O mundo está mais feminino ou é a mulher que está mais masculina?
Imagine 15 mulheres falando alto ao mesmo tempo. Multiplique isso por dois. Melhor, por três. Foi assim a reunião de pauta desta edição da Tpm, que pegou fogo por causa de um assunto específico: estamos nos tornando o “novo homem”?
O tema anda em alta por aí. Matérias em revistas como The Atlantic e Newsweek discutem a “tomada de poder das mulheres”. Ressaltam uma supervalorização de qualidades supostamente femininas. Duas delas, especificamente: ter capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo sem se estressar e lidar com a pressão do mercado de trabalho com mais razão e menos instinto de disputa do que os homens. Os artigos também questionam o comportamento masculino, como, por exemplo, “o provedor competitivo cuja masculinidade depende do sucesso numa sociedade industrial, materialista”.
Espera aí, deve ter alguma coisa errada nessa história. Eu e a turma que faz a Tpm todo mês não acreditamos que a mulher precise se portar feito homem para absolutamente nada nesta vida. E o homem descrito acima, gente, ele tende a entrar em extinção, não é? Para discutir essas e outras, montamos um time de primeira. Na matéria A mulher é o novo homem?, nossa repórter especial, Nina Lemos, na companhia da pesquisadora Denise Gallo e da jornalista-escritora Marta Góes debatem essa história. “Ter opinião, obra, força e coragem não quer dizer que a gente seja homem”, diz uma delas, a mais revoltada com esse novo rótulo. Falando em homem, é claro que chamamos um para essa conversa. O psicanalista Oscar Cesarotto, em texto bem-humorado, traz sua visão masculina (e lacaniana) para o debate.
Na matéria você encontra uma figura que tinha tudo pra ser um “novo homem”. A carioca Julita Lemgruber, que passou 11 anos nas cadeias do Rio de Janeiro. Primeira mulher a comandar o sistema carcerário do Estado, ela conta que, quando foi chamada por 400 presos em greve de fome para que ouvisse suas queixas, passou um batom, entrou no pavilhão e encarou-os – sem armas ou proteção de guardas. A repórter Ariane Abdallah, que passou dois dias ao lado de Julita para escrever as Páginas Vermelhas desta edição, me telefonou do Rio encantada: “Ela é uma senhora conservada, com ar de mãezona. Ao mesmo tempo, não é uma senhorinha. Causa intimidação sem ser agressiva, inspira respeito”, contou.
No miolo da revista, tirando um coelho da cartola, está Fernanda Torres. Essa sim teve que ser mulher-fêmea para chegar aos 45 com a clareza e a compreensão de vida que ela revela em seu perfil. De três anos pra cá, a atriz perdeu o pai, foi mãe pela segunda vez e reavaliou seu casamento com o diretor Andrucha Waddington, com quem está há mais de uma década.
Alguém precisa virar homem pra ser muito mulher?