por Flora Lahuerta

Em documentário, ativistas alemãs discutem a imagem da xoxota nos tempos atuais


Intrigadas com o aumento das cirurgias cosméticas "íntimas”, as ativistas alemãs Claudia Richarz e Ulrike Zimmermann resolveram fazer um documentário sobre a parte externa do órgão sexual feminino, ou seja, a vulva, com seus lábios e clitóris. Vulva 3.0 estreou no Festival Internacional de Cinema de Berlim deste ano e, desde então, vem atraindo uma leva de curiosos. Através de entrevistas, as diretoras discutem educação sexual, censura, mutilação genital, as cirurgias cosméticas, os retoques de Photoshop da indústria pornográfica e a necessidade de criarmos uma imagem mais generosa da vulva, com toda a sua diversidade. 

Aqui, a Tpm conversou com as diretoras do longa. 

Tpm. Por que vocês resolveram fazer um filme sobre a vulva? Fizemos um filme sobre as modificações da vulva, porque esse tema ainda é um tabu e recebe pouca atenção. As mulheres não têm imagens positivas da vulva e nem nomes para ela. Pesquisando o assunto da circuncisão feminina, percebemos que quase ninguém sabe o que de fato se passa durante a extirpação do clitóris. Mesmo os ginecologistas não aprendem nada sobre clitóris, pois como o órgão não fica doente ele não é um tópico médico. Mais grave ainda é o fato de que médicos que durante sua formação não são sequer apresentados aos órgãos de prazer feminino possam realizar cirurgias cosméticas na área.

Durante o processo de pesquisa e filmagem houve alguma descoberta surpreendente? O trabalho de realização do filme foi uma viagem de descobertas bastante interessante, em que aprendemos muito. Para mencionar apenas uma surpresa: nós não tínhamos ideia de que a mutilação genital era feita na Alemanha. Ou que a última circuncisão clitoriana documentada na Europa foi feita nos anos 1950, na Inglaterra, como forma de tratar “histeria” e “masturbação”. 

Uma cirurgiã plástica americana acredita que a moda da “depilação brasileira”, com virilhas cavadas ou totalmente sem pelos, foi responsável pelo aumento na procura por cirurgias “íntimas”, já que passou a expor uma região antes protegida. O que vocês acham disso? Naturalmente, a depilação total permite que os contornos externos da vulva fiquem mais expostos. Com este exemplo percebemos que algo que poderia ter a ver com liberação sexual também carrega contradições sociais básicas. O fato da vulva, através da depilação, vir à luz do público poderia significar que ela fosse abertamente festejada, com a própria depilação sendo um ritual de afirmação sexual. Mas o que acontece, contudo, é que a vulva está sujeita a um ideal de beleza absurdo e digital. Mulheres que não celebram e nem conhecem bem sua própria vulva ficam extremamente críticas consigo mesmas e se deixam operar para ficar parecendo uma fotografia retocada.

Vocês acreditam que é mais difícil amar a própria vulva no mundo de hoje? A forte estandardização visual é um fenômeno da modernidade. É difícil se manter fora desse apelo e ainda se sentir bem com a aparência individual do próprio corpo. Esperamos, com o filme, poder contribuir para que isso seja mais fácil.

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