A Casa Tpm 2022 mergulha num assunto que faz parte da vida de todas nós: a maternidade. Sem clichê, tabu ou romantização, reunimos mulheres potentes para trocar dores, transformações e descobertas
Ser mãe é foda. É descoberta, transformação, amor e também solidão, renúncia e (muita) culpa. É uma ruptura, que deixa muita coisa para trás e dá à luz tantas outras. A maternidade não é só nossa, porque ela existe dentro de uma dinâmica patriarcal que oprime, responsabiliza e negligencia as mulheres. Mas ela também é nossa. E faz parte da vida de todas nós. Na escolha ou não de exercê-la, na relação com as nossas mães, famílias, amigas e as aldeias que construímos para nós e junto com outras mulheres. Se pretendemos continuar existindo, precisamos de mães. E é por isso que, em 2022, a Casa Tpm mergulhou nesse assunto. A partir desta quinta (10), às 23h, um time potente se encontra na TV Cultura e no YouTube da Tpm para um papo sincero sem clichê, tabu ou romantizacão.
No primeiro episódio, Egnalda Côrtes, Lore Improta, Ana Canosa, Deh Bastos, Tati Bernardi, Hana Khalil, Giselle Itié, Lian Tai, Anelis Assumpção, Helen Ramos e outras mulheres inspiradoras falam sobre a culpa(da) que nasce com a chegada dos filhos, o abismo na divisão de carga, angústia e responsabilidade entre homens e mulheres, a dificuldade em se encontrar – e reencontrar – na jornada da maternidade e as relações tóxicas que também existem, sim, entre mães e filhas.
Assista:
“Quem inventou a frase ‘nasce uma mãe, nasce uma culpa’ com certeza foi um homem. É interessante manter o corpo de uma mulher culpado e controlado, sem saber o que é o gozo, para que elas não busquem o seu protagonismo e a gente não avance como sociedade”
Egnalda Côrtes, empresária
Culpa por trabalhar e passar menos tempo com o filho, culpa por não trabalhar. Culpa por não dar conta de tudo, culpa por recorrer à rede de apoio. Culpa por mergulhar profundamente na experiência da maternidade, culpa por desejar não ser mãe por um instante. Quem dá conta de tanta culpa? “Eu queria ser uma supermãe, dar conta de tudo. A gente se culpa muito e quem trabalha com a internet sabe como é difícil, porque todo mundo quer dar opinião. Precisei ouvir e trocar experiências com outras mães para começar a tirar um pouco dessa sobrecarga”, diz a dançarina e apresentadora Lore Improta. Ela bateu um papo com a empresária Egnalda Côrtes e a psicóloga Ana Canosa sobre as expectativas inalcançáveis, idealizações e pressões que cercam a maternidade. "Mãe, pai ou cuidador tem que ser estrela guia, aquela que vai iluminando, vai ajudando a entender. Mas isso ficou muito distorcido, como se fosse a mãe a única personagem dessa construção", diz Ana. Criar lugares seguros para que mães possam dividir de verdade o que vivem é essencial pra aliviar tanta culpa e julgamento jogados sobre nós. Quantas vezes você já sentiu que precisava dar conta de tudo?
"Minha mãe tem uma filha que ela ama e outra que ela odeia. O problema é que eu sou filha única"
Tati Bernardi, escritora
Apesar de todo afeto que envolve a maternidade, muitas vezes acabamos não falando de como é difícil se afastar quando o relacionamento com a mãe não é saudável. "A minha mãe nunca dizia que tava de saco cheio de mim… Ela parecia feliz, mas eu percebia que ela ia me matar às vezes", diz Tati. "Eu acho que somos meio tóxicas uma para a outra". Para a influenciadora Hana Khalil, é preciso olhar para os pais antes de falar sobre as mães. "A mulher acaba ficando sozinha, sobrecarregada, e coloca em cima dos filhos as expectativas e os erros que ela não quer cometer na vida dela”, diz. “Se a gente quer quebrar o ciclo de traumas passados de geração para geração, não podemos tentar mudar nossa mãe. Tomei a decisão de não me afastar da minha, mas estou atenta para as suas falhas”. Fundadora do projeto Criando Crianças Pretas, Deh Bastos acredita que existe algo cultural da propriedade da mãe sobre o filho – e, quando ela vira mãe, se torna 'dona' duas vezes. “Eu aprendi muito tarde que eu era uma mulher preta e minha mãe só soube desta realidade através de mim. No momento em que ela me perguntou se foi por falta de letramento que eu cresci com tanta ferida, percebi que ela fez o melhor que pode”, conta.
