O que a gente aprende na infância não é brincadeira. Freud cansou de dizer isso!
Somos da geração que leu, encantada, os livros infantis de Monteiro Lobato. Da turma que se deliciou com A Chave do Tamanho, que brincou de ser a Narizinho, que ria com a Emília e que adorava ver o Sítio do Picapau Amarelo na televisão todas as tardes.
Somos também da geração que teve crianças entre o fim do século passado e o comecinho deste. E que, voltando àqueles livros, depois de adulta, se sentiu muito incomodada com os absurdos ditos ali, que simplesmente passavam batido na nossa infância. Monteiro Lobato foi um gênio, um grande escritor. Mas o cara era racista e isso fica muito evidente hoje. Somos da geração e do tipo de mães que não consegue entregar às nossas filhas os livros de Lobato sem avisar ou comentar algumas coisas. Que chamar uma pessoa de “macaca” ou “pretura” ou “beiçuda” não é nem um pouco legal. É crime, aliás. E que ser negro não é ser bicho, nem ignorante, nem inferior. Coisas básicas hoje em dia, mas que, infelizmente, ainda são vistas e ouvidas por aí.
O assunto tem feito barulho no Twitter nas últimas semanas. O parecer do Conselho Nacional de Educação recomendou que o livro Caçadas de Pedrinho tenha notas explicando que aquele racismo contra a Tia Nastácia podia até ser aceitável naquele tempo, mas não o é agora. E que seja comentado criticamente por quem utilize a obra em sala de aula. Não é veto. Não é censura. É cuidado. Assim como, na nossa casa, a velha coleção verdinha do Sítio não desce da prateleira sem um comentário. Quem já fez um pouquinho de análise sabe: o que a gente aprende na infância não é brincadeira.
Vai lá: verbeat.org/blogs/sergioleo/2010/10/o-racismo-de-monteiro-lobato-e-o-primarismo-dos-fas.html