Sobre a solteirice, as reticências e as datas comerciais

por Clarissa Corrêa

Nem tudo que reluz é ouro

Sempre achei o Dia das Mães, dos Pais, Namorados e Crianças datas extremamente comerciais. Não adianta nada você escrever um lindo cartão para a sua mãe, entregar no segundo domingo de maio e nos outros 364 dias do ano reclamar que ela repete sempre a mesma coisa, que de vez em quando é meio chata, que quando você tinha 13 anos contou para toda a vizinhança que você tinha virado mocinha. Não adianta nada comprar um presente para seu pai, entregar no segundo domingo de agosto e na segunda-feira não dar um sorriso, um carinho, uma atenção. Não adianta nada receber um anel com um diamante enorme no Dia dos Namorados se o seu namorado nunca tem tempo para mandar uma mensagem no seu celular, fazer um cafuné ou preparar um jantar em um dia comum. Não adianta nada comprar um carrinho com controle remoto para seu sobrinho se você não é uma tia participativa, não assiste o campeonato de judô ou as apresentações de ballet.

Acho que a gente deve demonstrar o que sente todo santo dia, não somente em uma ocasião em que todo mundo demonstra. Neste Dia dos Pais, por exemplo, choveram homenagens aos pais. E fiquei pensando: será que esse povo que manifestou tanto amor é carinhoso nos outros dias do ano? É que, desculpa, eu não vou com a maré. Sim, eu compro uma lembrancinha nessas datas. Mas procuro me fazer presente nos outros dias. Procuro dizer que amo de outras formas. É muito fácil fazer o que todo mundo faz. Difícil é mostrar o que sente sem data marcada. E a gente precisa fazer isso, porque o amor não tem hora. Ele chega meio de repente, sem dar aviso. E, sabe, ele não precisa de tapete vermelho e frescura, só precisa de coração aberto e verdade. As pessoas não são eternas, por isso tem que fazer tudo hoje. Amanhã pode ser meio tarde.

Eu gostaria de saber que tipo de comemoração se faz no Dia do Solteiro. Sei que existem aquelas festas para solteiros. Mas não entendo direito o que as pessoas querem. Vi um bocado de gente se queixando de solidão no Dia dos Namorados. Ai, estou sozinho, que chato, que ruim. Ai, eu quero muito alguém na minha vida. Hoje essas pessoas estão comemorando loucamente o Dia do Solteiro. Não entendi que parte eu perdi, afinal, quer alguém ou gosta da solteirice?

Aproveitei muito a minha vida de solteira, mas sempre quis ter alguém. É que acho que a vida fica melhor quando a gente tem com quem dividir as coisas. E por melhor que você se relacione com sua família, por mais fiéis e legais que sejam os seus amigos, nada substitui um amor. Não estou dizendo que quem está solteiro é infeliz, eu já fui solteira. E feliz. Mas sempre quis uma pessoa pra ouvir meus silêncios e conversar com os olhos. Um dia eu encontrei. E quer saber? Descobri que a felicidade tem reticências sem fim. 

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