Sem perder a ternura

por Nina Lemos
Tpm #81

Wanderléa, a princesa da jovem guarda, finalmente resolve falar

Famosa há mais de quatro décadas, Wanderléa, a companheira de Roberto Carlos e Erasmo, continua, aos 62 anos, uma mulher de vanguarda. A “Ternurinha”, apelido que ganhou do Rei e que virou seu codinome, já passou por poucas e boas, mas nem por isso perdeu o entusiasmo. Prestes a lançar um disco depois de 18 anos, ela abre seu baú para a Tpm e fala de seus projetos com pique de mocinha. Nas próximas páginas, a voz feminina da jovem guarda

 

Wanderléa Salim é uma mulher moderna faz muito tempo. Desde antes de você, leitora de 20, 30 ou 40 anos, nascer, ela já sacudia o país com seu comportamento “prafrentex”. A musa da jovem guarda, colega de Roberto e Erasmo no movimento que trouxe o rock e outras revoluções para o Brasil, andava por aí de minissaia dirigindo carros esportes numa época em que as mulheres mal ousavam sair por aí sozinhas. E que era necessário alguém escrever, como seus parceiros fizeram, que “garota ir ao cinema é uma coisa normal” (de “Minha Fama de Mau”, gravada por Erasmo em 1964).

Aos 62 anos,Wanderléa continua sendo uma mulher moderna. Mora com as duas filhas, Jadde, 20, e Yasmin, 21, em um amplo apartamento dos Jardins, comprado quando ela ainda tinha 17 anos e estava no auge do sucesso. E com decoração de época. O clima na casa é animado. Suas filhas estudam artes plásticas e, toda hora, a mãe fala com elas sobre shows, filmes, novos artistas. Pede a opinião delas para tudo. Com orgulho e companheirismo. Várias vezes, durante a entrevista, as meninas sentaram na mesa com a mãe e a repórter para bater papo.

Wanderléa é casada há 28 anos com o guitarrista Lallo Correia, que administra, produz e toca na banda dos dois. Mas, de tão vanguardista, arranjou uma solução para seu casamento que faz garotas com metade de sua idade se assustarem. Depois de alguns choques – “nós dois temos personalidade forte e às vezes nos bicamos” – resolveu que o melhor era viver em casas separadas. “Ele mora no nosso estúdio. Passo uns dias lá, dou umas sumidas quando preciso. As meninas até reclamam, ficam com ciúmes.” Quando viaja, ela também prefere não dividir o quarto com o companheiro.

Curvas da estrada
No dia desta entrevista,Wanderléa estava um pouco adoentada. Pegou uma virose em um show que foi fazer no Mato Grosso. Mas, mesmo assim, estava a mil por hora. Certa hora, uma reunião para marcar um show atropelou a entrevista. Não é raro a cantora marcar compromissos no mesmo horário. Mas ela controla a confusão com jogo de cintura – e conta para a Tpm histórias da sua vida, nem sempre felizes. Algumas, na verdade, dramáticas.

No auge da fama, quando ainda era uma menina de 23 anos, teve que lidar com o choque de ver seu então noivo ficar paraplégico. Em 84, perdeu um filho de 2 anos de idade, afogado na piscina de sua casa. Em 95, teve que lidar com a morte de seu irmão em decorrência da Aids. Entrou em depressão, caiu e levantou-se. Hoje, não se abala com muitas coisas. “Se aparece um problema digo: ‘Vamos ver como podemos resolver’, e não me altero.” E se prepara, com animação adolescente, para lançar seu próximo disco, ainda sem nome definido, o primeiro de inéditas que lança em 18 anos. Com vocês, a moça que adora passar as madrugadas “fazendo um som com o marido” e que, como boa roqueira, vive na estrada. “Graças a Deus, ainda faço uns quatro shows por semana.”

