Entre as lavagens de roupas sujas, Guilherme Weber se deixa flagrar soltinho...
Em cartaz com três peças em São Paulo, o ator curitibano Guilherme Weber comemora os 15 anos de sua Sutil Companhia de Teatro. Entre as lavagens de roupas sujas e figurinos, ele se deixa flagrar soltinho...
Quando era criança o ator Guilherme Weber queria ser santo. “Lia livros sobre a vida dos santos e queria ser um deles. E tinha que ser um com uma história bem dramática, tipo o São Francisco de Assis”. Depois, ao dar de cara com um álbum recheado de astros de Hollywood, decidiu que queria ser ator. “Mas não era qualquer ator. Queria ser o Gregory Peck.” “E agora? Você quer ser quem?” “Ah, quero ser o Guilherme Weber”, ele diz.
Que bom que Guilherme gosta de ser Guilherme. Senão, a repórter o mandaria de volta para o divã – que ele trocou por cartomantes. Afinal, é um ator consagrado que, aos 34 anos, conseguiu levar, sem perder a intensidade, o talento dos palcos para a TV. Tem contrato assinado com a Globo, onde fez o gay Benny na minissérie Queridos Amigos, em 2008 (que lhe rendeu o prêmio da APCA de melhor ator) e “um bandido meio David Bowie” em Da Cor do Pecado, em 2004. E está comemorando os 15 anos da Sutil Companhia de Teatro, que montou, com o amigo Felipe Hirsch, em Curitiba, cidade natal de ambos.
Sozinhos, Guilherme e Felipe estudaram a fundo e descobriram o que queriam fazer: um teatro ao mesmo tempo pop e melancólico. Certamente você já deve ter ouvido falar de seus espetáculos por causa dos cults como A Vida É Cheia de Som & Fúria e Avenida Dropsie – este em cartaz em São Paulo, com outras duas peças (Não sobre o Amor e Thom Pain/Lady Grey), em mostra comemorativa no Teatro do Sesi.
Guilherme, que adora uma conversa de café, conversou com a reportagem da Tpm num deles. Um papo de... café.
– Do teatro “sério” para a televisão. E a patrulha ideológica, ela ainda existe?
– Existe! Sofri patrulha quando fui fazer televisão. Mas quando faço penso naquela velhinha do Piauí e vejo que é um trabalho muito importante.
– Velhinha do Piauí?
– Quando fui filmar Árido Movie (2006) com o Lírio [Ferreira, diretor de cinema e amigo de Guilherme], eu via naquelas cidades do interior o quanto a televisão era importante. As pessoas paravam tudo para ver a novela.
Sim, ele pensa tanto na velhinha do Piauí como no David Bowie na hora de compor um papel. É que Guilherme é cria da cultura pop. Seu herói é o melancólico e romântico Morrissey e seu deus, David Bowie. Na adolescência, era o nerd da escola. “Aquele que leva um atestado médico para faltar na aula de educação física e fica sentado esperando ao lado de um cara que tem um pulmão artificial.” Hoje, ele cultiva por gosto próprio a inadequação. Mora no Rio de Janeiro se sentindo estrangeiro. “Me esforço para não achar que aquilo é normal.”
– Você acha estranho dar autógrafos?
– E você acha que eu pensei o que quando me chamaram para fazer este ensaio da Tpm? Pensei, nossa, que estranho, eles estão convidando para sair na revista aquele cara de Curitiba. Achei tão estranho que comecei a pensar que podia estar com baixa autoestima.
– Você não se acha bonito?
– Eu? Não. Tenho uns ângulos, e só.
Guilherme é um antigalã. Está mais para os dândis que tanto admira na literatura. Você, leitora, conseguiria imaginar um galã dizendo que tem medo de coisas que duram para sempre? E que, certa vez, durante a adolescência dark, ao comprar um sobretudo com sua avó, entrou em pânico quando ela disse que a compra valeria a pena porque o casaco duraria para sempre? “Aquele sobretudo ficou me apavorando, pensava: ‘Meu deus, que horror, o que eu vou fazer agora com isso que vai durar para sempre?’.”
Se ele tinha medo de um sobretudo, imagine de... um casamento. Mas Guilherme não é tão óbvio. “Namoro há alguns anos, moro junto, vivo um grande amor. E a maior prova desse amor foi trocar São Paulo pelo Rio.”
– Não vou fazer tipo revista de fofoca e te perguntar quem é, tá?
– Ah, que bom, por favor.
Em conversa de café, o buraco é mais embaixo. E Guilherme acha esse tipo de pergunta brega. Um ano atrás, ao ser questionado se era gay por uma revista de celebridades, se saiu com a seguinte resposta: “Nossa, que pergunta cafona!”.
– Por que cafona?
– Você tem a oportunidade de conversar com alguém sobre arte, sobre a vida, e vai ficar querendo saber quem trepou com quem? Que coisa antiga!
– E as cartomantes?
– Adoro um ritual. E, durante um tempo, passei a ir a cartomantes. Mas não servia qualquer uma, tinha que ser aquela mais longe, com a história mais bizarra.
Entendo. Não pode ser qualquer cartomante. E não pode ser qualquer santo.
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