É legal manter seus dois lados quando a maternidade chega
É legal manter seus dois lados quando a maternidade chega. Sem culpa, com muito trabalho, mas com muito mais amor
Há dois anos, quando a minha filha tinha 9 meses, fui abordada por e-mail pela jornalista Rita Alves, que mantém um blog muito bacana chamado Lado B: pausa para o indispensável. Nele, ela entrevista profissionais sobre o outro lado da vida: os hobbies, os dons, aquilo que a gente não fica sabendo na superfície. Ela queria saber como era a minha vida além do jornalismo. Caso ela tivesse me escrito um ano antes, eu iria mencionar o número de milhas acumuladas por viagens indescritíveis pelo mundo, minha coleção de tickets de museus, teatro e cinema, e a arte de cultivar fiéis amizades em sei lá quantas cidades por tantos anos. Mas ela me pegou numa outra fase do lado B: a maternidade.
Ser mãe presente quando temos uma profissão que amamos dá uma balançada. A culpa sempre pesa para os dois lados. Pro lado A e pro lado B. Nunca mais teremos o tempo necessário para dar aquela última revisada supimpa naquele texto que vai mudar a sua vida; e também não vai rolar aquele passeio gostoso com o neném, porque o entrevistado da década só pode falar com você naquela hora. Ah, a culpa. Até que alguém chega para você e fala: “Não se cobre tanto – a partir de agora, você vai fazer o que é possível. O impossível, deixe para lá”. E essa foi a melhor frase – eu diria, mantra – que escutei e coloquei no bolso. Para sempre.
Tenho sorte, no entanto, de morar em um bairro do Brooklyn onde quase todos os pais são profissionais com excelência e dividem o mesmo barco: ninguém mais produz profissionalmente em capacidade plena. Pelo menos, não por enquanto. São publicitários, professores, advogados. Esbarro com diversas mães e pais na pracinha, com carreiras incríveis, todos ali, empurrando o balanço e produzindo pela metade. Ninguém vai ser presidente nem CEO de nada. Mas abandonar a carreira de vez também não é uma opção.
Pais no Brooklyn
Recentemente, fiz um curso de mídia social, em que tive de apresentar um projeto final. Ora, criei algo dentro da minha atual realidade: uma conta em inglês no Twitter que dá dicas para pais em Nova York (@MominBrooklyn). Imediatamente, comecei a me conectar com empresas de cadeirão, editoras de livros infantis, pais (homens) blogueiros (são os melhores), empresas de comida natural para crianças, mídia especializada. Consegui juntar aí os meus dois lados – da mesma forma que alguns dos melhores produtos para criança hoje aqui nos EUA foram criados por mães e pais, de protetor de carrinho para o pior do inverno a detergentes sem tóxicos. No fundo, no fundo, todos nós trocamos de lado. O nosso lado B... virou lado A. Mas é importante manter ambos. Sem culpa, com muito trabalho, mas com muito mais amor.
P.S.: meu outro lado também tem Twitter. É @TaniaMenai.
Vai lá: ladob2.wordpress.com
Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com |