Está mais fácil arrumar namorado(a) ou médico hoje em dia?
Um dia desses, ao entrar numa loja, presenciei uma funcionária comentando que iria embora mais cedo pois tinha a primeira consulta no médico e queria ter tempo para tomar um banho e se arrumar. É engraçado perceber como há semelhanças no processo da busca de um parceiro e um médico: ambas se iniciam com o primeiro encontro com um potencial parceiro(a), passando por conhecê-lo(a), estabelecer uma relação e, eventualmente, passar pela dor do fim dela. Já é consenso em toda mesa de bar e assunto em muita copa de escritório que arrumar alguém para um relacionamento está cada vez mais difícil. Mas será que acontece o mesmo ao se procurar um médico(a) para cuidar de nós?
Se você já achava a busca pelo amor difícil o suficiente, tenho algo não muito legal para contar: não está fácil entregar o coração para ninguém. Em nenhum dos sentidos. Uma pesquisa grande realizada no mês passado nos EUA (novidade...) demonstrou que, para 14 milhões de americanos, é mais difícil achar um médico que os satisfaça do que um namorado(a), marido ou esposa. E, mesmo para os que já encontraram um, o filme também não tem um roteiro tão romântico e colorido a ponto de ser estrelado pela Zoey Deschannel ou o Jake Gyllenhaal: só 21% acham que ele é o "médico de sua vida" (figurativa e literalmente. afinal, a gente cuida de vidas mesmo), 31% acham que a relação é simplesmente ok e todo o resto está considerando procurar um novo médico "parceiro" para se relacionarem.
Outros dados interessantes foram verificados:
- Entre um médico detentor da mais avançada tecnologia e currículo mais brilhante mas com tempo muito limitado para interagir com o paciente e outro com menos tecnologia, mas com tempo disponível para o olho-no-olho, quem ganha? O último (71% de preferência). Não só isso: 78% preferem ser atendidos num consultório menor e mais íntimo por um profissional que realmente os ouça a serem vistos numa clínica grande, por um médico absolutamente gabaritado, com pressa e que mal se preocupa de saber o nome de quem está atendendo.
- Houve o tempo em que as pessoas preferissem um médico homem e mais velho. Hoje em dia, em geral, tendem a escolher alguém do mesmo gênero. Entretanto, isso se altera conforme a faixa etária: Mais da metade dos pacientes de 18-34 anos preferem médicas, o que diminui para 44% naqueles com idade superior a 55 anos (resquício de tempos de preconceito, talvez. Eu mesma já sofri com isso).
Aqui no Brasil, imagino que o processo de achar o "médico da sua vida" seja mais difícil ainda. Com as peculiaridades do nosso sistema de saúde, pulamos de especialista em especialista. Afinal, aqui é um dos pouco lugares do mundo em que vc acorda com uma dor de cabeça e marca consulta em um neurologista, ao invés de procurar um clínico, que provavelmente resolveria o problema. Com isso, os consultórios de especialistas ficam lotados de casos simples e com espera de 3 meses para uma consulta.
Eu sou a favor de que todos tenham um médico clínico bom. Ele, provavelmente, resolverá 85% dos seus problemas e saberá a que profissional te direcionar naquilo que ele não for capaz de resolver, evitando perda de tempo e dinheiro. E, antes que comece o apedrejamento gratuito, tem clínico bom no SUS sim, especialmente nos locais ligados a programas de residência em Clínica Médica. Mas não vou me alongar nesse tema, pois isso é assunto para outro texto.
O que importa é que a analogia com a vida sentimental é válida: pular de bar em bar ou festa em festa pode até te arrumar companhias e resolver suas necessidades mais imediatas. Se é exatamente isso que você quer, tudo certo... porque dificilmente vai ser possível estabelecer relacionamentos ricos, profundos e sinceros com todos eles. Guardadas as devidas proporções, com médicos, acontece a mesma coisa se você pular de consultório em consultório, dependendo do sintoma. Eleja um e confie nele. (Cabe, aqui, esclarecer que me refiro a pular de médico em médico dentro da mesma grande área. Porque não vai adiantar você pedir para o ortopedista investigar sua anemia ou para o ginecologista tratar sua miopia, nem chegar no meu consultório e pedir que eu opere suas pedras na vesícula).
Bom, esse texto não tem conclusão. Assim como não existe a fórmula que define o "médico encantado". Homem ou Mulher? Gabaritado ou Low-profile? Mais novo ou mais velho? Sinceramente, não sei. A boa notícia é que pode existir o médico ideal para você. E, se minha experiência permite dizer algo, não vai ser o currículo dele(a) que vai te conquistar ou te manter fiel ao relacionamento. Você pode errar na escolha? Claro. Somos todos humanos, antes de tudo. O importante é continuar tentando. Porque nada é mais importante do que sua saúde. Ainda mais porque é só com ela íntegra que você vai sentir frio na barriga de encontrar alguém especial e que te fará bem na vida. Seja no campo que for.
**Se interessar, já escrevi sobre cinco razões que acho dignas para você "terminar" com seu médico aqui na Tpm.**
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