Tania Menai viu o 11 de setembro de perto e fala das flores que nasceram nos escombros
No alfabeto judaico, o número dez simboliza o julgamento, o trabalho da lei. Em outras palavras, como alguém é julgado pelos seus atos nobres. Há dez anos, a Tpm nasceu. E, como diz um amigo mineiro, “ela só traz alegrias, sô”. Há dez anos também, presenciei uma das tragédias mais famosas da história da humanidade (infelizmente não foi a última): os ataques às torres gêmeas no dia 11 de setembro de 2001, aqui em Nova York.
Estava me preparando para ir ao médico checar uma dor no ombro, quando recebi um telefonema que mudaria toda a agenda do resto do ano. Mal posso acreditar que os
recém-nascidos naqueles dias hoje são rebentos
pré-adolescentes. No dia 11, e em todas as semanas e meses seguintes, mergulhei em histórias nunca antes vistas pelas bandas de cá. Entrevistei familiares, médicos, advogados, bombeiros, voluntários; nem o prefeito Rudy Giuliani escapou. Você escuta, escuta, escuta, escreve, escreve, escreve e vai tentando, aos poucos, digerir tudo aquilo. Entender já é pedir demais.
Peneira do bem
Quando se espreme tudo isso, temos que eliminar os detalhes sórdidos – que não são poucos – e ficar com as coisas boas que emergem de episódios como esse. Yes, há sempre algo bom que fica. Deixemos a resposta
militar dos EUA de lado e vamos focar nos
nova-iorquinos. Todos os bombeiros da rua 63 para baixo foram acionados, estando ou não na hora do trabalho – isso é gente para burro: 343 deles morreram. Repito, 343 deles morreram. Desde o primeiro dia, filas de gente se formaram em hospitais para doação de sangue.
Pessoas como eu e você catalogavam em seus laptops o tipo de sangue de cada um de pé na fila, caso alguém precisasse no futuro. Médicos e enfermeiras dobraram, triplicaram a jornada de trabalho. O Starbucks liberou café, os orelhões funcionavam gratuitamente. Parecia que tudo tinha sido ensaiado. Contabilizaram-se 2.749 sorrisos perdidos naquela manhã.
Ao longo dos anos, mais flores foram nascendo dos escombros: as histórias não acabam, e uma delas é de Susan Retik, a viúva de David, passageiro de um dos voos envolvidos nos ataques. Para ela, passar pelo luto – e criar duas
crianças pequenas – foi um mar de dificuldades. No entanto, ela conta que teve ajuda
incondicional de amigos e família. Ela continua na mesma casa e as crianças, na mesma escola.
Seu padrão de vida não mudou. Ao descobrir que no Afeganistão as viúvas de homens mortos em guerra não tinham o mesmo apoio, ela criou uma organização chamada Beyond the 11th (Além do 11), que ajuda essas mulheres a aprender habilidades para sobreviver e a organizar a vida de suas famílias. Afinal, Susan ressalta que todas as mulheres, não importa onde,
têm o mesmo sonho: colocar seus filhos em escolas e criá-los saudavelmente. Que venham mais Susans, mulheres nota dez.
Foto tirada sete dias após o ataque às torres gêmeas, em Nova York
Vai lá: Beyond the 11th
Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 15 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com