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César Cielo

O nadador de ouro revela seu corpo e seu pensamento na Tpm

César Cielo

Por Carol Sganzerla

em 13 de março de 2009

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O mais novo ídolo nacional tem 21 anos, 1,95 metro de altura e chora em público. O campeão olímpico César Cielo saiu das piscinas e veio se secar nas páginas da Tpm

Pela fama relâmpago, ele parece ter acabado de ganhar R$ 1 milhão em um reality show global. Vive dias de celebridade. Desfilou no Oi Fashion Music, em Salvador, deu o pontapé inicial em uma partida de futebol do campeonato brasileiro, foi vacinado pelo ministro da Saúde em prol da campanha contra a rubéola, subiu no palco de um torneio de games, deu as caras no Hair Fashion Show, gravou comercial para a imobiliária Abyara e outro para a Samsung e fez uma participação no humorístico Casseta & Planeta. Todos querem Cielo. Um mês depois do término da Olimpíada de Pequim, ele ainda estampa a home dos principais sites de notícias. Desde que voltou ao Brasil com uma medalha de ouro e uma de bronze – pela prova dos 50 metros e a dos 100 metros livres da natação, respectivamente –, deu, no mínimo, uma entrevista por dia.

Você ainda tem paciência para dar entrevistas? Tenho. Gosto de fazer isso, é uma coisa que me motiva para voltar a treinar. O chato do esporte é começar tudo de novo. O início do treino é a parte mais difícil. Para as provas de 50 metros e 100 metros livres, as três primeiras semanas são torturantes, você fica quebrado. É um treinamento aeróbico puxado para o corpo agüentar o resto do ano. E me empolga estar falando do que eu fiz.

Qual é a parte chata da fama? É difícil agradar todo mundo, né? Estava perdendo o vôo e veio uma menina tirar foto. Eu disse: “Vamos rapidinho?”. Ela se ofendeu e disse: “Torci tanto e você não tem tempo de tirar uma foto?”. “Eu tô perdendo o vôo.” “Não quero saber, você é um grosso.” Aí tive que pedir desculpas…

Se você tivesse ganhado a medalha de prata, acha que seria assim? Não. O brasileiro é cruel. Segundo e último é a mesma coisa. A gente não sabe dar valor para as coisas. Isso de alguma forma breca o crescimento do país. Nos Estados Unidos, lembro que na faculdade um cara ficou em quinto em uma olimpíada e, durante um jogo de futebol americano, eles pararam, colocaram um tapete vermelho, e ele foi lá acenar como finalista olímpico. Se só viesse o bronze, com certeza eu ainda estaria no anonimato.

Se César Cielo não tivesse chorado como uma criança no pódio, não teria sido reconhecido em menos de dez segundos, entre sair do táxi e entrar no prédio onde mora atualmente, em São Paulo, com o amigo de infância e também nadador Guilherme Guido. A campainha também não teria soado durante a entrevista, para um pedido de foto dos vizinhos. O atleta de Santa Bárbara d’Oeste, a 130 quilômetros da capital paulista, os atende com o mesmo sorriso aberto com que se desculpa pela interrupção e diz não se incomodar com o assédio. Ele gosta de gente. Não suporta ficar sozinho. Já bastam os quase três anos que mora em Auburn, no Alabama (EUA), exclusivamente para treinar. A rotina piscina-aula-piscina-cama era cansativa e solitária: de segunda a sábado – quando não domingo –, acordava às cinco da manhã, treinava das 6h às 8h e das 15h às 18h. Das nove ao meio-dia, estudava. Na Universidade de Auburn, já cursou relações internacionais, marketing, finanças (“não sei o porquê, foi um movimento estranho esse”) e mudou para criminologia. “Falei pra minha conselheira acadêmica que queria um curso nada a ver com os outros. E é bacana, mas, se me formasse nessa parte criminal de direito aqui as leis são todas diferentes… e eu iria perder o curso. Agora estou em comércio exterior e faço especialização em espanhol”, conta o nadador, que trancou a universidade para competir em Pequim. Enquanto não volta – os planos são para janeiro de 2009 –, ele segue treinando no clube Pinheiros.

O que você fazia num dia sem treino? Acordava umas nove da manhã, porque ia pra cama umas onze da noite. Ficava no computador, ligava pra minha mãe [Flávia Cielo, professora universitária de educação física], conversava pelo menos por umas duas, três horas. Arrumava a casa, lavava roupa, via TV. Tinha uma quadra de vôlei de areia no quintal de casa, o pessoal ia lá, depois compraram uma piscina, a gente tomava sol. Fiquei numa solidão bem grande, principalmente nos quatro meses que o pessoal vai embora, no verão. Sobravam eu, mais três e o técnico. A gente não podia sair, não podia fazer nada. Precisava ver gente.

Me dá uma tristeza só de ouvir você contar. Olha, a hora que acordava domingo, às 9h, eu falava: “O que que eu tô fazendo?”. Mas o pior não é você não ter nada para fazer, o pior é você pensar: “Será que vai dar certo?”. Você põe muita coisa em jogo, são meses da sua vida, a família [o pai,César, é pediatra, e a irmã, Fernanda, 17 anos, estudante e nadadora], essa parte que dá medo. Falei pro meu técnico: “Se não der certo vou parar de nadar”. Se não desse, é que não era pra ser. Eu nunca tinha me dedicado tanto ao treinamento.

