Antonia Pellegrino: ”Uma ou outra coisa que eu sei sobre a atriz Maria Ribeiro”
Ela usa o cabelo preso num coque descabelado que pode ter sido feito com cuidado ou às pressas, e isso combina com o jeito como a Maria Ribeiro leva a vida. Ela dirige mandando mensagens no celular e conversando sobre sapato e problemas no casamento – numa mesma marcha, numa mesma frase. Porque, para ela, superficial e profundo convivem sem hierarquia. E esse é um dos grandes charmes da Maria. Outro é que ela é inteligente o suficiente pra rir de si própria e dizer frases que ninguém diz, tipo: “Meu cérebro é um psicopata hiperativo que só descansa com duas drogas pesadas: álcool e cinema americano”.
Eu conheci a Maria há uma década, numa aula de documentário. Embora eu seja pouco mais nova que ela, ainda era estudante de sociologia e estava começando a vida. E ela já era atriz, casada, descolada, já tinha dirigido um curta, já estava dirigindo um filme (Domingos), já era amiga do professor. Um ser superior. Mas que foi a um brechó e comprou dois cintos de elástico azul e prendedor de borboleta. Um pra mim e outro pra ela. E assim começamos um ensaio de amizade.
Sempre que nos encontrávamos em festas, conversávamos horas. Fui a uma festa de aniversário dela num apartamento no Jardim Botânico, fui ao seu casamento no outeiro da Glória, fui à estreia de uma peça e do belo Domingos. Passamos a dividir este espaço na Tpm, e descobri que, além de tudo, ela ainda escreve divertido e com emoção. Mas só engatamos a amizade quando trabalhamos juntas, em 2011.
Convidei-a para fazer a personagem Rita, no seriado Oscar Freire 279, escrito por mim. As filmagens eram em São Paulo e ela chegou no dia da gravação, sem ter tido tempo para os ensaios, já acertando o tom na primeira fala. A personagem parecia ter sido escrita pra Maria. Eu amava vêla dando vida àquele papel, que parecia tão mais engraçado com ela e seus cacos.
Amizade arranjada
Depois disso, avançamos mais um estágio: encontro com maridos. Francisco e Caio se admiram, se adoram. Então surgiu todo um novo campo de amizade para explorarmos. E, mais recentemente, quando conheci Bento, o filho da Maria e do Caio, lamentei não sermos indianos – porque quis acertar ali mesmo o casamento dele com a minha Iolanda.
Eu adoro gente, conheço todo tipo, mas faço amigos em marcha lenta. Porque nos afetos eu sou um tipo de pessoa que gosta de tudo que árvore gosta: solidez, raízes profundas, fidelidade. Então não dá tempo de fazer muitos amigos, porque não dá tempo de cuidar deles. Faço um amigo por ano, em média. E, quando olho pra minha vida recente, fico feliz que a minha mais nova amiga querida seja a grande Maria Ribeiro.
Antonia Pellegrino, 32 anos, é roteirista e escritora. É dela o roteiro da série Oscar Freire 279 e ela ganhou, recentemente, o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro pelo roteiro do filme Bruna Surfistinha. Seu e-mail: a.pellegrino@terra.com.br