Pesquisas inglesas, chocolate e minha avó

por Mariana Perroni

Questionamentos sobre notícia reproduzida por inúmeros jornais brasileiros nessa semana

 

Vou reproduzir na íntegra a notícia que encontrei em um portal de saúde gringo nessa semana e foi reproduzida por inúmeros jornais aqui:

"De acordo com um novo estudo, andar por 15 minutos diminuiu quase pela metade a quantidade de chocolate que as pessoas comem"

"Sabemos que consumir snacks altamente calóricos, como o chocolate, durante o trabalho pode se tornar um hábito que leva ao ganho de peso ao longo do tempo, disse o pesquisador Adrian Taylor, professor da Universidade de Exeter no Reino Unido.

Taylor e seus colegas fizeram uma pesquisa para determinar se a atividade física pode reduzir o desejo por chocolate. Eles solicitaram que 78 pessoas viciadas em chocolate ficassem sem comer seus bombons por dois dias. E dividiram-nas em quatro grupos:

Dois grupos faziam uma caminhada rápida de 15 minutos em uma esteira, e deviam, então, completar uma tarefa, sentados em uma mesa, em um ambiente de trabalho simulado. Para um grupo, a tarefa era fácil. Para o outro, era mais complexa. 

Os outros dois grupos descansavam antes das tarefas atribuídas, ao invés de andar na esteira.

E uma caixa de chocolates foi colocada ao alcance de cada participantes, enquanto eles desenvolviam seu trabalho.

Os pesquisadores descobriram que as pessoas que tinham dado a caminhadinha comeram, em média, cerca de 15 gramas de chocolate, ou o equivalente a uma  pequena barra de chocolate. Enquanto isso, o grupo descansando comeu cerca de 28 gramas (duas barras).

Os resultados também mostraram que a dificuldade das tarefas não fez nenhuma diferença na quantidade de chocolate que comiam, o que sugere que o estresse não contribui para o desejo por chocolate, de acordo com os pesquisadores.

'Muitas vezes sinto que comer porcarias calóricas pode nos dar energia, nos ajudar a lidar com o stress de nossos trabalhos e até mesmo com o tédio', disse Taylor. 'As pessoas geralmente acham difícil reduzir essas 'recompensas' diárias, mas este estudo está aqui para mostrar que, ao dar uma curta caminhada pelo prédio, elas são capazes de diminuir isso pela metade.'

O estudo será publicado em fevereiro."

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E esse é estudo que vai sair em um respeitável periódico dedicado à neurociência do consumo dos alimentos e a elucidar as bases do comportamento humano e animal em relação à comida e perturbações alimentares. Um estudo que gastou o tempo de 78 pessoas (sem contar a equipe pesquisadora), envolveu aluguel de esteiras, compra de caixas de kitcat, um orientador, o trabalho de um estatístico e dias e mais dias de redação por algum pobre estagiário que deve ter precisado revisar isso incontáveis vezes. Num mundo em que ainda há desnutrição e fome (falta de comida também é perturbação alimentar, não?) e inúmeras questões de saúde mais importantes a serem resolvidas, mas não tão interessantes e patrocináveis. 

Tudo isso para descobrir o que minha avó falava desde sempre: sempre que vc sentir que vai fazer besteira, saia pra dar uma voltinha.

(meu twitter: @mperroni)

 

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