As Motherns questionam a sociedade do controle, mas adaptam a corujice à vigilância virtual
Não, este não é um texto sobre boas maneiras. Nem sobre educação sexual ou sentimental. Nem sobre drogas, vida escolar, violência urbana, uso da internet. Pelo menos não diretamente. Foi assim:
Tarde normal de sexta-feira. Sogra telefona:
– Filho, eu estou ligando pra sua casa e ninguém atende. Os celulares também não atendem. Será que está tudo bem?
– Ah, deve estar, mãe. Vou dar uma ligada lá.
Marido liga para mulher:
– Oi, tudo bem?
– Tudo. E aí?
– É que... você falou com as meninas hoje à tarde?
– Não...
– É que eu tô ligando há algum tempo e ninguém atende lá.
– Ué. Vou dar uma ligada.
Mulher para marido, meio tensa, meia hora depois:
– Ninguém atende, mas deve estar tudo bem. Só que agora eu não consigo mais trabalhar. Vou lá ver o que está acontecendo.
Mulher para marido, já a caminho:
– Não tô on-line, mas tive uma ideia.
– Chamar a polícia?
– Não. Entra no Twitter dela.
– Qual é o nome mesmo?
– ...
(pausa nervosa)
– Tem um tweet lá de 2 minutos atrás.
– Ah. Sobre o quê?
– Sobre um filme que tá passando na TV agora.
– Ah, tá.
– Então tá em casa, né?
– É...
Então a gente pensa. A sociedade da vigilância e do controle não permite que a gente fique fora de contato nem por poucas horas. Avós, pais e mães são paranoicos mesmo, mas não passe apertos nem pague micos desnecessários. Se sua criança está crescendo e é meio geek, não é preciso sair do trabalho pra saber se está tudo bem. Se quiser saber onde/ como/com quem está sua/seu filha/o no mundo real, procure no virtual. Porque é como dizem: o mundo (tal como o conhecíamos) está acabando mesmo.