Artista plástico fala sobre street art e dispara: ”acho que o grafite já deu”
Ele é um dos mais conceituados, premiados e, principalmente, curiosos artistas brasileiros. Paulistano, ele estudou eletrônica industrial no colégio Liceu Eduardo Prado e se formou em arquitetura em 1974 pela FAU de São José dos Campos. Depois de formado, embora nunca tenha exercido a arquitetura propriamente dita, passou a trabalhar em seu próprio atelie, o Arte Moderna, onde realizava diversos trabalhos de criação, desenvolvendo ilustrações, logotipos, editoriais, cartazes, cenografia, entre muitas outras coisas.
Em 1978 ele se deparou com a “Primeira Mostra do Objeto Inusitado”, uma espécie de concurso para eleger a peça de arte mais excêntrica. Amante das ideias pitorescas desde a época da faculdade, o concurso atiçou sua criatividade e marcou, de certa forma, o início de sua brilhante carreira como designer gráfico. De lá pra cá são mais de 30 anos dedicados à arte, seja através de instalações, objetos, máquinas, performances, esculturas, vídeo-instalações e mais um monte de coisa que é até difícil de catalogar. Esse é Guto Lacaz, um artista plástico que prefere se intitular artista prático. Um meio homem meio engenhoca, que coleciona exposições e premiações pelo Brasil e pelo mundo.
"Pra que serve a arte? Pra nada! Cada pessoa faz dela o uso que desejar"
Depois de conceder uma longa entrevista para o site da Trip sobre a sua mais recente obra, OFNIs: Objeto Flutuante não-Identificado, o artista mecânico, como ele mesmo se identifica, veio aos nossos estúdios falar sobre arte, sobre as constantes comparações com o Professor Pardal e sobre a função da arte no século XX. Ele, que gosta de dizer que "arte é um ofício como qualquer outro", tem na ponta da língua a resposta para essa questão.
"Pra que serve a arte? Pra nada. Cada pessoa faz dela o uso que desejar. Para mim, a arte é um trabalho - e eu sou um trabalhador obsessivo. Arte é um ofício diário. Tem que acordar cedo, fazer, fazer, fazer, errar, errar, errar, gastar, gastar gastar, expor, expor, expor, fracassar, fracassar, fracassar, fazer sucesso... É isso. Arte é ficar fazendo", ele provoca. "Não sou só artista (...) sou o marginal chique"
Guto também falou com muito bom humor a respeito dos usos e abusos da street art, especialmente na sua cidade de São Paulo. Para o veterano das intervenções urbanas, o grafite chegou a um ponto crítico, assim como a própria metropole.
"Isso que eu vou dizer é polêmico, mas eu acho que o grafite já deu. Já chegou em um grau de saturação. Já deu. Eu olho pra uma parede e vejo um em cima do outro e você não consegue nem ler mais como você lia antes. Agora, quando você passa ali no túnel da Paulista com a Doutor Arnaldo (em São Paulo) e você não consegue ler nada", detona.
"Eu acho que o grafite já deu. Já chegou em um grau de saturação"
"É muita informação sobreposta. Os grafiteiros são muito over, então eles fazem umas coisas enormes que, na verdade, não informam nada. E é isso. Um grafite do Banksy é melhor do que mil desses que você vê por aqui. Mas ao mesmo tempo há uma demanda que a gente tem pelo grafite. É muita gente querendo se expressar, então é uma coisa que acontece e é meio difícil de evitar. É uma realidade mundial".
Essa e outras reflexões e provocações do artista plástico você ouve clicando no player acima.
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