Na folia com o Moacir

por Ana Manfrinatto

Tcheu contar quem é o brasileiro que fez a alegria do meu carnaval aqui em Buenos Aires


Ano passado eu
expliquei aqui Nos Ares que carnaval em Buenos Aires tem mas acabou. A única vantagem é que, desde 2011, a presidenta Cristina Kirchner incluiu a segunda e a terça no calendário oficial de feriados. 

Como boa carnavalesca que sou, ontem eu passei o dia chinchuda (borocoxô, algo irritada) porque não pegaria trânsito pra descer pra praia, não desfilaria em São Paulo na sexta, não iria pro Rio no sábado de manhã, enfim, no folia for me.

E como eu saí a semana inteira, ontem saí do trabalho, comprei um celular (uma epopeia que depois eu conto) e vim pra casa ficar de boa. O que eu não sabia era que o meu namorado estava me esperando com um DVD de um tal Moacir.

Quem é ele? Eu conto: um brasileiro que mora há 30 anos na Argentina e que, diagnosticado com esquizofrenia paranoica, passou 15 anos internado no hospital psquiátrico Borda. E que embora seu caso parecesse crônico, obteve alta e agora mora numa pensãozinha perto de Constitución, um bairro portenho.

Por quê um DVD? Sigo explicando... 

O Moacir dos Santos é um talentoso cantor, compositor e passista de escola de samba. Só que ele nunca teve possibilidade de demonstrar tudo isso. Até o documentarista argentino Tomás Lipgot resolver retratar o dia-a-dia de Mocir e, de alguma forma, apostar no futuro do seu personagem.

Para isso ele convidou o músico – também argentino – Sergio Pángaro, quem aparece no documentário como produtor do grande sonho do Moacir. Eles ensaiam, vão à Embaixada do Brasil em Buenos Aires conhecer a Velha Guarda da Portela, se unem à Renato dos Santos, sambista famoso daqui, uma delícia. 

E o filme, tal qual relata a sinopse, é um retrato do périplo apaixonado de um homem que se bate entre os fantasmas da marginalidade e da loucura para fazer com que a sua voz seja ouvida. 

E ele consegue! Já que a sua história é de chorar, às vezes é de dar risada e, sobretudo, de dançar: não consegui assistir ao filme parada. Sem falar que encontrar um personagem auto-exiliado nesta cidade e com tamanha ligação com a folia fez a alegria do meu carnaval!

O filme tá em cartaz aqui em Buenos Aires no Arte Cinema, Cine Gaumont e Malba Cine. E eu espero que chegue logo ao Brasil... enquanto isso, deixo uma palhinha do Moacir pra vocês no clipe “Marcha do travesti”.

Feliz carnaval :-)

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