Dupla carioca faz show de lançamento de Manja Perene nesta terça, 7, no Rio de Janeiro
O fato desta entrevista ter sido concedida em uma pequena escapada no meio da missa das 18h não impede que a cantora Letícia Novaes, da banda carioca Letuce, também recorra a explicações astrológicas para embasar os acontecimentos da sua vida. Nada mais natural. Assim como a música que cria com a namorado Lucas Vasconcellos, cheia de estilos e sonoridades diferentes, seu discurso não segue regras e ela pode seguir os conselhos da avó católica com a mesma facilidade com que interpreta os sinais dos astros.
Três anos após a produção do elogiado Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim, a dupla voltou ao estúdio – desta vez sem "paitrocínio", mas por meio do sistema de crowdfunding – e lançou recentemente o disco Manja Perene. “Nesse disco a gente pensou em fazer uma coisa mais profissa, Aí ficamos sabendo que estava rolando esse método lá fora e o nosso selo, a Bolacha Discos, também achou que seria uma boa. Deu medo, mas aí quando a gente viu que a galera estava colaborando foi meio: Imagina, medo nada!”
Prestes a fazer o primeiro show do novo disco no Rio de Janeiro, conversamos com Letícia pelo telefone e falamos sobre o processo de gravação, a resposta dos fãs, as diferenças entre os dois discos e a expectativa para o show de lançamento.
Letícia Novaes: Oi, Marcela. Desculpa não ter te atendido antes. É que eu estava na missa. Saí um pouco só pra falar com você.
Tpm: Na missa?
Letícia: É! (risos). Minha vó é católica e me disse: Vai pra igreja. Eles vão te dar um benção! É uma coisa que eu não faço há anos. Foi meio de última hora. Ela pediu que eu viesse porque é dia de São Brás e ele é o santo da garganta. É que eu descobri recentemente que estou com uma fenda na corda vocal. Não é muito grave, muitas cantoras têm. Estou até fazendo fonoaudiólogo para dar uma corrigida em algumas coisas
Tpm: Tranquilo! Uma ajudinha dos santos é sempre bom.
Letícia: Ô! Qualquer pessoa que me falasse eu ia rir, mas quando é a vó tem toda uma ancestralidade trabalhando junto com você. Achei melhor acatar (risos).
Tpm: Tá. Vamos começar pra dar tempo de você voltar pra benção. Qual a principal diferença entre este trabalho e o anterior?
Eu acho que este trabalho foi feito com a mesma naturalidade e espontaneidade do outro, mas a principal diferença são os outros. As pessoas criam uma expectativa! No primeiro disco ninguém sabia que a gente era. Éramos desconhecidos e surgimos do nada. As pessoas diziam: Olha esse casal, fazendo música... Eles são meio loucos. Ninguém sabia do nosso passado, ele não tinha sido noticiado pela mídia. O Letuce ganhou mais força que minha outra banda de rock e a banda do Lucas. No segundo nós já somos um grupo e as pessoas ficam esperando para ver se vai ser melhor ou pior. Mas pra gente não teve tanta diferença, só que gravamos em um estúdio profissional, por conta do crowdfunding que nos fez arrecadar muito mais dinheiro do que tínhamos disponível no primeiro disco. Mas o que faz ficar diferente mesmo é apressão dos outros e não a nossa! (risos).
Falando em crowdfunding, como surgiu a ideia de fazer de arrecadar dinheiro pro disco assim?
Nós percebemos que o nosso número de público estava bem legal e a gente não queria gravar como o primeiro, que foi paitrocínio (risos). E esse paitrocínio foi pequeno. Só conseguimos gravar no estúdio um dia e com um equipamento que não era tão bom. Nesse disco a gente pensou em fazer uma coisa mais profissa, com uns amplificadores legais. Aí ficamos sabendo que estava rolando esse método lá fora e o nosso selo, a Bolacha Discos, também achou que seria uma boa. Deu medo, mas aí quando a gente viu que a galera estava colaborando foi meio: Imagina, medo nada! Que legal. Ficamos muito felizes e otimistas com a essa ideia.
Então podemos dizer que funcionou super bem...
Super funcionou! Foi uma maravilha. Nós fizemos recompensas malucas como jantar na casa do fãs, fizemos um piquenique, pocket shows...Rolaram algumas coisas diferentes e divertidas!
E o processo de gravação?
Foi até rápido, porque a gente ensaiou muito. Nós estamos fazendo shows, essa mesma banda, há três anos, então nos conhecemos muito bem. Nós somos amigos fora da banda, viajamos juntos. A gente se gosta mesmo. A gente não fala só de música. Não só eu e o Lucas, mas os outros músicos também. Acho que a gravação foi rápida por conta dessa intimidade.
Vocês já tinham muita coisa pronta?