Tpm.Você ficou famosa ainda adolescente. Como foi essa experiência?
Wanderléa. Não tinha noção de que o que estava acontecendo era tão importante. Não sabíamos que estávamos criando um movimento que ia mexer tanto com as pessoas. Não existia marketing na época, nada disso. Então, projetei uma imagem que era a minha mesmo. Tive uma vida muito intensa o tempo todo. Por isso, nem me lembro de certas coisas. É uma memória toda fragmentada. Mas minha família sempre esteve muito perto e na minha casa eu não era famosa. Estava na televisão e ainda morava com os meus pais, com uma família de 13 irmãos. Lá eu era só mais uma filha. Ao mesmo tempo que era superfamosa, em casa levava bronca do meu pai: “Acha que só porque está famosa vou te tratar diferente?”.

Você também ganhou dinheiro muito jovem... Eu nunca fui de ostentar. Tive meus carrões importados na época. Mas era para competir com o Roberto e com o Erasmo [risos]. Tive um Cadillac presidencial à prova de balas! Tudo por causa de uma rivalidade com os dois. Sempre quis um carro mais bonito que o deles. Pensava: “Se eles podem, também posso”. Encomendava os meus carros e, quando eles chegavam, os dois ficavam de olho, dizendo: “Olha o carro novo que a Wandeca comprou”. Era pura rivalidade de mulher com homem. Inclusive porque o meu pai também tinha uma coisa de que mulher não tinha que dirigir. Ter meu carro era uma forma de contestar. Desisti dessa coisa dos carros porque começou a me fazer mal. Passava no meu Cadillac e o pessoal com uma vida mais difícil falava: “Olha lá a Wanderléa com o seu carrão”. Isso me fazia mal, me incomodava um pouco.

    

O Roberto e o Erasmo te tratavam de forma machista? Eles eram machistas e ainda são! Como todo homem brasileiro, né? Por mais que as coisas mudem e eles sejam descolados, você pega umas coisas machistas neles. Na época da jovem guarda, o Erasmo adorava as minhas roupas modernas, dizia até que queria uma namorada que se vestisse daquele jeito. Já o Roberto ficava muito preocupado com o tamanho do meu decote [risos]. Quando eu namorava o filho do Chacrinha [Zé Renato, com quem ficou por sete anos], ele também ficava preocupado com o meu decote. Era uma coisa de pensar: “Ah, não vai ficar bem”. Mas não vai ficar bem de acordo com a cabeça deles, né? Porque todo mundo adorava.

E o seu pai também ficava preocupado na época? Ficava, claro. E principalmente com medo de eu influenciar a minha irmã mais nova. Ele dizia: “Você já está perdida, não vá levar as outras” [risos].

Desde a jovem guarda você é chamada de Ternurinha. Esse apelido já te incomodou? Questionei muito o apelido. Até que uma hora pensei: “Quer saber, querem me chamar de Ternurinha, tudo bem!” Não vou fazer uma campanha de marketing para mudar isso, ainda mais que é um apelido carinhoso. Descobri que esse nome vem muito da minha forma de perceber a vida. Sou uma pessoa de personalidade forte, sou crítica com as coisas essenciais da vida. Agora, bobagem e besteira, deixa para lá. A vida é muito rápida, efêmera. Vou ficar melindrada por causa de uma atitude de carinho das pessoas? Eu não. Agora, se quiserem achar que Ternurinha é uma coisa ingênua, tudo bem. Também tenho um lado ingênuo.

Você perdeu um filho de 2 anos (Leonardo se afogou numa piscina, em 1984). Amigos como o Roberto e o Erasmo sempre se fizeram presentes nessas horas? Sem dúvida. Somos muito amigos ainda. Quando alguma coisa dá errado, posso contar com Roberto e Erasmo. E não só na hora ruim. Outro dia teve um especial do Erasmo na televisão. Fiquei tão emocionada que liguei para ele durante o intervalo só para dizer: “Está maravilhoso!”. Vibramos muito um com o outro.

Você passou pela morte de um filho junto com o Lallo e está com ele até hoje. Essa tragédia uniu vocês? Olha, quando isso aconteceu, um amigo psicólogo disse: “Ou vocês vão se separar depois dessa ou vão ficar juntos para sempre”. Eu sempre achava que ia acabar, estava sempre acabando com tudo na minha cabeça. E ele também achava que não ia durar. E durou.

