Nosso corpo fala, mas será que estamos entendendo?

por Redação

Quantas vezes já fizeram você odiar seu corpo simplesmente pelo que ele é? Na Casa Tpm 2023, nos reunimos para falar sobre autoestima e liberdade num mundo repleto de padrões e julgamentos

Podemos nos amar, cuidar e admirar, mas para dar um passo lá fora é preciso reafirmar o que deveria ser natural: a história de cada uma, impressa em carne e osso. Em setembro, mais de 1 mil mulheres se encontraram na OCA, no Parque Ibirapuera (SP), para discutir como é viver em corpo de mulher. Assuntos como envelhecimento, esporte, sexualidade e maternidade foram pauta das mesas que reuniram mulheres inspiradoras durante uma tarde de conversas, performances, música e teatro na Casa Tpm. Os ingressos antecipados se esgotaram em menos de 12 horas para este encontro que celebrou nossos corpos e investigou os caminhos para que eles possam existir em paz num mundo que ainda insiste em dizer como temos que ser. Muita coisa boa rolou por lá, e a boa notícia é que quem não conseguiu participar não precisa ficar de fora dessas conversas tão potentes. A seguir, você pode assistir aos debates e performances que reuniram Denise Fraga, Maria Bopp, Gabi Loran, Vera Iaconelli, Cris Gutteres, Paolla Oliveira, Preta Rara, Grace Gianoukas, Jéssica Balbino, Mari Lobo e outras mulheres que representam um pouco de cada um de nós.

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“Toda a dor dilacera, mas o que a torna intolerável é que quem a sente tem sempre a impressão de estar separada do resto do mundo. Partilhada, a dor ao menos deixa de ser um exílio”
Denise Fraga, atriz

“Não é por prazer, por provocação ou por exibicionismo que os artistas relatam experiências terríveis, desoladoras. Através da arte, nós universalizamos essas experiências e permitimos que o público conheça, nos seus sofrimentos individuais, o consolo da fraternidade. Essa é uma das funções essenciais da arte: superar a solidão – que é comum a todos nós e que, no entanto, faz com que nos tornemos estranhos uns aos outros”, diz Denise Fraga. Na Casa Tpm, a atriz deu uma palinha de sua peça “Eu de você“, em cartaz desde 2019, que trança histórias reais a trechos de literatura, poesia e música.

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"O meu corpo foi invalidado antes de eu ter uma questão com ele. Eu descobri que era uma criança gorda na escola, aos 4 anos, quando fui impedida de brincar. Passei muito tempo achando que tinha que adequar meu corpo para existir, até entender que ele é uma ferramenta pra viver no mundo, e não pra agradar aos outros"
Jéssica Balbino, jornalista

Cada mulher carrega características que são cotidianamente transformadas em defeitos e estigmas: desleixo, inadequação, doença, ou, na menos pior das hipóteses, ousadia. Corpos fora do padrão, cabelos brancos, deficiências, marcas, cicatrizes, rugas, celulites, dobras, flacidez, pelos, estrias… Quantas vezes já fizeram você odiar seu corpo simplesmente pelo que ele é? Mas ninguém precisa se culpar por isso: se admirar é um exercício pra vida toda – e juntas fica mais fácil encontrar beleza em tudo aquilo que aprendemos desde pequenas a querer mudar. Reunimos a diretora criativa Andreza Delgado, a jornalista Jéssica Balbino, a estudante e curadora Maria Carvalhosa e a psicanalista Vera Iaconelli para refletir sobre como podemos celebrar nossos corpos sem culpa para que eles possam existir em paz num mundo que ainda insiste em dizer como temos que ser.

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"Ao envelhecer as pessoas perdem a voz, perdem a vez, se tornam invisíveis. Vai havendo um apagamento em vida, um silenciamento. Alguém responde pelos mais velhos como se não estivesse mais ali"
Maria Bopp, em leitura do trecho do livro Afetos Colaterais

Durante anos, a professora e escritora Bettina Bopp anotou as conversas e os caminhos às vezes tortuosos dos pensamentos de sua mãe, Maria Elvira, diagnosticada com uma doença degenerativa. Desses escritos nasceu o livro “Afetos Colaterais”, lançado em 2023, uma busca pela poesia na despedida. Na Casa Tpm, sua filha, a atriz Maria Bopp, leu um trecho das crônicas que falam sobre a memória, o sentido da vida e a inexorabilidade da morte.

