Na minha opinião, a briga entre coração e cérebro sempre será injusta e desleal
Uma das coisas que os médicos mais são treinados para prestar atenção é em como o coração de seu paciente está batendo. Desde os primeiros anos da faculdade, a gente aprende que o coração deve bater de 60 a 100 vezes ao longo de um minuto. E que alterações nisso geralmente são sinal de que algo está errado. Um coração disparado pode ser resultado de uma crise de ansiedade, sangramento ou uma infecção disseminada. Ao mesmo tempo, um coração que bate menos que o normal pode ser apenas resultado do sono, de um ótimo condicionamento físico ou indicar um infarto se aproxima. Não é preciso ser cardiologista para saber q um coração que bate diferente do habitual deve ser investigado.
Quando vi um coração e um cérebro pela primeira vez na bancada de um laboratório de anatomia, fiquei absolutamente impressionada (numa época em que não existia Facebook nem Twitter para expressar isso). O coração impõe respeito. É um músculo oco e robusto. E, só de lembrar que ele é capaz de bater incansavelmente uma media de 2,5 bilhões de vezes durante a vida, o respeito por ele só aumenta. Com o cérebro, a história é um pouco diferente. Ele impressiona pela delicadeza. Se vc não tomar cuidado para manuseá-lo, ele se desfaz na sua mão. Afinal, quase 80% de sua composição é água. Como algo tão frágil pode ser o senhor absoluto de um organismo tão complexo?
Resolvi começar o meu texto contando isso porque, desde que vi essa ilustração aí em cima num site ontem, eu não consegui deixar de pensar na interação Coração-Cérebro dentro do corpo humano. Mesmo que ninguém admita, sentimos um certo orgulhozinho evolutivo quando ouvimos que o Homem é o único animal racional que existe (no nosso planeta, pelo menos). Adoramos achar que somos o civilizado topo da pirâmide evolutiva, com total controle de nossas vidas e atitudes. E que somos os senhores de nossos destinos. Até alguma situação sair do controle e inesperadamente atingir algo pelo qual temos apreço.
Não importa se é uma frustração amorosa, a perda de alguém querido ou algo de valor. Seu coração vai disparar ou ficar gelado dentro do seu peito e você vai ser tomado pela emoção e instinto. Não importa se você fez faculdade, lê Bukowski, Kant e é habitué concerto na Sala São Paulo. Não importa se vc tem 7 ou 70 anos. Por mais lógica que possa existir no ocorrido, o cérebro vai ficar quietinho e esquecido no canto dele. O coração e o instinto vão tomar a dianteira das atitudes. E é aí que a gente percebe que não é tao diferente dos animais quanto imagina. As manchetes do jornal estão aí, todo dia, pra provar isso.
Sinceramente, não acho que isso seja um problema. Talvez seja o coração o responsável por buscarmos conforto, sonharmos e termos essa vontade inexplicável de sobreviver, não importa a qual adversidade. E talvez também seja por isso que os médicos se esforçam tanto para garantir que ele permaneça batendo de forma adequada.
Na minha opinião, a briga entre coração e cérebro sempre será injusta e desleal. Afinal, um é músculo e o outro é praticamente só água. E nem adianta espernear, reclamar ou amaldiçoar: por mais que andemos eretos e nos achemos extremamente evoluídos, lá dentro do útero, é sempre o coração que já começa a bater bem antes do cérebro ter se formado.
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