente vive num país racista e que tem um racismo de forma estrutural. Então nesse momento você faz o quê? Você fala: a gente tem que honrar aqui, orgulhar as pessoas e mostrar que a cor da minha pele não tem que limitar a minha capacidade para nada. Foi a mesma sensação que eu tive quando eu entrei na faculdade. A gente fica sempre buscando se provar, a sensação é que eu tenho que ser duas, três vezes melhor para mostrar para a sociedade que eu existo e que eu tenho capacidade pra tudo que eu desejar fazer.
A Angela Davis, que é uma grande personalidade internacional, mulher negra, tem uma frase: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. Eu fico feliz em participar de um reality show onde as pessoas conseguiram honrar e legitimar as bandeiras de uma mulher negra, que vive várias opressões – a de gênero, do machismo, do racismo e muitas vezes a da desigualdade social, que está ali atrelada. Esse movimento todo que ganhou holofote esse ano, que começou nos Estados Unidos e refletiu muito aqui, trouxe isso. E a Djamila Ribeiro e várias personalidades negras têm falado: a gente não quer mais falar somente sobre racismo porque o racismo não é um problema das pessoas negras. O racismo é um problema das pessoas brancas, principalmente. Então acho que isso começou a virar a chavinha na cabeça das pessoas brancas e das outras etnias. Porque não basta eu ficar falando. Eu consigo ficar aqui horas contando as situações racistas pelas quais eu passei, mas não vai adiantar. A pessoa não vai conseguir ser empática em relação a isso se ela também não parar para pensar, ler, estudar. Então fico feliz que eu participei de um reality show que levantou bandeiras e debates importantes pra toda a população. Porque acho que ali dentro eles colocam uma amostra do que é a população aqui fora, isso é inevitável. Então em 20 pessoas você consegue ver, sim, o que as mulheres passam diariamente, o que as pessoas negras passam diariamente. E isso virou debate, ótimo, e que continue sendo assim.
Queria explorar um pouco a sua relação com o Babu, que foi muito interessante assistir. Ficou evidente que ele vestia muito essa coisa da irmandade negra e falava que isso estava acima de qualquer parada. E teve um momento em que você ficou muito dividida entre o Babu e honrar a amizade com as meninas, a parceria, a sororidade. Deve ter sido muito difícil votar no Babu e passar por traidora dessa irmandade que você estabeleceu com ele. Como é que se toma uma decisão dessas? É muito legal falar sobre isso. O meu primeiro contato com o Babu foi exatamente esse, de irmandade. A gente se reconhece, as únicas pessoas negras dentro de um jogo, e por ter muitas coisas em comum na nossa história de vida. A minha relação com ele era de admiração. Ele me admirava como mulher negra médica, por tudo o que eu sou, e eu também admirava ele. Só que lá dentro a gente estava dentro de um jogo e quem acompanhou desde o começo percebeu que o Babu escolheu um lado, com seus aliados, e eu escolhi o outro. Na verdade eu fiz um jogo muito arriscado porque eu escolhi proteger uma pessoa que estava do outro lado. A qualquer momento eu poderia virar um alvo dentro do meu lado, que era ali o que a gente chamava de “comunidade hippie”. Tanto que a “comunidade hippie” quebrou por minha causa, porque algumas pessoas não entendiam meu relacionamento com o Babu. Não entendiam um cara admirável, um cara com uma história de vida que era muito parecida com a minha. Tanto que me deram o Monstro [punição no programa], falavam mal de mim pelas costas, tudo porque eu dizia que era aliada a ele. Falei para a Manu Gavassi: eu esqueço o que as pessoas fazem de mal para mim, mas eu não esqueço o que elas fazem bem. Ele me deu um Anjo [a imunidade na competição] lá na segunda semana e eu falei o jogo inteiro que, se eu ganhasse um Anjo, independente de quem fossem os meus aliados, eu retribuiria para ele.
Só que aí o jogo vai acontecendo e eu fui vendo que, durante várias vezes, ele esteve ao lado de pessoas com quem eu não concordava com as atitudes lá dentro. E aí o pessoal da produção falou: vamos criar um conflito. Porque naquele momento em que eu tive que votar no Babu teriam outras pessoas pra votar, se fosse uma escolha livre. Mas eles fecharam o cerco: “Ah, é, vocês se amam, vocês se gostam? Então vamos fechar o cerco aqui”. E aí eles fizeram uma fotografia do que acontece com a mulher negra na sociedade. Como é que eu faço para escolher? O que pesa mais para mim, o machismo ou o racismo? São opressões que eu sofri a vida inteira. Então eu olho para um cara que eu me aliei por irmandade ou eu olho para uma menina que sempre me defendeu dentro do jogo, que sempre me respeitou e que sempre pensou como eu? E foi o que pesou mais. Porque o Big Brother é um jogo que nós, que estamos lá, só temos duas câmeras, que são os nossos olhos. Vocês aqui fora têm duzentas. Então quem foi essa pessoa, que sempre pensou como eu no jogo? Foi a Rafa. Eu tive que escolher e faz parte do jogo. Aqui fora eu nunca escolheria entre o Babu e a Rafa, eu sou amiga dos dois. Mas dentro do jogo eu escolhi. E aí fui massacrada por alguns aqui fora. Mas é isso, né? A mulher negra sempre acaba levando várias críticas por isso. Não tem como escolher entre machismo e racismo. O que dói mais em mim? Dói os dois. E isso aconteceu lá dentro. Eu não me arrependo de nada que eu fiz, estou muito feliz.
