Rir
Rir aproxima a gente do que há de melhor na vida. Comecei a rir faz pouco tempo. Exatamente quando percebi que estava já começando a sentir falta de coisas e não de pessoas. Quando ficou claro para mim que estou substituindo pessoas por coisas. Estou dialogando muito mais com o computador, com os canais a cabo e com o aparelho de DVD, do que com qualquer outra pessoa. Estou cooptado pelo consumismo. Até no que há de pior já me adaptei, após haver estado mais de 30 anos preso. É glória para mim, ao tempo que desespero.
O mundo de relações é extremamente dificultoso. Sartre dizia que “o inferno são os outros”. Mas não era bem dos “outros” que ele falava, e sim do conflito que é o nosso relacionamento com as outras pessoas. Somos, na verdade, eternos aprendizes em termos de relacionamento. Sempre temos algo a aprender com os outros. Às vezes eles nos ensinam até a evitá-los. Então, até sem perceber ou querer, reagentes, passamos a trocar mais com os cães, gatos, passarinhos e bichos de estimação. Eles não nos oferecem problemas que não podemos resolver. Depois com os aparelhos (celular multifuncional é imprescindível, todo mundo tem) e a “coisarada” toda que nos é impingido goela abaixo.
Já dizia o poeta que “toda forma de amor vale a pena”, até essa aos bichos, à natureza e porque não às coisas? O problema é que tanto bichos como coisas não retribuem para sempre. Cessam de existir, quebram ou acabam com brevidade. Principalmente são substituíveis.
Será que não conseguimos com as outras pessoas? Claro que sim. Pode não ser o ideal e nem o satisfatório, mas temos todos os atributos para seduzir e apaixonar. E, devo acrescentar que todo afeto conquistado é para sempre. Meus amigos e afetos estão aqui dentro de mim. Alguns já morreram, mas continuarão vivos em quase tudo que faço, sinto ou penso. Sou a somatória sedimentada de tudo o que aprendi e senti com os outros, com a vida e comigo mesmo. Nós nos constituímos a partir do relacionamento com os outros. É preciso aprender a rir e zombar de quase tudo. Não podemos levar os enganos nossos e dos outros tão a sério. Nós decepcionaremos e seremos decepcionados; somos aprendizes nesse mundo de coisas que infere viver.
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Luiz Mendes
17/11/2010.