por Ana Manfrinatto

Meu relato sobre o dia em que um dos maiores times da Argentina foi para a série B

Sim, eu gosto de futebol. Sou sócia do clube e tenho um ímã de geladeira com o escudo do Palmeiras que, quando apertado, faz o barulho da torcida do verdão. Também tenho uma camisa e um boneco do periquito que é o mascote do time. Outra coisa, o senhor meu namorado é um dos tantos que se esgoelaram, digo, choraram, quando o Martín Palermo jogou a última partida no estádio do Boca Juniors.

Gostando ou não de futebol, não deu para ficar incólume ao rebaixamento do River Plate. Primeiro porque a galera tava insana com o isso: uma amiga do trabalho pegou o marido engenheiro num domingo, às oito da manhã, acordado com a calculadora científica na mão fazendo contas e tentando descobrir a probabilidade do River ir para a série B.

Outra coisa: no último domingo, dia B, quer dizer, D para os gallinas ("galinhas", como são chamados os torcedores), absolutamente TODOS os canais de televisão transmitiram, durante todo o dia, o movimento ao redo do Munumental de Nuñez, que vem a ser o estádio dos caras. Vale lembrar que o cenário pós jogo era de total batalha campal - teve pancadaria, quebra-quebra, mortos e feridos.

E por mais que o comentarista esportivo dissesse na mesa redonda que muitos times grandes de todo o mundo como vááários europeus e o Corinthians já tivessem passado por isso, a tão famosa paixão argentina pelo futebol mostrou quão forte ela é. Porque além dos que saíram pra quebrar tudo, também tinha gente pacífica voltando pra casa aos prantos e zilhares de sádicos curtindo e muito a desgraça alheia.

Fato é que o que mais me chamou a atenção não foram todas as cenas de violência que eu vi na televisão. Mas sim o e-mail que um amigo FANÁTICO pelo River Plate enviou para a turma no dia seguinte ao rebaixamento. Se tratava de uma espécie de "parecer" ou "comunicado para a imprensa". No assunto do e-mail, a frase "Aqui estou eu mostrando a cara'.

Abaixo, o e-mail na íntegra traduzido por mim:

Escuto muita gente dizer que o rebaixamento do River é como a morte de
alguém próximo, de um amigo. A verdade é que eu não estou de acordo
com semelhante loucura – apesar de ter chorado a partir do momento em
que o Belgrano de Córdoba fez um gol até uma hora depois do jogo,
quando senti uma dor imensa que estará comigo durante muito tempo.

Mas, sim, estou de acordo com a marca que ganhamos neste dia 26 de
junho de 2011 e que nunca sairá de nós: é como se fosse uma cicatriz
no rosto. Mas seguimos sendo River e estamos além da série B, da C ou
da D.

Apesar de que estamos vivendo os dias mais tristes da história do
River, é incrível abraçar e chorar ao lado de tantos estranhos só
porque compartilhamos a mesma paixão. Entre tanta amargura eu levo uma
lembrança do jogo de ontem. Ainda que tantos pelotudos (idiotas)
tenham se dedicado a quebrar nosso querido Monumental.

Todo mundo é culpado, em maior ou menor medida. Do maior delinquente a
quem não pagou ingresso para entrar no clube. Mais para frente ficará
uma análise de como a AFA terminou de empurrar nosso time para a série
B e de como a polícia reprimia felizmente as pessoas pacíficas que
saíam do estádio.

Carlos Nicolas Sffaeir, sócio 23081637 do River Plate

Enfim, fica o meu intento de mostrar que os argentinos são realmente MUITO apaixonados por futebol. E que eles realmente tem dificuldade de levar as coisas na esportiva. Porque eu achava que essa coisa passional podia ser comparada com a dos brasileiros mas... no domingo eu mudei de opinião!

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