O Mississipi brasileiro

por Tania Menai
Tpm #119

Por que no Brasil ainda existem mães andando na rua com a babá empurrando o carrinho?

No mês passado, um relato no jornal carioca O Globo, escrito por Arnaldo Bloch, foi assunto de todas as rodas. Ele conta um episódio presenciado pelo roteirista (e meu amigo) Rafael Dragaud no shopping Fashion Mall, em que uma babá de três crianças foi abordada por um segurança por não estar uniformizada. Agora vamos por partes. Primeiro: quem decide se a babá veste ou não uniforme são ela e a patroa. Segundo: onde estão os pais das crianças em plena hora de lazer? Essa pergunta eu já fiz nesta mesma coluna em 2007 (e não em 1887). E continua sem resposta.

A comparação é inevitável, principalmente porque me tornei mãe em Nova York. Aqui, existem babás. Elas chegam no minuto em que a mãe sai para trabalhar e vão embora no segundo em que a mãe ou o pai pisam em casa. O mesmo vale quando os pais saem à noite. Não existe uma mulher estranha dormindo na sua casa. Não existe a coexistência mãe e babá. Não existe uma mãe no pediatra acompanhada por uma babá. Muito menos jantando num restaurante ou viajando com a família. E não existem mulheres de branco. Cada uma trabalha com a sua roupa.

No Park Slope, bairro com a maior concentração de crianças de Nova York, só se vê uma mãe andando com uma babá ao lado quando está sem o marido e tem trigêmeos pequenos, porque ela tem apenas dois braços.

O que se vê são pais que participam mais. Mães que acordam de madrugada. Pais que levam as crianças ao teatro, ao futebol. Pais e mães que trocam fralda, dão banho, dão comida. Sim, pais e mães exaustos, com olheiras, com a casa do avesso. Mas que sabem que aquela é uma fase que passa – e rápido. E que um segundo perdido longe do filho pode ser um a menos de sorriso, de choro, de aprendizado, de descobertas, de primeiras vezes, de amor. Um segundo a menos, quem perde são os filhos e os pais. Quem ganha dinheiro é a babá e a tal “folguista”, palavra sem tradução para o inglês. A profissão não existe aqui.

Maternidade assistida

Não se trata de poder, ou não, pagar uma ajudante. Trata-se de curtir a maternidade, com todas as coisas boas e não tão boas. A coluna de O Globo saiu no mesmo mês em que The Help (pessimamente traduzido para Histórias cruzadas) entrou em cartaz no Brasil e Octavia Spencer levou o Oscar de melhor atriz coadjuvante. São poucos os cariocas e brasileiros que dividem a visão do filme e da coluna. The Help se passa na década de 50 no Mississippi, uma das regiões mais atrasadas e racistas dos Estados Unidos, e mostra o preconceito contra as empregadas domésticas. Os americanos se envergonham dessa parte da história. O Brasil ainda caminha para sair dela.

Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 15 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, no site da Tpm e também do site Tania Menai 

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