por Tania Menai
Tpm #110

Um passeio subterrâneo por NY mostra a cultura sem preconceitos de quem mora na cidade

 

Um dos maiores luxos de Nova York é não ter carro. Andar de metrô aqui sempre foi o maior dos luxos. Não há liberdade maior de ir e vir sem ter que se preocupar com estacionamento, pneu, gasolina, flanelinha e carona. As estações têm mais de cem anos, muitas delas estão acabadérrimas, sujas – nada é bonitinho ou arrumadinho como em Washington D.C., Chicago ou Seattle. Nova York não é arrumadinha e bonitinha, oras. Mas tudo funciona: você entra em uma estação e sai vivo na outra. Com um passe mensal, que também vale para o ônibus, sua liberdade está resolvida. Mas há outro fator nisso tudo: a democracia. Uma vez que você desce as escadas do metrô, as regras valem para todos. Nada de meu-salário-é-maior, minha-cultura-é- mais-bacana. Todo mundo se respeita.

Menos é mais bacana
John John Kennedy era assíduo do metrô, assim como vários executivos ziliardários de Wall Street. Ficar parado no trânsito para quê? Para dizer que é capaz de comprar um carro? Nada mais provinciano. Outro dia, esbarrei com Danny Meyer, o dono de um dos melhores conglomerados de restaurantes da cidade, incluindo os três do MoMA. Ele é amado, idolatrado, salve, salve, justamente por essa postura low profile e eficiente ao mesmo tempo.

Os vagões são festas de multiculturalismo: você senta ao lado do judeu ortodoxo lendo um jornal em hebraico, do mexicano lendo também um jornal em espanhol, ou de um coreano lendo poesia da terra natal. Sim, 95% das pessoas leem, não importa o quê. Ainda há a família indiana, o turista perdido, os mariaches (músicos mexicanos), os violonistas, os gospels. Todos lá, mostrando sua arte. Há coisa mais incrível?

 

Isso faz pensar o quão triste é a realidade brasileira, onde carros são blindados, sem falar em helicópteros, ninguém se mistura, ninguém quer se ver. Há medo do desconhecido, há uma desnecessária ostentação – e quem perde é a própria cidade. Em Nova York, limusine branca é tida como brega – a rosa, então, nem pensar. Tudo que é over é cafona.

Por que não fazer de uma cidade um conjunto de culturas usufruindo do mesmo transporte com segurança e – ainda por cima – tirar milhares de carros das ruas ferindo menos o planeta? Pense nisso.

Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 15 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, no site da Tpm e também do site www.taniamenai.com

 

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