Você já teve depressão? Tive sim. Duas vezes. Quando meu irmão faleceu e na época em que o Zé Renato [filho de Chacrinha, de quem Wanderléa foi noiva por sete anos] sofreu o acidente. Naquela época tive depressão sem saber que era depressão. Fiquei muito desanimada, não queria mais saber de nada, me arrumava só por obrigação. O único lugar onde eu me animava era no trabalho. O resto do tempo, queria me enfiar embaixo da cama. Na época, não trabalhei isso em terapia. Fui vivendo. Até que um dia eu estava andando em Copacabana, vi um filme em cartaz e pensei: “Estou louca para ver esse filme”. Aí percebi que estava com vontade de fazer alguma coisa e fui valorizar a vontade. Depois, quando meu irmão faleceu [em 1996, em decorrência da Aids], fiquei com uma depressão tão forte que bateu no físico. Tive que tirar o útero. Felizmente deu tudo certo. Nunca mais tive nada.

O que você fez para ficar boa? Comecei a tratar da depressão. Descobri que não era um bicho-de-sete-cabeças. Ir a um médico, a um psiquiatra, é como ir a um médico do coração se estiver com pressão alta. De vez em quando a sua química dá uma desregulada. Acho natural hoje você procurar um especialista quando estiver precisando, mesmo tomar um remédio. Estou aberta a tudo, em todos os sentidos. Não é só reza que resolve não!

Você parece ser uma pessoa calma. É, as minhas irmãs [Wanderte e Wanderbele] falam isso. Já fui muito impulsiva, a vida me ensinou a ser mais razoável. Já vivi o auge de muitas coisas, tanto boas como ruins. Tive perdas muito dramáticas.

Essas perdas te trouxeram sabedoria? Tive uma irmã que faleceu como muita gente morre hoje, de bala perdida. Tinha 10 anos e vi o sofrimento da família inteira em relação a isso. A morte do meu pai também foi dolorida, ele era meu ídolo. Perdi meu irmão, uma pessoa maravilhosa, na época em que a Aids era terrível. Passei por um acidente com uma pessoa que amei muito, o Zé Renato. Tinha 23 anos e isso aconteceu ao mesmo tempo que alcançava um sucesso absurdo, o maior que se pode esperar. Fiquei sete anos com o Zé em cadeira de rodas... E perdi um filho. Então, hoje encaro a vida de uma maneira muito prática. Se tenho um problema, penso em como resolver. Acho que tudo pode ser contornado. Quando tem algo difícil, digo: “Gente, ninguém morreu!”. E mesmo quando morre, tem a vida do outro lado, acredito muito nisso.

Você está casada há 27 anos. É difícil um casamento durar tanto tempo... Teve uma fase em que eu achava que podia mudar o Lallo. Achava que podia mudar o outro. Isso é muito feminino e muito prepotente também. Como você vai conseguir mudar o outro? A sorte é que somos dois bicudos. Por isso deu certo. Éramos dois adolescentes quando nos conhecemos. Mas a música sempre foi uma coisa tão importante na minha vida, tão na frente, que fiquei um pouco imatura, não tive tempo para namorar direito. Então, entrei nesse relacionamento muito imatura. Tivemos muitos problemas. Ele nunca me cerceou em nada, mas tivemos muitas brigas, aquela coisa de quem vai dar a última palavra...

E como fizeram para superar isso? A gente tentou se separar várias vezes, mas nunca conseguiu. Hoje, moramos em casas separadas. Chega um momento em que você percebe que tem um grande companheiro, uma pessoa que tem a ver com a sua maneira de enxergar a vida, uma pessoa de caráter. Isso vale muito. Para mim não interessa status, nada disso. Pode ser pintado de ouro. Mas se não tiver caráter não quero saber, sou radical nesse sentido.

