Aos 24 anos, o ator Johnny Massaro passou dos papéis de nerd ao posto de galã – e quer ir além
É possível que neste momento você esteja se fazendo a seguinte pergunta: “Que gato incrível é este?”. Caso se refira ao felino, trata-se de Polaroide. Que é, na verdade, uma gata. De 9 anos. Sem raça definida. Já o moço atende por Johnny Massaro. Tem 24 anos. Ator. Mas não se apresse para defini-lo.
Nos encontramos diante da casa dele, numa ruazinha sinuosa na zona sul carioca. Johnny desce do carro (onde tinha acabado de derrubar um pote de açaí), carregando uma sacola de laranjas e sem a chave do portão (que abriu com o auxílio de uma vassoura). Pede desculpas pelo atraso. Estava no banco, tentando pegar um travel card – ia embarcar dentro de alguns dias. Com o fim da novela A regra do jogo, da Globo, na qual interpretava o romântico e politizado Cesário, Johnny se preparava para passar um mês viajando pela Europa.
Nessas horas, é natural que a gente pergunte o roteiro. “Entro e saio por Viena, mas comprei uma passagem de trem de livre circulação e vou meio sem destino”, disse. Talvez vá para Praga. Talvez para Budapeste. Talvez para Liubliana, na Eslovênia. E talvez para algum daqueles lugares surpreendentes que só se apresentam a viajantes dispostos a não controlar cada etapa do percurso.
Numa época em que tanta gente apregoa suas convicções, Johnny logo demonstra estar à vontade com suas incertezas. “Acho que isso é importante para o trabalho do ator, se colocar no lugar do não saber, porque essa é a única maneira de você conseguir ter experiências de fato.”
O casarão, cercado por verde, tem três andares. A sala, no térreo, foi alugada para um acupunturista. O quarto no segundo andar é de uma amiga de Johnny. Subindo mais um lance da escada estreita, chega-se ao quarto do ator. Num canto do quarto, um minialtar com incenso, pedras, pau-santo e uma pequena imagem de São Sebastião, que é celebrado no dia 20 de janeiro – “data do meu aniversário”, explica.
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Johnny chegou ao endereço há apenas quatro meses, conciliando a mudança com a gravação da novela e uma peça em cartaz – Cara de fogo, no CCBB Rio de Janeiro. Na TV vivia um mocinho; no palco, um piromaníaco que matava os pais e tinha uma relação incestuosa com a irmã. Ele até tentou usar algumas técnicas para se afastar de um personagem e entrar no outro. Mas com ele as coisas não funcionam assim. “Cada vez mais vejo que os caminhos para chegar a algum lugar são muito plurais. Quanto menos eu ficar bitolado em uma forma de alcançar algo, melhor. Se eu me preocupo, a coisa descamba”, diz Johnny. “Tento falar para mim diariamente: ‘Você não precisa ser o melhor ator, não precisa ser o melhor personagem. Você só precisa afetar minimamente alguém’.”
Há algumas semanas, uma nova moradora chegou ao casarão: Matilde. “Estou apaixonado”, diz ele, referindo-se à gatinha de 3 meses que acaba de adotar e que homenageia a poeta portuguesa Matilde Campilho, cujos versos chegaram até ele por meio da amiga Bruna Linzmeyer. Musa da Flip no ano passado, Matilde costuma divulgar videopoemas no YouTube. “Esses são demais. O sotaque dela, o jeito como fala, é puro tesão”, diz Johnny. Inspirado no estilo da escritora, ele deu novos rumos a seus próprios poemas – alguns deles publicados aqui nas páginas da Tpm.