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“Tive o corpo hipersexualizado desde a pré-adolescência. Cresci na igreja e tinha que andar comportada, apesar de ter sido sempre uma mulher grande: tudo que eu vestia parecia vulgar, apesar de eu não me enxergar dessa forma. Demorei para reconstruir minha relação com o corpo”
Mari Lobo, modelo e criadora de conteúdo

Desde criança, o corpo de uma mulher é tratado ora como propriedade pública, ora como sagrado. E o prazer feminino segue sendo um tabu. Ouvimos desde crianças "feche a perna", "não coloque a mão aí", mal sabemos a diferença entre vulva e vagina e, muitas vezes, iniciamos a vida sexual sem entender nosso próprio corpo e desejos. Em um debate oferecido pela Quem Disse, Berenice?, a atriz Martha Nowill conversou com Mari Lobo, modelo e criadora de conteúdo, e a diretora de marketing Bruna Buás sobre como “desproibir” o corpo feminino.

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“Na infância, as mulheres dificilmente são incentivadas a praticar um esporte. Para os homens é sempre uma diversão, uma brincadeira, mas para nós existe essa associação muito grande com a busca por um corpo perfeito”
Cris Guterres, jornalista, apresentadora e escritora

Você já sentiu que esporte não é pra você? Isso não acontece por acaso. Enquanto os meninos desde cedo são estimulados à prática por pura diversão ou saúde, acabamos associando esporte à busca do corpo perfeito — e contando com pouco tempo livre para cultivar esse hábito, já que mulheres estão sempre sobrecarregadas cuidando muito dos outros e pouco de si mesmas. Em um debate oferecido por Nike, a jornalista Cris Guterres conversou com Verônica Hipólito, atleta paralímpica, e Rafa Brites, palestrante e apresentadora, sobre as estratégias para quebrar as barreiras entre as mulheres e o prazer do esporte.

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“O período em que eu estava mais magra, por causa de uma depressão profunda, foi quando mais recebi elogios: ‘nossa, como está linda’. Quando o assunto é corpo, a principal regra é: não fale sobre o corpo do outro”
Gabi Loran, atriz e criadora de conteúdo

“Muitas vezes fui atacada pelo meu corpo”, diz Gabi Loran. “Foi muito triste receber elogios no período em que fiquei muito magra por causa de um quadro de depressão. Um tempo depois, desenvolvi uma compulsão alimentar associada à ansiedade, engordei e ouvia: ‘nossa, você era tão bonita quando era magrinha’”. Na Casa Tpm, a atriz falou sobre o corpo que habitamos — e como ele está sempre sendo julgado e questionado pelos outros. “A gente precisa pensar duas vezes antes de perguntar a uma pessoa sobre seu corpo”.

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"Estamos no momento de voltar a contar a história desse país pelos olhares femininos, pelo ponto de vista das mulheres. Saibam que se você está vivendo dentro desse corpo, esse corpo é teu, faz dele o melhor por ele, mas não o rejeite. Se não, se a pessoa não se aceita, tem que desencarnar"
Grace Gianoukas, atriz e diretora​​

Nos ensinaram que envelhecer é a pior coisa do mundo. Passamos muito tempo acreditando que disfarçar os sinais da idade no nosso corpo é obrigatório – mas que também torna-se proibido ter cabelos compridos, mostrar o corpo ou até mesmo sentir prazer. Se livrar desses padrões não é fácil, mas é um caminho possível e prazeroso. Esse foi o assunto do papo da jornalista Milly Lacombe com a atriz, autora e diretora Grace Gianoukas e a empresária Egnalda Côrtes.

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"Que liberdade é essa que fala que o meu corpo é livre, que eu posso usar a roupa que eu quiser, mas eu posso ser agredida ou estuprada? Que liberdade é essa em que a gente é julgada por envelhecer ou por escolher não ser mãe?"
Paolla Oliveira, atriz

Não é fácil falar sobre liberdade num mundo ainda tão cheio de tabus para as mulheres. É urgente e necessário encontrar modos de escapar das prisões, pressões, expectativas e julgamentos aos quais somos condicionadas. Mas como fazer isso? Ser livre pode até ser uma ideia abstrata, mas ela pode servir de guia para continuarmos existindo e resistindo num mundo que faz de tudo para nos limitar. E foi sobre essa tal liberdade o papo da consultora de criatividade e inovação Cris Naumovs com a rapper e escritora Preta Rara e a atriz Paolla Oliveira.

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Casa Tpm 2023
Patrocínio: Quem Disse, Berenice?
Copatrocínio: Nike Woman
Apoio: Enjoei

Créditos

Imagem principal: Julia Rodrigues (@juliarodr.gues)

Julia Rodrigues (@juliarodr.gues)

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