Até que seu passado nos separe

por Ana Luisa Abdalla

’’Meu passado me condena’’ chega às livrarias com diálogos inéditos de um casal descobrindo os poderes amorosos um do outro logo depois de saírem do altar

Meu Passado Me Condena levou mais de 3.5 milhões de pessoas ao cinema. Com um número desse tamanho, não foi exatamente uma surpresa quando anunciaram a sequência, que estreia na próxima semana. Sucesso atrai mais sucesso e, seguindo essa lógica, Tati Bernardi, escritora e roteirista da trama, acaba de lançar um livro com algumas histórias que ficaram de fora das telonas, das telinhas e do palco – já que a saga virou uma série de duas temporadas no canal Multishow e também uma peça.

O livro de mesmo nome carrega o humor de suas versões anteriores. Entre risadas, frases que você anota e uma leve vergonha de se reconhecer em algumas partes, você lê tudo de uma só vez. O primeiro capítulo, O primeiro grande erro: um casamento baseado na verdade, dá o tom de todas as pouco mais de 100 páginas do livro: contos curtos com histórias que se encerram em si mesmas. E, como não podia faltar, há um capítulo todo dedicado para as indiretas do mundo virtual - Criseleaks: alfinetadas nas redes sociais. Em tempo; não precisa ter visto o filme para entender ou se divertir com o livro, a bagagem amorosa de cada um se encarrega de dar sentido às histórias.

É, enfim, a vez da roteirista ter seu nome em letras garrafais em frente ao projeto, inegavelmente divertido, do qual foi parte fundamental. Em conversa com a Tpm, Tati fala sobre o livro, polêmicas e feminismo.

Roteirista não costuma ganhar os mesmos créditos que atores e diretores em filmes. O livro foi, de alguma forma, um jeito de colocar em evidência seu nome na obra? O roteirista deveria ter mais destaque em todo o material de divulgação de um filme (e igualmente para um seriado, uma novela, uma peça de teatro). Deveria ter o nome no cartaz, nas entrevistas, no making of, no trailer... Afinal, sem a pessoa que escreve a história, não tem história. Ainda bem que nas produções que trabalhei, a autoria do roteiro sempre foi muito respeitada. Não tenho do que reclamar. O livro surgiu da necessidade de continuar contando mais histórias desse casal neurótico e também como reforço da autoria de um case que deu tão certo.

Você se considera feminista? Depende de qual "frente" feminista estamos falando. Sou feminista na hora de defender melhores salários e oportunidades profissionais para as mulheres, na hora de defender uma vida sexual livre e feliz para as mulheres, na hora de me vestir como quero, falar o que penso, comandar equipes, transar com quem bem entendo, decidir de igual pra igual com meu marido qualquer que seja a questão, decidir o que fazer com meu corpo. Sei toda a violência, o desrespeito e os abusos que as mulheres ainda sofrem, como se, muitas vezes, vivêssemos em outro século. Quando vejo adolescentes de um colégio amedrontadas porque os garotos fazem grupos de Whatsapp com fotos íntimas delas ou quando fico sabendo das meninas que foram estupradas e jogadas de um penhasco, tenho certeza que ainda falta muito a ser reivindicado. Respeito demais todos os movimentos feministas e acho que eles são de extrema importância. Dito tudo isso, tenho preguiça de alguns exageros como proibir que homens falem "comi a mulher" ou "peguei a mulher". O politicamente correto em exagero é como se passar um álcool gel na humanidade e isso é chato demais. O exagero me soa como "ódio de homem" ou ainda "ojeriza a sexo" e, obviamente, sou contra.

Você acha que polêmicas são importantes de alguma forma? Acho importante, como cronista, escrever o que tô a fim. Se gera polêmica e ela é positiva pra esquentar uma discussão interessante, fico feliz. O problema é que 80% da dita "opinião do internauta" é muito limitada, preconceituosa e tem a mesma relevância do aviso de "desligar o pager" nos cinemas.

Vai lá:
Bate papo de lançamento do livro com Tati Bernardi e Antonio Prata.
Segunda-feira, 29 de Junho, às 19h00. Livraria Cultura – Shopping Iguatemi, São Paulo.
Livro: R$ 24.90

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