Nem rosa, nem azul: por um Natal com brinquedos gender free

por Nina Lemos

Compre para sua sobrinha um puta carro, um conversível. Melhor: compre um caminhão!

Há cinco anos, decidi dar um carrinho de presente pra uma sobrinha. Isso porque ela roubava os do irmão e achei que, ao invés de pegar carona, devia ter o próprio. Rodei lojas, fiz pesquisas, tudo tentando achar um carro fofo para ela que não fosse como os do irmão. Achei um roxo para bebês. Ela amou. Mas pensando agora, acho que fui boba.

Por quê? Acho que me levei pelo conto de que roxo e rosa são cores de meninas. Uma maldição do mundo infantil. Se fosse hoje, compraria um carrinho "de menino" mesmo. Azul, verde, vermelho, amarelo. Ou melhor, um carrão! E te convido para fazer isso nesse natal: compre para sua sobrinha um puta carro, um conversível. Melhor: compre um caminhão! Ou um esportivo de controle remoto.

Para o seu sobrinho, bem, acho que os homens precisam, por exemplo, se tocar de uma vez por todas que precisam dividir as tarefas, e por isso, que tal comprar um lava louça rosa e um escorredor roxo?!

Mas porque tem que ser dessas cores? Porque só existem dessas cores. Eu mesma chequei. E por mais que algumas marcas de brinquedos tentem se esforçar, o recado ainda é claro: as meninas são belas, recatadas e do lar. E os meninos aventureiros, policiais, bombeiros.

Tive dificuldade de comprar o carrinho cinco anos atrás. E também escrevi sobre isso na época. Cinco anos se passaram. O feminismo virou mainstream. Até a Cristian Dior abre seu desfile com uma camiseta escrito: “toda mulher devia ser feminista” e mulheres como Madonna e Beyonce jogam a mensagem do feminismo para o mundo, assim como as novas estrelas de Hollywood. As meninas tomaram conta das ruas do Brasil inteiro gritando: “nem bela e nem do lar, a mulherada está na rua para lutar”. Só que… nas seções de brinquedos, pouco mudou.

Existem, sim, iniciativas esparsas no mundo. A marca Top Toy, da Suécia, lançou em 2012 uma linha gender free (gênero livre) e parou de catalogar os brinquedos como “de meninos” e “de meninas”. O catálogo da marca é demais e mostra, por exemplo, menino penteando o cabelo de uma menina. Não deixei de soltar um: “Ai, que fofo!”. 

Nos Estados Unidos, o comitê de Mulheres e Crianças da Casa Branca fez um estudo sobre brinquedos e gêneros e concluiu que os brinquedos hoje são mais diferentes para gênero do que eram 50 anos atrás! Isso quer dizer: existe mais distinção entre o que serve para meninas e o que serve para meninos. O mundo pink, segundo estudiosos, começou a ficar forte nos anos 80, passou a ser percebido nos anos 2000 e agora tomou conta de tudo.

Cabe a nós pressionar e bagunçar essas regras! 

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