“A maternidade é uma jornada dupla porque às vezes a mulher também tem que maternar o pai da criança”
Anelis Assumpção, cantora
Como seria nossa sociedade se a responsabilidade pela criação dos filhos fosse dividida igualmente entre pais e mães? Quantas mães assumem sozinhas o cuidado das crianças mesmo tendo um companheiro sob o mesmo teto? E quantas delas precisam também cuidar do pai de seus filhos? Na Casa Tpm, a cantora Anelis Assumpção, mãe de Rubi, Benedito e Bento, bateu um papo com a atriz Giselle Itié e a modelo e escritora Lian Tai sobre as transformações que nascem com a maternidade e como dar conta da carga e das culpas jogadas sobre as mulheres. "A gente não para de se transformar na maternidade. É uma atividade constante, como envelhecer ou se desinteressar por pessoas e coisas, e se interessar por outras. A sua vida vai mudar para sempre, todos os dias", reflete Anelis. Para Lian, essa conversa é mais que essencial. “A gente tem todo o direito de ver e falar sobre o quanto a maternidade é bonita, mas também temos que discutir o outro lado. Porque não falar sobre isso, ou seja, romantizar, silencia e isola mulheres diariamente”, diz. A atriz Giselle Itié, mãe de Pedro Luna, 2 anos, desde o nascimento de seu filho vive esse processo de se encontrar – e reencontrar. “Fiz algumas escolhas para trazer uma maternidade acolhedora para o meu filho, como a cama compartilhada e a amamentação livre demanda, que depois de um tempo deixaram de ser positivas para mim. Me faltou autocuidado. Agora estou num movimento de reconexão, de tentar entender quem eu sou”, diz. “Eu não me reconheço mais. Ainda estou tentando entender quem é a Giselle Itié Ramos”.
"O bom de ser pai é que não tem culpa, pai é zero culpa. Eu também quero ser pai!"
Helen Ramos, atriz
Quem não quer criar um filho sem a carga pesadíssima que o patriarcado joga nas costas das mulheres? A atriz e roteirista Helen Ramos reflete sobre um desejo comum a muitas mães: ocupar o lugar de pai. Ela deu a letra: "Eu queria ter mais filhos sendo pai. Quero no puerpério já poder sair sem ter hora de voltar pra amamentar, tomar umas cervejas enquanto faço as compras de casa, malhar todo dia – saúde é importante, sabe como é... Quero ter uma viagem imprescindível já nos primeiros quinze dias do bebê. Não pude dizer ‘não’ para o trabalho, afinal, um filho vai ter chegado, né? Eu não vou me preocupar com médico, dentista, mas calma! Eu posso até levar se me derem a carteira de vacinação e me falarem onde, como e que horas levar. Eu posso acabar esquecendo, mas, pô, se me lembrar um dia antes eu vou e ainda posto no Instagram. Ah, se eu tiver casado quero voltar pra casa após um dia puxadíssimo e mesmo assim me oferecer pra dar banho, porque pega super bem falar que dou banho. E em seguida o jantar do bebê vai estar pronto porque alguém se afundou em 89 leituras sobre introdução alimentar. Quero educar na base do meu achismo e do meu ego, muito videogame 18+ pra criança, muito iPad , muita TV e zero, zero culpa. O bom de ser pai é que é zero culpa"
Casa Tpm 2022
Toda quinta, às 23h, na TV Cultura ou no YouTube da Tpm
De 10/11 a 1º/12
Créditos
Imagem principal: Layla Motta (@laylamotta)