Filha de Nelson Rodrigues lança “autobiografia” póstuma do pai e fala sobre suas heroínas
Para organizar Nelson Rodrigues por ele mesmo, Sonia se dedicou por dez anos à pesquisa de fragmentos de textos e de entrevistas feitas com o pai. Ela garante que o livro traz um tom rodriguiano autêntico, que aborda da infância do escritor aos bastidores da criação de seus textos polêmicos. “Ele observava os acontecimentos sem preconceitos, por isso transformava a vida em arte. É raro encontrar um homem que se mostre tanto como meu pai se mostrava.”
Como você caracteriza as personagens femininas de Nelson Rodrigues?
Sonia. Os depoimentos de meu pai mostram que ele, um homem infiel, conseguia ser de uma fidelidade absoluta aos personagens e suas histórias. Acho que vêm daí as mulheres poderosas, passionais – e nem sempre bemsucedidas no amor – que ele trouxe para sua obra. Ali está a que perdoa, a que mata, a que trai, a que se destrói por amor, por inveja, por ciúme, às vezes levando tudo à volta. Estão também as que se dão bem, traindo os cretinos fundamentais ou levando na esportiva homem bom de cama e apaixonado.
Qual sua opinião sobre a traição? Eu me considero filha de um grande amor que durou anos, rendeu três filhos fortes, algumas peças de teatro e muitos contos de A vida como ela é. Respeito a opinião de quem considera que amor fora do casamento é traição, mas eu não penso assim. Concordo com meu pai que “no amor a gente não faz o que quer, a gente faz o que pode”.
Vai lá: Nelson Rodrigues por ele mesmo, ed. Nova Fronteira, R$ 34,90