Tinha 16 e ela me ensinou que mulher também sente tesão! Minha vida nunca mais foi a mesma
Conheci a Rita em Belém do Pará em 1978, quando eu tinha 16 anos e perambulava pelo norte do Brasil com a séria intenção de ser hippie. Estava numa festa gay em uma casa abandonada. Ela era a única mulher e eu, o único heterossexual na festa. Depois de uma troca rápida de olhares e uma ou outra palavra, subimos para um quarto onde passei uma das noites de sexo mais memoráveis de minha vida. Foi a Rita que me ensinou algo chocante que até então eu desconhecia: mulher também sente tesão! Depois daquela noite minha vida nunca mais foi a mesma.
A Rita era morena, meio índia, com lábios de Iracema e muito gostosa. Tinha 20 e poucos anos (para mim era uma coroa) e fazia – como se dizia na década de 70 – michê. Era uma puta de luxo agenciada por um gigolô gay que a levava até os clientes num Maverick Quadrijet. Eu achei que aquela noite de absoluto tesão jamais se repetiria, mas já no dia seguinte a encontrei num bar e ela me levou para sua casa. Cozinhou um estrogonofe de frango e me puxou para o seu quarto. No dia seguinte trouxe minha mochila e meu violão para sua casa. Eu estava com a bola toda.
Tudo o que ela queria era desesperadamente ser mãe de alguém e me elegeu para o cargo de filho. Insistiu muito para que eu raspasse a barba e cortasse o cabelo. Acabou conseguindo. Me comprou roupas novas para que eu não me vestisse mais como um hippie. Queria até me proibir de fumar maconha e impor minha presença na missa no domingo – mas isso já era demais.
Tudo aquilo – inclusive seu jeito possessivo – me fazia sentir homem pela primeira vez. Me via como protagonista de um filme de Billie Wilder ou de uma canção do Chico Buarque de Hollanda. Eu era um marinheiro com o corpo tatuado e dentes de ouro, um poeta romântico que vagava pelo mundo. Nápoles, Osaka e Nova Orleans. Em cada porto, por minha vida afora, eu teria uma Rita me esperando. Comecei a fumar cigarros sem filtro.
Serviços orais
Passaram-se algumas semanas e o tesão ia ficando cada vez maior. Mas um dia, na praça da República, estava conversando com um grupo de turistas portugueses e ela passou do outro lado da rua. Um deles comentou que tinha comido ela há poucos dias, elogiando seus serviços orais. Voltei para casa enfurecido e decidido a tirá-la daquela vida.
Mas ela tinha aquela sabedoria concreta de quem já passou fome e sofreu despejo com a família. Fugir pra onde? Pra fazer o que e viver como? Não lembro como aquilo terminou. Fui embora, mas, por muitos anos, Rita permaneceu como fiel protagonista de minhas fantasias.
Tanto tempo passou e eu a esqueci como um livro lindo que não lembrava ter lido. Mas o tema desta edição é Prazer, e mais de 30 anos depois a Rita veio de madrugada bater à minha porta aqui em Londres. Que delícia que foi a Rita de Belém do Pará.
*HENRIQUE GOLDMAN, 47, cineasta paulistano radicado em Londres, é diretor do filme Jean Charles. Seu e-mail é hgoldman@trip.com.br