Sem artifício
Filho mais velho de uma secretária e de um taxista (que não se conforma com a preferência do primogênito pelo Uber), Johnny era avesso às aulas de judô, futebol e natação. Mas gostava de teatro. Seu sonho era entrar em Chiquititas, do SBT. Não rolou, mas em 2005 estreou na TV em outro programa voltado para o público infantil: Floribella, da Bandeirantes. Depois veio Malhação, onde atuou de 2008 a 2010. Na série global, ele era Fernandinho, um nerd. E outros papéis pareciam reservar a ele o posto do inteligente desajeitado. Até que, com Meu pedacinho de chão (2014), ele pôde mostrar que também era galã.
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“Ele não tem aquela beleza padrão, de cabelo liso e corpo malhado. Mas seus traços e sua personalidade são muito interessantes”, diz Jorge Bispo, autor das fotos desta matéria (e dono da gata Polaroide). “Johnny não é o típico jovem ator global. Ele se permite arriscar, não se leva tão a sério, não está preocupado com a imagem, com a beleza. E isso é ouro hoje em dia.”
Bispo e Johnny se conheceram e agendaram uma sessão informal de fotos. O ator chegou ao apartamento do fotógrafo levando suas próprias roupas, entre elas peças dos anos 80 que herdou dos pais. “Não teve produção, então me parece bem espontâneo, sem artifício. Eu gosto muito de ser fotografado. Isso foi muito importante para entender meu tipo de beleza”, conta.
Foi por meio de uma foto que ele chamou a atenção de Selton Mello, que achou o rosto do rapaz diferente. “Ao vê-lo em Meu pedacinho de chão, percebi que minha intuição estava certa, aquele garoto era de fato um ator diferente”, lembra Selton, que escolheu Johnny para seu mais recente projeto, o longa O filme da minha vida (ainda sem data de lançamento).
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Selton chegou a mudar o cronograma do filme para que Johnny pudesse viver o protagonista, Tony Terranova. “Ele era o único ator de sua geração que podia ser muitos em um só. O protagonista de meu filme pedia alguém que pudesse ser sensível, gauche, divertido, comovente, herói, um jovem com alma de poeta. Johnny Massaro entregou tudo isso e muito mais”, diz o diretor.
Da pesquisa para preparar sua atuação como o Cesário de A regra do jogo, um jovem de esquerda que se opunha ao avô, nasceu seu interesse pela micropolítica. “Fiquei preocupado em engrossar o meu discurso”, diz Johnny, que recorreu a uma bibliografia mista de textos do deputado Marcelo Freixo (PSOL) a poemas do russo Vladimir Maiakovski (1893-1930). “Micropolítica é alinhar o que penso com minhas ações. É sobre minha relação com meu lixo, com minha alimentação, com meu corpo... Senão, não faz sentido.”
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Ele entra no campo político por algumas causas. Participou, por exemplo, de Meu corpo, minhas regras, o vídeo da diretora Petra Costa sobre aborto, que se tornou viral. E voltou a repetir a parceria com a diretora em março, em um vídeo apartidário que reuniu artistas como Letícia Sabatella e Laerte em prol da reforma política. “A gente começa falando que todo mundo é contra a corrupção – mas isso é tão vago.”
Já é noite na zona sul, e ainda resta uma dúvida: Johnny é nome artístico? “É meu nome mesmo, está lá na certidão”, conta o ator, que usa a deixa para dividir uma história curiosa. “Contam que meu pai escolheu Alexandrovich, mas minha mãe se opôs. Na segunda chance ele escolheu Johnny, viu esse nome em alguma revista.”
1
eu te relampejo
amor
eu te estanco
como na foto
da cascata
caindo
seus afagos
me afundam
o chão
então
drink
drink se
comigo (x3)
amor
2
esperaria
a minha
tua boca
na tarde
caída
no canto
da noite
onde penetra
a manhãzinha
ansiosa
automática
genuína atrás
da portinha
encardida
esperaria ela
a minha
se diabéticas
palavras
trouxesse
dentes
também
fumaça
nicotina
esperaria
tua boca
vermelha
a minha
te como no
segundo dia
Créditos
Imagem principal: Jorge Bispo