Como é ser casada morando em casas separadas? Há muito tempo moramos assim. Nos aceitamos. Fizemos um estúdio que é o nosso refúgio, e é onde ele mora. Engraçado é que as meninas reclamam. Dizem: “Mãe, você fica muito lá com o pai”. Eu digo para elas: “Ainda bem que é com o pai de vocês, né?”. Nós conversamos muito. E, um casal que está junto há tanto tempo, quando ainda tem muito o que conversar, é pra ficar junto mesmo. Encontramos uma fórmula de não ser um casal careta. Até quando viajamos para os shows não dividimos o quarto. Fazemos isso porque, quando estamos viajando, é trabalho. Ele tem que afinar a guitarra, ver a seqüência do show. Eu estou lá para cantar. Faço meu alongamento, cuido da minha voz. Ele gosta do ar-condicionado alto, eu prefiro desligado, por causa da voz. É o jeito de cada um. Que ele seja do jeito dele e eu, do meu. A gente aprende isso na prática.

Você imaginava que fosse ficar casada por tanto tempo? Estava grávida, com 37 anos, e pensava: “Acho que não é a hora ainda”. A minha mãe, muito gracinha, chegou para mim e disse: “Se você quer ter um filho, a hora é agora, tenha”. Você vê, eu, com 37 anos, ainda me achava muito jovem para ser mãe! Tive aquele filho, perdi aquele filho, fiquei desestruturada. Mas em seguida Deus me deu duas meninas lindas [Yasmin, hoje com 21 anos, e Jadde, com 20].


  

Você ficou 18 anos sem gravar. Isso te deixou chateada? De jeito nenhum. Nunca parei de trabalhar e queria fazer o disco que eu queria. Tive vários convites, mas, quando chegava à gravadora, falavam: “Agora está na hora da lambada, você pode lançar também um disco de lambada” [risos]. Como eu não queria entrar nessa onda, fiquei calada, na minha. Mas dentro de casa estava fazendo música, e na maior alegria, tocando com o meu marido, me preparando para esse novo disco. A gente brinca de trabalhar o tempo todo aqui em casa. Quando me convidaram para gravar e me disseram que eu podia fazer o que quisesse, pensei: “Oba, agora vou lançar aquilo que já venho fazendo há tanto tempo”. Estou bem feliz com minha carreira, num daqueles momentos bons, sabe? Gravei um DVD lindo este ano, no Auditório Ibirapuera, vai sair em alguns meses.

Como é o disco novo? Canto só coisas de que gosto. Tem Egberto Gismonti [compositor do Rio de Janeiro, famoso na época dos Festivais, no fim dos anos 60], tem tudo que fez parte da minha história. Ainda não defini o nome, mas a música de trabalho maravilhosa que o Gonzaguinha fez para mim diz: “Eu apenas queria que você soubesse que essa ternura não ficou na estrada”. Lindo, não? Gravei também um samba rock, surpresa para o Roberto e para o Erasmo. Uma música deles, mas que não chegou às minhas mãos por eles. Quando a Nara Leão estava viva, ela recebeu um samba do Roberto e do Erasmo chamado “Samba da Preguiça”. Ela o cantou uma vez num pub e disse que era deles. E o DJ Zé Pedro tinha essa gravação! Ele é amigo do produtor do meu disco e um dia me disse que ia ser ótimo se eu gravasse a tal música. Achou então uma fitinha toda antiga, arrebentada, e me deu.

As suas filhas acompanham o seu trabalho? Completamente. Foram criadas vendo a gente fazer música. E são as ouvintes mais exigentes que uma pessoa pode ter. Elas entendem mais de música do que eu. Por isso, quando ouvem e dizem “mãe, está bom”, é porque está. O crivo delas é muito exigente. Então, quando a família adora, a gente fica mais tranqüilo.

Ter duas meninas de 20 anos em casa te ajuda a ficar ligada nas coisas que estão acontecendo hoje? Sim, você se recicla, aprendo muito com elas. Não sou nada nostálgica. Vivo o hoje intensamente. E elas me ajudam muito nisso. Acho horrível gente que fica parada falando: “Só a minha época é que era boa...”. Ouço muita coisa nova.

