O velho e cruel estereótipo do corpo padrão, bunda grande, biquíni fio dental e pura sensualidade não nos representa, mas resiste dentro e fora do país
Nem toda brasileira é bunda, já cantavam Rita Lee e Zélia Duncan vinte anos atrás. Mas a ideia de como o corpo de uma mulher brasileira deveria se parecer ainda segue viva no imaginário de muita gente – inclusive no nosso. Bunda grande, biquíni fio dental e muita sensualidade: quantas vezes você já nos viu ser representadas assim, especialmente para os estrangeiros? Quando chega o verão e o Carnaval, época do ano em que recebemos o maior número de visitantes de fora do país, é hora de questionar esse imaginário tão retrógrado e continuar mostrando para o mundo que as brasileiras são muito mais do que um corpo ou um padrão de beleza inalcançável.
Uma pesquisa inédita realizada por Dove mapeou a força desses estereótipos e o quanto eles contribuem para reforçar a pressão estética e a sexualização da mulher brasileira. Os dados mostram que ainda há muito a transformar. 39% dos estrangeiros pensam que a brasileira "samba, rebola e gosta de dançar" e 35% nos enxergam "muito sexualizadas, sempre associadas e lembradas por seu corpo". Mas, entre os brasileiros, o número de pessoas que concordam com essa ideia é ainda maior: 39%. Também são eles os que mais acreditam que a mulher brasileira "tem um corpo com muitas curvas" – 33%, contra 26% entre os estrangeiros.
É claro que esse imaginário contribui – e muito – para aquela sensação de inadequação que nos acompanha em grande parte da vida. Afinal, desde criança as mulheres são bombardeadas por imagens que deveriam representá-la, mas só reproduzem estereótipos inalcançáveis. Diante da ideia de que "a brasileira tem um corpo com muitas curvas, e usa biquíni pequeno tipo fio dental e cortininha", 82% concordam que essa imagem não representa os vários tipos de corpos da mulher brasileira e os vários tipos de biquíni que usam. 61% acreditam que tal imagem impõe um padrão de beleza irreal e que não representa seu tipo de corpo. A pesquisa também mostrou nosso sentimento em relação a esse estereótipo sobre o corpo: 57% se sentem desconfortáveis e 80% acreditam que essa imagem da mulher brasileira precisa acabar.
Às vezes esquecemos que a mulher real existe, sim – e somos nós mesmas. Se livrar dos padrões de beleza que fazem a gente se sentir sempre inadequada e insuficiente não é fácil e nem depende só de autoaceitação. Afinal, é preciso transformar toda uma sociedade para que parem de nos definir e julgar por nosso corpo ou por nossa aparência. Mas juntas seguimos mais fortes para mudar esse imaginário.
Nomes como Fernanda Paes Leme, Astrid Fontenelle, Dani Rudz, Dandara Pagu, Beta Boechat, Mariana Mendes, Ju Ferraz e Victoria Ceridonio fazem parte do movimento de Dove e mostram como os estereótipos sobre o corpo da mulher brasileira as impactam no dia a dia, comentando sobre a importância da conversa no verão.