por Clarissa Corrêa

Por que a gente gosta tanto de reality show?

Toda a noite, milhares de pessoas ficam vidradas na televisão para acompanhar o dia a dia de um grupo de pessoas. Loucura? Não, é reality show. O formato pode andar desgastado, muitos podem achar uma bobagem sem tamanho, outros tantos preferem trocar de canal a cada vez que toca a musiquinha de abertura. Mesmo que você não seja do time que fica reunido no sofá da sala para assistir paredões, amores e confusões, tenho certeza que inevitavelmente mais cedo ou mais tarde saberá o nome de um ou dois participantes.

Se você não gosta desse tipo de programa é só não assistir. Mas fique ciente de que mesmo sem querer um participante vai cair no seu colo, afinal, você lê revistas, jornais e sites de notícias. Acho que todo mundo tem direito de assistir o que tem vontade. O grande problema é julgar uma pessoa pelo que ela vê na televisão.

Não sou menos legal, bonita ou inteligente por assistir o “Big Brother”. Assisto porque gosto, porque me divirto, porque os jornais já me trazem muitas notícias ruins e quero desopilar, aliviar a cabeça e as tensões. E não vejo nada, absolutamente, nada de errado nisso. Não preciso ler Proust para posar de cult. Agradeço, mas rejeito esse rótulo. Quero ser eu mesma, sem me preocupar com o que os outros vão dizer. Por isso, me visto como quero, arrumo o cabelo como quero, caminho como quero, me porto como quero, trabalho como quero, leio o que quero e assisto o que quero. Vivo uma vida pra mim, não para mostrar para os outros. Por sinal, acho bem triste quem quer passar uma imagem irreal. A gente é o que é, com a parte madura, verde ou estragada.

Quem está acompanhando o “Big Brother” deve ter percebido o show de carência que uma das participantes deu há alguns dias. Fiquei com vergonha e constrangida por ela. Eu sei, sei que todas nós já tivemos momentos vergonhosos. Já fiz coisa que nem acredito. “Por favor, deixa eu dormir aqui”. E o cara querendo que eu fosse embora naquele segundo. O tempo passa, a gente cai na real e se arrepende de meia dúzia de palavras e ações. Mas, por favor, qualquer ser humano entende (será?) que quando uma pessoa te quer, ela te quer. É tão simples. Não existe vergonha, medo de exposição, receio, timidez, autoestima baixa ou medo de se envolver que faça alguma criatura pisar no freio quando ela realmente se interessou por você.

Demorei anos e anos para descobrir a maior simplicidade da vida e das relações. Não tem essa de não estou preparado, não quero me envolver, sou complicado, trabalho muito, acabei de sair de um relacionamento, estou confuso. Não tem nada disso. Se eu sinto sono, deito e durmo. Se eu tenho fome, abro a geladeira e preparo algo. Se eu preciso tomar banho, ligo o chuveiro. Se eu quero me interesso por alguém, me manifesto. É simples como beber um copo de água. As pessoas arranjam mil complicações e significados para uma coisa tão natural. Chega a ser assustador.

Aproveitando esse momento divã, vamos combinar uma coisa: mulher é mulher, homem é homem. Não, eu não sou a princesa dele. Não, ele não é o meu príncipe. Vamos parar com essa mania de perfeição e de mundinho rosinha fofinho. Fiquei louca de raiva e vergonha quando a menina chegou para o cara e disse que era a princesa dele. Detalhe: conheceu ele ontem. Detalhe: forçou o motor da Kombi pra ele ficar com ela. Detalhe: criou toda uma história encantada para os dois. A carência cega as pessoas. A carência te faz construir castelos de areia que nunca existiram (a não ser nos teus sonhos). A carência faz a gente não se reconhecer. Minha amiga, ainda dá tempo. Te olha no espelho e aprende: quem gosta de você te trata bem. Mas pra isso, aceita, a gente tem que se gostar. E muito. Seja na TV ou na vida real.

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