A monja moderna!

por Elka Andrello

Imagine uma cantora monja budista com uma voz absurda e a Tina Turner na platéia

Você consegue imaginar uma cantora monja budista com uma voz absurda, com a Tina Turner na platéia e se apresentando num festival com a Tracy Chapman? Essa é a Ani Choying Drolma, minha “vizinha” em boudha, em Kathmandu.

A monja pop star empresta sua linda voz para bancar seu monastério e projetos sociais sob críticas dos budistas conservadores que acham que lugar de monja é sentada rezando e não arrasando nos palcos do mundo todo e sustentando dezenas de mulheres vitimas de violência doméstica e extrema pobreza, que encontram na vida monástica uma oportunidade de estudar, viver com dignidade e se livrar de marido uó.

Quando eu soube que a Ani-la (la é um jeito carinhoso que os tibetanos usam para chamar alguém querido) vai cantar no Brasil pela primeira vez, corri para pedir uma entrevista. Super ocupada, recém chegada de Moscou e decolando para Índia e Brasil, ela me recebeu na sua casa mega gripada. Eu estava num dia de mega-mal-humor-sei-lá-por-que e saí do encontro leve como uma pluma, abastecida de girl power!

Ani Choying decidiu ser monja aos 10 anos de idade. Assim novinha, filha de um pai tibetano beberrão que espancava ela e a mãe, questionou os por quês da vida e se mandou para um monastério para estudar com o grande mestre budista Tulku Urgyen Rinpoche, que se tornou seu guru e mudou sua vida para sempre.

Rinpoche tinha um estilo diferente e bem bacana de ensinar, ele orientava seus alunos a conhecerem suas qualidades e defeitos, se ver sem máscaras, e assim se aceitarem e serem capazes de ser “do bem” para si mesmos e para os outros. Ani-la se tornou “unze”, a pessoa que canta os mantras nas práticas budistas, e um belo dia um músico chamado Steve Tibbetts Chö, que visitava o monastério, ouviu a monja cantando e a convidou para gravar um cd, o primeiro de vários.

Rinpoche deu total apoio e ofereceu uma transmissão oral para ela dos mantras sagrados escritos desde a época do Buda. Transmissão oral é uma tradição budista na qual um mestre qualificado transmite as bençãos de um texto sagrado, é uma prática que existe de professor para aluno há séculos. E é isso que torna as músicas da Ani Choying tão especiais, ela entoa os mantras carregados com bençãos dos budas de séculos atrás. Hoje ela conta com 9 cds lançados e paticipações em compilações como a do “Buddha Bar”.

Eu fiquei bem impressionada com a atitude moderna da monja. É difícil encontrar alguém que vem da vida monástica com idéias tão avançadas. Para começar, ela não chama a sua instituição de monastério, mas de escola para monjas, um lugar onde as meninas recebem uma excelente educação acadêmica, aprendem a falar inglês, usar o computador e internet, a trabalhar como agentes de turismo, assessoras de imprensa, aprendem pintura, dança e música.

Seu mais recente projeto foi comprar dois horários por semana na TV aberta nepalesa, onde que ela quer produzir um programa com uma pegada meio MTV e me convidou para fazer parte da equipe de criação. Seu argumento é simples e óbvio: os tempos mudaram e uma monja comprometida a ajudar as pessoas precisa se atualizar. E para completar, a monja moderna adora sapatos!Alguém aí ainda acha que lugar de monja é só sentada rezando?

Quer conhecer a Ani Choying?

Ela apresenta o espetáculo “Mantras e outros sons” em Belo Horizonte no Festival FITBH

Sábado, 14 de agosto, às 17 horas, na Casa do Baile (Avenida Otacílio Negrão de Lima, 751, Pampulha). Domingo, 15 de agosto, às 16 horas, no Parque das Mangabeiras (Rua Caraça, 900 – Serra).

Tel. informações para o público: 3277-4366

portalbelohorizonte.com.br/fit

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Biografia

"A minha voz pela liberdade", Any Choying Drolma

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