por Lia Bock

Do doce ao azedo. Do romance ao maldito azar que nos persegue

   Do doce ao azedo. Do romance ao maldito azar que nos persegue

Sempre existe uma, duas ou dez pessoas no mundo que poderíamos ter amado. Gente pra quem olhamos de longe, depois de um tempo, e vemos que, não fosse algum porém do cotidiano, um desencontro qualquer (ou uma deusa qualquer), poderíamos ter conhecido melhor, entrelaçado as pernas, colado o nariz e brigado no carro. De longe, com uma melancolia boa percebemos que, talvez, esse poderia ter sido um romance bem escrito – mesmo que fosse por apenas algumas páginas da vida. Você não quis, a pessoa não quis ou simplesmente não deu tempo... Mas algo ali mostra que, puxa, poderíamos ter mudado o rumo de nossas histórias, porque, sim, eu poderia ter te amado. Não arranca pedaço. Não remói. Apenas mostra que a vida é a gente quem faz e, não, desta vez não fizemos. Dá vontade de dizer: “Ei, eu poderia ter te amado!”. É até doce.
    Mas, às vezes, essa mesma visão dói. Aquela história que poderia ter sido nossa é cortante, sangra a frustração e jorra arrependimento. Nada é mais dilacerante do que o arrependimento. Aquela vontade de voltar no tempo, aquele pesadelo constante de não conseguir explicar por que (por que, meu deus?!) não fiz diferente. E diante de nós, claro, saltita feliz um dos seres que poderíamos ter amado. Alguém com quem poderíamos ter dividido o cão, a barraca e os filhos. Sim, porque quando se trata de arrependimento nossa criatividade vai longe. É o mundo esfregando em nossa cara uma certa incompetência, ou o maldito azar que insiste em nos rodear. É azedo, custa a passar. Martela por dias entre os mais variados palavrões: “Caralho, eu poderia ter te amado!”.

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