Carinhos e beijos são gestos tão habituais do Brasil que é impossível não sentir falta
Nunca vou esquecer de um professor de aeróbica que eu tinha durante a adolescência, em Ipanema. Murilo era caloroso demais. Um dos exercícios era o abraço. Confesso que gostava mais desse do que dos abdominais. Todo mundo suado, melado, se abraçando. Aquilo lá era um show. Mas aqui em Nova York esse professor estaria “out-of-business” – totalmente desempregado. Quanto mais tempo vivo aqui, mais fico com pena dos americanos. Desculpe se estou generalizando, mas americanos não abraçam, não andam de mãos dadas e desconhecem o afeto. Às vezes, alguém se desculpa na rua e nem sei o porquê. Depois descubro que o cidadão esbarrou em mim e nem percebi.
Fofolete
Minha filha tem 15 meses e nunca levou um aperto de bochechas nas calçadas de Nova York. Estou sendo 100% literal. Nunca. As bochechas da menina transbordam – no Brasil, as pessoas fazem fila para apertar, morder, beijar a fofolete. Aqui, ela passa quase despercebida. Outro dia, uma mãe americana quis saber quem na minha casa era carinhoso, porque a minha filha era a mais beijoqueira em uma festinha local. Por outro lado, ainda resta uma esperança: nos restaurantes italianos, latinos e asiáticos a bebê vira estrela, mandando 800 beijos para todos os garçons. Eles fazem a festa.
Mas também canso de escutar de amigas brasileiras que têm filhos em escolas americanas onde chamaram a atenção das crianças por “abraçar demais”, “beijar demais” ou “ser afetuosas em excesso” com os coleguinhas. Estamos falando de crianças de 4 anos. Um dia escutei uma mãe na rua explicando o que era “espaço interpessoal” para sua filha, pois ela havia se aproximado demais de uma amiguinha – ambas de 5 anos. Fiquei sem fala.
Americanos crescem com aperto de mão, independente da idade (confesso que acho esse hábito mais adequado do que sair dando beijinho no rosto de estranhos), e aprendem que tocar em bebês, só se for no pé. Não sei o que isso gera além de uma sociedade de pessoas distantes e que, na verdade, precisam desesperadamente de um abraço à la Murilo; principalmente em dias de neve. Mas, como se diz aqui, eles não conhecem algo melhor do que isso. Portanto, não sabem o que estão perdendo.
Ah, mas nós sabemos.
Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 15 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, no site da Tpm, e também colunista do site