Olhares para sorrisos

por Tania Menai
Tpm #129

Se um indiano casa com uma vietnamita, qualquer um pode se entender

Se um indiano casa com uma vietnamita e um paquistanês casa com uma norueguesa, qualquer um pode se entender

Meu amigo Dan Loh, aqui em Nova York, ganhou o Prêmio Pulitzer, o prêmio máximo do jornalismo nos EUA, pela foto que tirou da então desconhecida Monica Lewinsky em 6 de abril de 1998. A foto rodou o mundo no dia seguinte, mostrando a cara da misteriosa estagiária do presidente Bill Clinton. Mas se você acha que Dan, a esta altura, chefia o departamento de fotografia de alguma grande revista, engana-se. Ele fotografa casamentos. E, nesta cidade, isso significa cerimônias e festas de indianos, judeus, gays, muçulmanos, luteranos e tudo isso misturado. “Adoro captar a beleza do melhor de ambas as culturas, se harmonizando e criando uma nova família. É sempre bonito de testemunhar”, diz ele.

Esse é o caso da união entre Chelsea e Alnawaz (ou Al, para os íntimos), uma americana e um indiano, os noivos da foto, feita em 2011. Dan lembra que, na época em que trabalhava em redações, os fotógrafos se reuniam para contar sobre a imagem mirabolante do dia. Mas os fotógrafos da sua área atual discutem quantas cifras fizeram na última festa. Sim, casamento vale muito, muito dinheiro – porque casamento... vale. E ninguém melhor para fotografá-lo do que fotojornalistas, profissionais com olhares atentos para aqueles segundos que não voltam.

Casamento é um rito de passagem. A união entre duas pessoas que se amam ainda é valorizada – o que reflete nos preços de cada detalhe. Os guardanapos, as flores, o terno, o vestido, o bolo... ah, o bolo. As damas, as alianças, o vídeo, os canapés, o padre, os presentes, a lista de convidados, a música, as bebidas. Que fortuna. Ainda assim, há quem discuta se casar vale a pena. Afinal, se a festa acaba com qualquer poupança, imagine um terapeuta de casal e – pior – um advogado de família. Na verdade, talvez casamento não seja para todo mundo – assim como a paternidade e a maternidade também não são. Casamento é para quem gosta de estabilidade e para quem está louco para ter uma família. Por favor, não case se esse não for o seu barato. Sai caro.

Exercício diário

Morando nos EUA, vejo a luta dos homossexuais para adquirir esse direito – sem ele, os casais não podem comprar casas juntos, não podem incluir o parceiro no seguro-saúde nem deixar herança para o que fica. Dito isto, casamento é uma dádiva que deve ser apreciada. Mas, ao mesmo tempo, é um exercício diário, um compromisso, uma jornada maravilhosa, e longe de ser perfeita. Se, aqui em Nova York, um indiano casa com uma vietnamita, um judeu com uma muçulmana e um paquistanês com uma norueguesa, qualquer um pode se entender. E, se você for encarar o desafio, procure um fotojornalista para registrar a sua festa. A Renata Xavier fotografou a minha, no Rio de Janeiro. E eu amei. Mazal tov!

Vai lá: danloh.com; www.renataxavier.com.br

Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com

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