Na Índia, um projeto social de mulheres solteiras, viúvas, mães solteiras e lésbicas
Imagine morar em um lugar onde na condição de mulher a sua única opção socialmente aceita é casar. Imagine que o casamento é arranjado pelo seu pai com um homem que você não conhece, não gosta, te trata como empregada e nunca faz um carinho em você. Para piorar, ele toma todas e te faz ter relações sexuais com ele. Imagine interromper seus estudos básicos e ir viver com esse brucutú, lavar, passar e procriar. Imagine viver sem amor! Essa é a realidade da maioria das mulheres indianas.
O drama de ser mulher começa na barriga. Aqui o fetocídio feminino é tão alarmante, que o governo da Índia proíbe o médico de revelar o sexo da criança quando faz um ultrasom. Quando eu fui fazer exames em uma clínica fiquei chocada com os cartazes criados pelo governo pendurados nas paredes, dizendo que revelar o sexo do bebê é crime. Conversei com o médico e ele disse que é possível saber o sexo clandestinamente por 5 mil rúpias (R$250) e fazer um aborto por 20 mil rúpias (R$1.000). E completou que ter filha mulher é motivo de depressão para a maioria das famílias.
Dia 8 de março foi o dia internacional da mulher, e umas amigas que trabalham pelos direitos das mulheres indianas na ONG Nishta, me convidarem para fotografar o evento do projeto das "single woman", que são as mulheres viúvas, mulheres abandondas, mães solteiras e lésbicas. Foi o dia da mulher mais sensacional que eu já tive!
O tema do encontro foi "Clean water is our life", começou depois do almoço e reuniu as mulheres não casadas, o que é um escandalo nessa região. As casadas, que não são nem um pouco bobas, baixaram por lá também com a criançada. Como idéia era deixar elas bem a vontade, muitas dessas mulheres escondem o rosto até mesmo dentro de casa para se proteger contra abusos dos sogros e cunhados, os homens ficaram de fora, os poucos que participaram são colaboradores da ONG. Rolou de tudo um pouco, peça de teatro, discursos, canto e muita dança. No final virou festa, todas subiram no palquinho improvisado e dançaram sem medo de ser feliz! Essas mulheres que até 20 anos atrás não aprendiam a ler e escrever, hoje tem expressão e respeito. Foi emocionante ver como organização e união podem transformar a vida de uma cidade.
A dra. Bárbara, criadora e presidente da ONG, tem planos de ir ao Brasil esse ano, e a Nishta precisa de médico voluntário para trabalhar aqui na clínica. Quem se interessar em conhecer a médica ou trabalhar como voluntária na Índia, pode me escrever e eu passo todos os contatos. Vem que tem!