Cinco minutos de Costanza

por Luara Calvi Anic
Tpm #100

Costanza Pascolato escolhe cinco momentos inesquecíveis de sua vida e descreve cada um

Um chá quente em meio à guerra, o nascimento da primeira filha. Aos 70 anos, a empresária de moda escolhe cinco momentos inesquecíveis de sua vida e descreve cada um deles

Chá das cinco na guerra “Nasci durante a guerra, na Itália. Estava com meu irmão comendo uma sopinha quando as sirenes começaram a tocar, avisando que haveria combate. Eu era pequenininha e a gente saiu correndo para fugir de lá. Fomos para o jardim e estava frio, com neve. E a doida da governanta, que hoje tem 96 anos, voltou para casa para fazer um chá e trazer para nós lá fora antes de partirmos, e isso com os aviões chegando. Quando a gente voltou para casa tinha marcas de metralhadora aérea nos quartos.”

Do navio, vê-se Copacabana “Cheguei ao Brasil de navio em 23 de dezembro de 1945, na baía de Guanabara. Lembro de todos subindo até o convés para olhar esse novo mundo. Éramos todos europeus. Tinha uma neblina espantosa, quatro e meia da manhã. De repente, levantou-se a neblina e a visão era tão extraordinariamente linda que eu nunca esqueci. Copacabana, aquele céu, o recorte que tem o Rio, não tinha nada daquele aterro de hoje. Me lembro que reparei no verde. O verde europeu é mais concentrado. O daqui era diferente de todos os outros que eu já tinha visto, uma multidão de verdes.”

Bumbum para o público “Dançava balé na escola quando tinha 12 anos. Não era ruim, mas não sou coordenada. Decorei toda a coreografia: tinha que dar 12 piruetas atravessando o palco sozinha e fazer uma reverência para o público. Só que depois das 12 piruetas eu me atrapalhei e fiz reverência ao contrário, quer dizer, mostrei o bumbum. O público morreu de rir [risos]!”

Prazer, eu sou sua filha “O nascimento da Consuelo, minha primeira filha, foi uma espécie de deslumbramento. Entendi que era outra responsabilidade. Quando você vira mãe percebe que a sua vida mudou definitivamente porque tem alguém que vai depender de você até virar adulto e sair por conta própria. Lembro que meu pai estava no quarto quando recebi minha filha, mas se retirou porque sabia que eu tinha que ter esse encontro com ela. Com a segunda filha foi igual, ou tão forte quanto.”

Viver tanto, e tanto “No fundo, sou uma pessoa que gosta de viver sozinha, apesar de ter casado três vezes. Sou muito independente até hoje. Porém, um acontecimento definitivo foi o nascimento e, sobretudo, a convivência com os meus netos. É outra geração, completamente diferente da que eu e minhas filhas vivemos. Gosto muito de eles serem inteligentes, pesquisadores, atuantes e interessados. E de poder reviver neles toda essa fome de novidade que tenho, essa curiosidade quase insaciável pela vida. Porque eu gosto mesmo é da vida e das pessoas, mesmo quando vejo alguém chatérrimo. O grande lance da minha vida é ter vivido tanto, e tanto.”

(*) Para comemorar a Tpm#100 conversamos com 100 mulheres. Veja todas aqui

 

Créditos

Imagem principal: Divulgação editora Jaboticaba e arquivo pessoal

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