Como você lida com o envelhecimento? Lido com facilidade, graças a Deus. E acho que quem quer esticar um pouco a vida aqui neste planeta precisa se cuidar desde a mocidade. Sem nenhum radicalismo, mas tomar cuidado com a alimentação, essas coisas. Procuro passar isso para as minhas filhas. E tem o emocional... Viver na negatividade faz mal, sentir muito medo também faz mal...

Você já teve crise de idade? Tive, quando fiz 30. Quando percebi pela primeira vez que o corpo mudava. Quando a gente é muito jovem, acha que não muda nunca. Hoje, me orgulho de ter 60 e estar bem. Quando eu era criança, achava que depois dos 60 anos só faria crochê. Adoraria fazer crochê, mas não tenho o mínimo jeito para isso [risos]. Quem adora e faz muito bem é a minha filha de 20 anos.

O que você faz para manter a forma e estar bem até hoje no palco? Tenho uma vitalidade muito boa para a minha idade e gosto de me cuidar. Mas nunca fui fanática por isso. Sempre falo que vou entrar na academia e não entro. Agora uma das minhas filhas diz que vai me levar para fazer Pilates, vamos ver. Só não abro mão da minha massagem ayuvérdica [técnica milenar hindu], disso eu realmente gosto. E o prazer que tiro do trabalho me mantém com um espírito jovem, o que é fundamental.

O que você acha do fanatismo atual por cirurgias plásticas e botox? Acho que mulheres como a Cássia Kiss, que tem uns 50 anos e nenhuma plástica, são belíssimas. Assim como a Fernanda Montenegro é linda. Agora, se tem alguma coisa que atrapalha muito a vida de uma mulher, que incomoda demais, sou a favor de ir lá e arrumar. Mas sem mudar a cara, a expressão, senão vira outra pessoa. O principal, para mim, é manter a saúde.

Você pensa em se aposentar? Artista precisa se expressar sempre. Se eu parar de trabalhar, fico louca. Esta semana tenho quatro shows. Quando faço poucos, são dois por semana. E mulher tem sempre a jornada profissional, que ela conquistou, tudo bem, já sabemos. Mas não esqueça que ela tem a familiar também. No meu caso, por sorte, tenho um marido que sempre foi um pai de acompanhar, de pegar na balada, essas coisas. Isso ajudou muito, porque ter duas filhas adolescentes e uma carreira não é fácil!

Você considera ideal o nível de sucesso que tem hoje? É muito bom, porque não tem mais aquela correria. Posso andar na rua tranqüila, mesmo que as pessoas ainda me parem bastante. As meninas vêm falar comigo e dizem: “Minha mãe te adora!”. Tudo com muito respeito. Esse respeito é uma coisa que conquistei por ter feito sempre tudo do meu jeito, sendo eu mesma. E é isso que eu penso: fundamental é ser você mesma.

Abaixo, texto da Wanderléa publicado na Status, em 1985, revista para a qual posou grávida

“É lindo esse momento em que a mulher é mais que bonitas formas, símbolo erótico, gata sensual ou qualquer outro estereótipo do gênero. Em que seu corpo se transforma para a feitura de outro ser, na grande mágica de multiplicação da gente. Fico com a maior disposição e no maior astral. Quando em você habita outro, sua aura é mais brilhante. E o brilho do novo é sempre maior do que o nosso. Ficamos mais perceptivas, nossa sensualidade aumenta, somos gatas no cio. Se temos como cúmplice um companheiro amoroso, curtindo, aprovando, aguardando, na certa serão nove meses de gostosa lua-de-mel. Minha avó, na gravidez anterior, reprovava minha alegria ao exibir a barriga aos parentes, aos meus irmãos; para ela, gravidez é um estado meio santificado e meio vergonhoso, talvez por ser a constatação do pecado cometido, e por essa percepção da maternidade estar ligada à repressão religiosa que distorce a sensualidade, algo necessariamente natural, livre e sadio. Estas fotos flagram o meu momento de maior beleza. Hoje me sinto quase livre. Preciso ser e fazer tudo de maneira melhor, mas não mecobro. Busco meu caminho, mas não determino os acontecimentos da estrada.”

 

Créditos

Imagem principal: Rui Mendes

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