por Ana Manfrinatto

E o meu muito obrigada por mais uma experiência mágica

Na semana passada (10/12) eu tive o privilégio de ver a Buika ao vivo pela primeira vez na minha vida. Quem? Concha Buika, uma cantora de origen africana – sua família é da Guiné Equatorial, para ser mais precisa – que nasceu na ilha de Maiorca, na Espanha. Esse baú de heranças negras e flamencas faz com que Buika seja uma explosão.

Descalça, vestido vermelho, turbante na cabeça. Entre um gole de água e outro de vódca, ela embriagou as mais de três mil pessoas que foram ao teatro Gran Rex para vê-la. É que além de não ter problema em brincar com seu vozeirão e estilhaçá-lo no compasso do coração, a Buika canta com a alma, com as vísceras, com o útero.

Ela é uma figura feminina tão forte que me trouxe algumas imagens como Nossa Senhora Aparecida, Iansã, as avós. Aliás, entre música e música ela evocava estas figuras femininas (Mercedes Sosa foi uma delas) e falava sobre o amor, sempre ele.

Uma das interpretações mais emocionantes da noite foi a do tango “Volverás”, que ela dedicou aos seres humanos incorrigíveis: “São aquelas pessoas que não se cansam de errar zilhares de vezes a mesma boca. Esta boca que nós sabemos que não vai estar ali no dia seguinte mas que esta noite está boníssima!”, disse.

O clima era de conversa entre amigos. E nessa toada ela confessou que desde pequenininha aprendeu que a mulher não tem que ter medo da solidão, porque é na solidão que nós enfrentamos nossos demônios e nos ampliamos.

Sou filha única. Acostumada a estar sozinha, a voltar do mercado carregada de sacolas , essas coisas. E eu fui ao shows sozinha num desses dias em que o mantra é “eu sou a minha melhor companhia”.

Me emocionei, chorei, dei bastante risada. E só senti a falta de alguém ao meu lado porque gostaria que algumas pessoas especiais também tivessem vivendo este momento. Um exemplo aconteceu em 2007, no mesmíssimo teatro, quando o Caetano tocou “London, London”. Não fosse a minha amiga Camila segurar a minha mão, ninguém acreditaria que isso tivesse acontecido de verdade.

Desta vez foi tão lindo quanto. Eu eu nem preciso dizer que foi mágico porque a própria Buika se encarregou de entoar o meu adjetivo preferido:

“Não faz falta que eu diga que este momento dividido com vocês foi mágico porque eu sou uma pessoa que acha que o simples fato de estar respirando já é um milagre”.


Só fiquei com vontade de ter escutado “A mí manera”, que diz assim, ó:

Mira el tiempo
Como casi sin querer mueve
La trenza que anoche ahogaba tu pelo
Tu pecho lentecito muele mi amor

Mira el tiempo
Como casi sin querer me cruje
Ya siento hojas de otoño en mi pecho

Y al fin me sé libre
De sentirme bella
En él y en ella

Y de cantar flamenco
Con todo mi respeto
Para quien entienda
Porque yo no entiendo, no lo entiendo

Yo canto lo que pienso
Pa empujar mi vida

Y pa no tener miedo

Miedo de que me miren
Y no me vean
Ya no tengo miedo
Miedo de despertarme
Y que no estés cerca
Ya no, ya no, ya no.

Cause the World it's inside of me

Yo creo en mí
Y en mi manera de decir
Lo que pienso
Yo creo en mí
Y en mi manera de sentir
Lo que siento
Yo creo en mí
Y en mi manera de pensar
En lo que digo
Yo creo en mí, en tí, en mí
Y en tí y en mí
A mi manera

Tira corazón
Que él que gusto da
Placer se lleva

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