Para meninos e de meninas

por Juliana Sampaio
Tpm #107

Sugestão: Saiu há poucos meses a primeira tradução para o livro da inglesa Mary Wollstonecraft

Chegou o mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher. Entra ano, sai ano, recebemos botões de rosa e mensagens que celebram a nossa doçura e beleza. Então, pra variar e aproveitar a data, sugerimos a leitura de uma protofeminista old school. Saiu há poucos meses a primeira tradução brasileira para o livro A Vindication of the Rights of Woman, da inglesa Mary Wollstonecraft. O trabalho é de Ivania Pocinho Motta e traz também uma análise do livro escrito há nada menos de 218 anos. E de que falava Mary?

Wollstonecraft viveu numa época de ideias revolucionárias na Europa, em que se falava apaixonadamente de igualdade, fraternidade e liberdade. Mas essa mulher de comportamento anticonvencional percebeu que o tal trio de ideias humanistas só se aplicava aos homens, numa espécie de Clube do Bolinha iluminista. Às mulheres caberia obedecê-los, sendo dóceis, charmosas, agradáveis, belas e dedicadas somente às funções de esposa e mãe. Mary propôs então algo diferente, dizendo que as mulheres eram seres humanos que mereciam os mesmos direitos fundamentais dos homens. Ela criticou a (pouca) educação dada às meninas de seu tempo e escreveu que só mudando esse sistema elas poderiam ser algo além de enfeites dos homens. Algo bem básico hoje em dia, mas que naquela época ia contra as ideias do respeitado filósofo Rousseau, por exemplo.

O incrível é que tem gente que ainda acha que meninos e meninas devam ser criados de forma diferente. É só reparar nas propagandas de brinquedos de hoje para ver que o livro escrito pela inglesa do século 18 ainda faz sentido.

Mary Wollstonecraft viveu só 38 anos, escreveu muito e teve duas filhas. Uma delas virou Mary Shelley, aquela que escreveu Frankenstein, a história do homem que criou um monstro. Aliás, dois. Mas essa já é outra Mary, outra mãe, outra história.

Vai lá: A Importância de Ser Mary: Análise e Tradução de A Vindication of the Rights of Woman, de Mary Wollstonecraft. Tradução de Ivania Pocinho Motta. Annablume, 2010

 

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