Você teve muitas dificuldades financeiras quando criança e depois, quando estudante. Como é que está sendo agora, que você ganhou prêmios, fez contratos bacanas? Qual é a sua leitura da importância do dinheiro na nossa vida? Eu aprendi a valorizar muito o dinheiro. Eu já tinha essa relação com o dinheiro porque eu tinha uma família que trabalhava para pagar as contas básicas, água, luz, mercado. E era essa a vida. Viagem não tinha, roupa não tinha. Era tudo contadinho. Tanto que para uma coisa fundamental, que é o estudo, muitas vezes faltou. Eu estudei em escola pública, na faculdade tive que ter bolsa, então era uma família que tinha o básico. Quando eu virei médica já aprendi a dar um valor muito grande para o dinheiro. Eu sou de uma geração que começou a ser pioneira na universidade, então eu tenho primos que têm curso superior e que conseguiram melhorar a condição de vida. E eu a única médica. Só que aí eu tinha pai, mãe, muita gente para ajudar. Então, como médica, eu ainda não tinha conseguido conquistar uma grana satisfatória para sair fazendo coisas absurdas do ponto de vista financeiro. E depois de ganhar o prêmio o pé ficou cada vez mais no chão. Eu ainda não tenho casa própria, eu tenho o sonho, mas sei que nesse momento, ainda mais numa pandemia, o melhor a fazer foi investir esse dinheiro. E tudo o que eu tenho trabalhado tenho poupado e valorizado muito pra poder lá na frente colher os frutos.
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Além de todas essas dores que você enfrentou, como mulher negra, as dificuldades financeiras, você descobriu aos 15 anos que foi adotada, através de uma ligação anônima. Só isso daria um programa inteiro. Eu acho muito você lidar com dor profissionalmente. Qual foi a maior dor que você já sentiu, de alma? Várias, mas o luto com certeza é uma dor inesquecível. Então a perda do meu pai, a perda dos meus avós quando criança, são dores bem marcantes. É interessante você fazer essa analogia, de trabalhar com dor, porque realmente a dor tem um componente emocional muito importante. Os pacientes têm muito temor, existe um mito em torno da anestesia, e não tem nada mais gratificante do que poder tentar esclarecer, transmitir uma segurança. E depois enxergar o desfecho, quando o paciente acorda e fala: “Nossa, mas já passou? Já operei? Nem senti nada”. É muito gratificante e acho que é a primeira vez que eu enxergo desse ponto de vista. Talvez por ser uma pessoa que teve dores de alma ao longo da vida seja tão gratificante tirar a dor das pessoas no dia a dia.
Nessa onda do cancelamento, houve recentemente uma polêmica envolvendo uma das intelectuais mais respeitadas do Brasil, a Lilia Schwarcz. Ela fez um artigo sobre o novo vídeo da Beyoncé que foi muito atacado, apareceu essa questão do lugar de fala, de uma intelectual branca fazendo uma crítica meio enviesada. Eu queria saber como você vê uma questão assim. Uma pessoa como ela, que dedicou a vida a estudar a sociedade, as mazelas mais agudas, incluindo o racismo, pode falar sobre uma artista negra? Ela pode falar sobre o racismo? Eu passei nove anos da minha vida estudando medicina, então eu vou ter propriedade todas as vezes que eu tiver que falar sobre medicina. Se ela passou vários anos da vida dela estudando antropologia, vai poder falar sobre isso. Mas o que a gente diz sobre lugar de fala são as experiências que a pessoa viveu, e isso é impagável. A experiência que mostra e exacerba as nossas cicatrizes, e isso só quem viveu mesmo é que pode falar. Então acho que todos os profissionais que brilhantemente se dedicam a estudar e de alguma forma colaborar para vencer esse racismo estrutural precisam ter só a questão da sensibilidade na hora de abordar esses assuntos. A Beyoncé é uma baita imagem representativa. O que a gente tanto fala de representatividade, ela é representação pra várias pessoas. Então é um campo muito sensível, criticar uma pessoa que, pra muitos de nós, pra mim também, é sinônimo de poder, de "eu quero ser que nem ela". Uma mulher rica, bem sucedida, e que não quer mostrar o lado somente de mazela, de escravidão, abolicionista. Ela quer mostrar um lado de status, de empoderamento, e a forma como ela enxerga e como ela quer mostrar. Acho que é uma forma válida, que se muitas pessoas se identificam e se sentem representadas, então tem que respeitar isso também. É super válido o estudo, a dedicação, porque eu acho que a gente tem que somar. Somar num país que é muito racista, que tem um racismo estrutural, e que as pessoas precisam entender isso. É como você falou, a gente está na política do cancelamento, então, sempre que for um campo mais sensível, o lugar de falar é super válido, com certeza. Ou questionar alguém que tem esse lugar de fala, como a Djamila Ribeiro, que a gente citou, e outras tantas personalidades que podem agregar conhecimento quando a gente tiver que se posicionar sobre racismo e essas questões.
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