Alegria, alegria

por Ariane Abdallah
Tpm #95

Da protagonista de Capitães da Areia a Carlinhos Brown, artistas pra quem trabalho é lazer

Ana atua ao som de    
Carlinhos, que trabalha com

Na infância, a baiana Ana Graciela cuidava dos quatro irmãos mais novos e passava dias à base de bolacha Cream Cracker e chá de erva-doce quando a mãe estava desempregada. Há sete anos, foi morar com o pai no bairro de Pernambués, em Salvador. Ele deu a maior força quando ela chegou da escola contando que seria protagonista de Capitães da Areia, convidada por um “olheiro”. Mas ela própria estremeceu quando soube que teria cena de sexo. “Nunca um menino encostou em mim”, conta. Topou, fez amigos e, aos 15 anos, não espera nada do filme. “Já sou feliz.”

Filho de lavadeira, Carlinhos Brown adorava comer as mangas que cresciam no quintal de Daniela Mercury, sua vizinha de infância, em Salvador. Aos 47 anos, o músico que faz trilhas para o Carnaval de Salvador e o cinema de Hollywood é pai de seis filhos e nunca vai para a cama depois da uma da manhã. “A noite foi feita para dormir”, diz. Responsável pela trilha de Capitães da Areia, é amigo de “todos que sorriem”. O percussionista e ex-líder do Timbalada também é profissional. “E quando me convidam para trabalhar falando: ‘É bom pra você?’, digo: ‘Bom é pagar as contas’”, diverte-se.

Alê, que é amigo de    
Zé Wisnik
O produtor musical paulistano Alê Siqueira, que produziu a trilha de Capitães da Areia com Carlinhos, não tem telefone celular nem fixo. Ele mudou de casa três vezes em 2009, junto com a esposa, Katya, e os quatro filhos – a mais velha tem 14 e o mais novo, 1. Foi de Salvador à serra da Cantareira (SP), agora mora em Niterói. Não faz festa de aniversário para as crianças, não comemora Natal nem guarda fotos. Criado numa família de músicos, brincava de fazer trilha sonora para filmes de terror quando criança e, apesar de ser o único profissional da família, se diz amador. “Porque amo o que faço.”Apesar dos seus 5 mil livros e inúmeros CDs, o bem mais valioso do músico José Miguel Wisnik é uma fita super-8 com a infância dos quatro filhos. Autor de cinco livros, ele pratica ioga desde 2005. “Antes eu tinha corpo de atleta da cintura para baixo e de intelectual da cintura pra cima”, brinca. Pianista, Zé Miguel compôs com Caetano e Tom Zé, gravou três discos autorais e fez direção artística, por exemplo, de Do Cóccix até o Pescoço, de Elza Soares, produzido por Alê Siqueira. Aos 61 anos, não sabe como será sua rotina agora, já que acaba de se aposentar como professor de literatura da USP.

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