Como você extravasava essa angústia? Tenho que ficar longe das coisas de que gosto, porque fico até um pouco agressivo. Eu nem mexia no laptop porque, se ele começasse a ficar devagar, eu ia dar um soco na tela. Chorei bastante pra falar a verdade. Várias vezes chorei sozinho porque não queria preocupar meus pais. Quando ligava pra minha mãe sem motivo, ela sabia que era pra descarregar. E me deixava gritando, que é uma forma de extravasar. Foi complicado pra todo mundo. Se eu começar a falar muito disso, vou chorar agora, porque foi um sofrimento muito grande. Meus pais seguraram toda a parte fora das piscinas. Só fiquei sabendo que meu avô faleceu no Brasil. A verdade é que a natação é individual, mas não tem como chegar lá sozinho.

Chegou a procurar terapia? Tentei fazer um acompanhamento psicológico, mas pra mim não funciona, sou um cara que tem que sofrer no problema. Não sei se o psicólogo que era muito calmo, mas ele dizia: “Imagina um céu com nuvens…”. Eu falava: “Imagina um céu com nuvens? Você tá louco, eu tô em depressão!” [risos]. Psicologia nunca deu certo comigo. O que deu certo foi a relação com meu técnico [o australiano Brett Hawke]. Ele aprendeu onde tinha que apertar e aliviar. Lá é normal o técnico mandar o cara pra fora do treino quando ele nada mal porque dormiu tarde, por exemplo. Eu falei: “Não me manda pra fora porque não vai ser a mesma coisa amanhã.Chega e conversa numa boa”. Foi a primeira vez que me abri sobre esse tipo de coisa com alguém.

Cielo é reservado. E tímido. Durante a conversa, leva a mão aos olhos um semnúmero de vezes, cruza e descruza os braços, encosta, desencosta, se ajeita. Talvez por nervosismo. Talvez porque não caiba no sofá mesmo. Afinal, são 1,95 metro de altura e 88 quilos sobre o pé 46. Tudo isso aos 21 anos de idade, quando já encorpou com a musculação. Sete anos atrás, porém, ouvia da boca dos amigos – entre eles o ex-nadador Gustavo Borges, com quem treinou no clube Pinheiros, quando se mudou sozinho para São Paulo, aos 15 – apelidos como Olívia Palito e Lingüição (“eu odeio esse”). Isso é passado. Hoje ele é mais conhecido como Cesão. O cara que tem quase 200 comunidades no Orkut. E uma mulherada de olho nele, principalmente na balada, que ele conseguiu freqüentar nas férias pós-Olimpíada. Urbano, Disco e Café de La Musique, na capital paulista, foram algumas delas.

Como você é quando chega numa mulher? Sou mais lento, penso bastante nessa hora, apesar de achar que deveria pensar menos. O Guido [Guilherme, com quem divide apartamento] que fala “vai logo”. E eu: “Não, dá um tempo”. Já aconteceu de eu enrolar e a menina ir embora, sou tímido mesmo. Sou aquele cara que precisa de alguns sinais. Troca de olhar é importante, se a pessoa não tá olhando, não vou nem pensar em falar. Agora que tem mais gente olhando, ficou mais fácil fazer o primeiro movimento.

Gosta de mulher que chega em você? Não vejo problema. Lógico, dependendo da chegada. Tem que chegar conversando numa boa e se ligar se o clima está rolando.

Você já se apaixonou? Acho que não, senão já teria namorado. Nunca tive aquela coisa de realmente querer ficar com uma pessoa. Não sou aquele cara de ficar mandando mensagem, de ficar ligando. Se a pessoa quiser, liga, se não quiser, liga outro dia… Esse tipo de coisa comigo não dá muito certo, gosto de ter meu espaço.

Como era com as americanas? Não conseguia levar as americanas a sério… A coisa era muito descarada, a mulher faz mais ou menos que nem homem. As brasileiras gostam de fazer joguinho, lá é ou não é. Às vezes, é até legal, mas no dia seguinte não dá graça. Aqui a gente reclama, mas lá sente falta.

Com quais outras estrangeiras já saiu? Já fiquei com uma menina da Guatemala, da Sérvia, do Canadá, da Argentina, dos Estados Unidos, do Chile, da Venezuela, da Austrália…

Qual foi o lugar mais inusitado que você… Que já fiz sexo? Olha, normalmente fora de casa eu nem penso, principalmente agora. Foi no quintal da minha casa em Auburn, tudo escuro, a casa toda aberta…

E na piscina? Na piscina nunca fiz [risos].

Você é o tipo do cara que não perde um rabo-de-saia? Não, não sou assim. Se a mulher chama a atenção, não tem nem como. Mas sou desligado. Às vezes tô com o Guido e ele fala: “Você viu?”. E eu: “Cadê?”. Aí já passou, tava viajando.

Você se acha bonito? Me acho sim.

O que é mais difícil na convivência com você? Sou chato com muita coisa. Morei com um canadense que era um porco. Desorganização não ligo, mas coisa suja não agüento. Tem que me conhecer para saber se estou de bom ou mau humor. Quando a coisa dá errado, não saio contando para ver se melhoro. Eu guardo pra mim.

O que você quer da vida? Quero nadar pelo menos mais uns oito, nove anos. Depois que eu parar… Na verdade não sei nem se estou no curso certo da faculdade, dependendo, mudo de novo. Sou muito mais de escolher as coisas pelo momento.

Aproveita, então, Cielo, que o momento é seu.

Tpm + Assista ao making of deste ensaio:

 

[VIDEO]http://p.download.uol.com.br/trip/cielo.flv|cielo.jpg[/VIDEO] 

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