por Nina Becker
Tpm #76

Cada uma na sua, Ana e Catarina agitam a cena musical recifense

Ana comanda os bastidores de um festival, uma revista e um site. Já Catarina faz a pista suar com seu punk, brega e disco. Cada uma na sua, elas agitam a cena musical recifense

Equipe Coquetel Molotov: Ana Garcia (à esq.), Jarmeson de Lima e Tathianna Nunes; Ana com a filha, Diana, de 8 anos

Ana Garcia tem 27 anos, uma filha de 8 e edita a Coquetel Molotov, revista que nasceu como uma rádio universitária em Recife e se desdobrou em outras operações. Com Tathianna Nunes e Jarmeson de Lima, Ana produz o festival No Ar Coquetel Molotov, em Recife (este ano acontece em setembro), e coordena um site (www.coquetelmolotov.com.br) de novidades musicais, dicas e entrevistas. O projeto inclui os selos Coquetel Molotov Discos e Bazuka Discos, produção de turnês e parcerias, por exemplo, com a marca de roupas sueca Cheap Monday. Eles apresentam artistas independentes de vários lugares do mundo e fazem um trabalho de curadoria cujo critério mais importante é gostar.

Que diferença faz ser mulher na sua função? Sou chata, direta e não deixo ninguém passar por cima. No começo tive até produtor olhando para a minha bunda, não dá para ser fofinha. Vejo poucas mulheres nessa área.Sinto falta de vê-las fazendo coisas assim.

Que sentimento envolve um projeto como esse? Afeto. Nós choramos no festival, nos emocionamos com o que conseguimos. Mas somos pé no chão, temos que fazer as coisas acontecerem.

De que forma Recife contribui com vocês? É uma cidade pequena, está sempre fervendo de gente legal, bandas novas e tem como saber tudo o que acontece. Temos apoio governamental, mas dificuldade em conseguir patrocinadores.

Artistas se espantam ao verem uma menina jovem organizando isso? Sempre. Começam pensando que sou a babá da banda. Demorou dois anos pra aprendermos a nos relacionar com isso nas produções. Já houve até casos de paixões, mas agora não acontece tanto.

Como define o “complexo-vitamínico” Coquetel Molotov? Uma bomba sonora!

Qual a melhor novidade da música no Brasil atualmente? Eita... Catarina!

Quando vi Catarina, 29 anos, pela primeira vez, a moça de Olinda estava arrasando na pista, no posto de DJ. O que mais me chamou a atenção, além da sua atitude desencanada, do vestido colorido com uma mistura de estampas inimaginável e um arranjo de penas azuis na cabeça, foram as capas dos vinis, que ela fazia questão de exibir, apoiadas na frente dos pickups. Eram discos antigos de música brega cujo conteúdo fazia as pessoas chacoalharem na pista calorenta do verão recifense. Com isso ela mistura punk, disco music e rock 80 e mostra um pouco do universo musical que inspira as suas primeiras composições, que em breve serão lançadas em um disco.

 

Catarina, a Dj que gosta de uma mistura inusitada, dos trajes à música: brega underground, punk, disco e rock dos anos 80

O que te motiva a tocar esse repertório e compor? Qual o sentimento envolvido? Afeto. Quero sempre fazer analogia entre todas as coisas de que gosto. Coisas sofisticadas com outras mais desleixadas, sonoridades diferentes.

Alguns homens ficam surpresos ao ver uma menina bonita e com atitude mandando ver no som? Já escutei coisas como “ah, ela não tem muita técnica”, mas eles não têm uma coisa que a gente tem demais, que é carisma. A gente tem atitude, espontaneidade, e isso encanta.

Em que tem trabalhado ultimamente? Estou finalizando o meu disco, produzido pelo Sunga Trio, e compondo novas canções.

O que você tem ouvido? Gosto do último disco da MIA, Kala. E aquela negona ótima, Betty Davis, ex-mulher de Miles Davis e uma das precursoras do funk americano.

Qual a melhor novidade da música no Brasil? O Catatau [Cidadão Instigado]. Não é tão novo, mas ainda está sendo descoberto. E as bandas de brega underground.

E a pior? Todos os subprodutos de música americana meio emo, que as gravadoras ficam repetindo.

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