Sim! Várias músicas nasceram enquanto a gente fazia show do outro disco. Mas Insoniazinha e Fio Solto, que são as músicas mais louconas do disco nasceram de um situacionismo. Eu falei: Lucas, eu acho que estou me repetindo em umas composições, então você vai pro estúdio com o Tomas (baterista) e fiquem pirando que eu chego lá depois, levo o meu diário e tento colocar a letra em cima. Esse foi um processo novo, que eu nunca tinha tentado. Eu sempre compus melodia e letra ao mesmo tempo. Mas eu pensei que minha mão já estava muito parecida no violão e que a gente tinha que dar uma pirada. Nesse processo a gente conseguiu, em 6 horas de estúdio, duas músicas, o que é uma maravilha. São as músicas mais louconas, são bem diferentes!
Como está a resposta dos fãs pra essas músicas novas?
Nossa, com Twitter tudo é muito rápido. Muita gente de Brasília, do Paraná, de Minas... Todo mundo pedindo: Vem pra cá! Porque muitos são lugares em que a gente só tocou uma vez. A galera pede muito.
Eles falam de alguma música específica?
Fãs são todos muito doidos. Cada um embarca na sua viagem, na sua história. Tem fã falando que Freud sits here, que é uma música só minha, é super Pink Floyd, meio Syd Barret. Eu fico: Nossa, me chamou de louca (risos)! Também estão curtindo muito a Fio solto que é uma música que na letra eu uso a palavra bacurinha. Eu falo “...o arrepio é no cucuruto e o calor é na bacurinha” As pessoas dizem que eu sou corajosa, falo essa palavra na letra. Sempre Tive Perna é a música mais calma, quase um samba e as pessoas entram muito na onda dessa letra. Também teve uma fã que me mandou um e-mail lindo, me dizendo que foi ouvir o segundo disco esperando o primeiro, mas que se reprimiu porque era um absurdo esperar uma repetição, porque nós éramos artistas e irreverentes. Depois ela disse que estranhou na primeira vez que ouviu, mas ao contrário de muitas pessoas que desistem ela quis ouvir de novo e de novo, e começou a gostar...E depois viciou.
Entao você gosta dessa resposta rápida dos fãs?
Não é nem que eu gosto. É porque acontece. Eles me escrevem e às vezes eu nem leio tudo. É que nem ouvir um disco. Às vezes me dão um disco e eu não gosto de ouvir o disco na hora que uma cantora, uma amiga, me dá. Eu preciso de calma, entendeu? E de paz de espírito. Então às vezes eu até falo: "Eu não vou entrar no Twitter agora porque eu sei que alguém tinha me escrito e perguntado alguma coisa, então calma." Quando eu estiver com cerne e focada eu entro no Twitter e leio. Porque às vezes você lê uma coisa numa hora errada e você fica: "ai meu Deus, preciso explicar isso" e vira aquela loucura.
E pro show no Rio? Como está a expectativa?
7 de fevereiro, lua cheia em leão. Vai ser intensa a noite. A gente tá muito ansioso e muito calmo ao mesmo tempo. Sabemos o que fizemos e estamos felizes com o resultado. Claro que rola uma expectativa, sabemos que o teatro vai estar cheio e como é primeiro show galera fica curiosa e vai mesmo. Rola uma ansiedadezinha, mas estamos superconfiantes.
O que vai rolar no show de estreia do dia 7?
Nesse show de lançamento a gente só vai tocar músicas do segundo disco. Esse segundo disco tá um pouco mais pesado. Pesado não é nem a palavra, mas tem mais guitarra. Eu estou fazendo mais experimentações vocais, tá uma coisa bem mais locona. Mas depois, claro, quando a gente começar turnê e fizer mais shows por aí, por essa vida louca, é claro que músicas do primeiro disco entrarão. Mas eu queria no show de lançamento só tocar músicas do segundo disco. Depois, ao longo da vida, tem música que cai e música do primeiro disco que vem e entra no repertório. Mas no lançamento que queria só músicas do segundo.
Alguma participação especial planejada?
Não, não. A gente está muito, nós quatro, quase entrando um na pele do outro.Então a gente quis fazer, nesse momento, um show só com a gente. Para o futuro, com certeza. A gente até já conversa com algumas pessoas. Mas nesse momento, qualquer coisa externa, qualquer ensaio que alguém tiver que ir, marcar horário, ia desestabilizar uma coisa em que a gente está muito unido construindo.
Vai lá: Show de lançamento do CD Manja Perene
Quando: 07 de fevereiro (terça) às 21h30
Onde: Solar de Botafogo (Rua General Polidoro, 180, Botafogo, Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 40,00 (inteira); R$ 30,00 (os 100 primeiros pagantes); R$ 20,00 (meia-entrada)
Informações: (21) 2543-5411
Abaixo você vê alguns clipes da dupla:
Para saber mais sobre a dupla: www.letuce.com.br