De chinelinho rosa e bermuda de cetim, trabalhar em casa não exige trajes de escritório
De chinelinho rosa e bermuda de cetim, trabalhar em casa não exige trajes de escritório, tampouco transporte público. Mas haja disciplina para resistir ao sol brilhando lá fora
Levo exatos três segundos para chegar ao trabalho – basta levantar da cama e me alojar na frente do computador. Trabalhar em casa é isso aí. Minhas manhãs são despidas de despertador, ferro de passar roupa, batom, carro, metrô, ônibus ou similares. Essa economia de tempo talvez seja o melhor atrativo do que se chama home office – o dia rende.
Talvez a paz de trabalhar em casa tenha colaborado para minha qualidade de vida – o metrô de Nova York também não é nenhum glamour. Sei disso porque já trabalhei a 13 estações de metrô de casa, mais precisamente naquela do finado World Trade Center. Sem contar a neve e o vento lá fora – enquanto isso, no aconchego do sacrossanto lar o modelito é a camisola. Não conte para ninguém, mas já entrevistei muita gente assim, ao telefone.
Underwear writers
Em dias mais chiques, desfilo de short e camiseta. Não é à toa que um jornalista americano que trabalha nos mesmos moldes nos intitulou de underwear writers. Em vez de roupas de trabalho, meu gasto principal é com velas aromáticas e CDs: de guitarra andaluz a sons de índios canadenses. Claro que saio para almoçar com os amigos – eles de terno e eu de chinelo de lacinho. Um luxo. As desvantagens? Uma é a falta de gente em volta. A outra: ninguém acha que você trabalha. O telefone toca o dia todo com convites tentadores: “Vem tomar um solzinho no Central Park!” ou “Te encontro daqui a meia hora na porta do Metropolitan Museum”. Ou ainda: “Desce aí no Starbucks, é só um cafezinho!”. Imagine se um advogado ou médico recebe chamadas assim em plena terça às três da tarde! Confesso que muitas vezes eu vou – e viro noite para tirar o atraso. Afinal, do lado de fora da minha porta tem uma cidade chamada Nova York, a matéria-prima do meu trabalho. Mas muitas vezes digo não. O mesmo acontece com amigos correspondentes em Valência, Rio de Janeiro ou Paris. Talvez devêssemos lançar uma campanha estilo: “Não somos donas de casa nem modelos da Victoria’s Secret – ainda assim, estamos na labuta. Colaborem!”.
Tânia Menai é jornalista, autora do blog Só em Nova York no site da Trip, mora em Manhattan há 12 anos, onde trabalha em casa, e mantém o site www.taniamenai.com