Nada do que vivi era falso. Porque sempre me levou a aprendizados. Por haver ficado mais de 30 anos preso, pode-se pensar que nada sei sobre relacionamento humano. Na prisão somos humanos também e nos relacionamos como tais. Estou com 62 anos; vivi grandes emoções e conheci pessoas incríveis. Amei e fui amado. E, mesmo preso, vivi momento felizes.
Acredito, sinceramente, que encenamos o que não somos porque não temos coragem e nem habilidade para protagonizar o que somos. Isso fica evidente no nosso relacionamento com o outro. O mundo de relações é complicado. A começar pela família. As estatísticas mostram que mais da metade dos pais são alcoólatras. Pai não é pai coisa nenhuma. Assim como ser mãe não torna a mulher diferente do que é. Família não é o que se representa e sim o que se vive no dia a dia. E a proteção que oferecia, não existe mais. A não ser nos anseios das pessoas. Há muito que deixou de ser o melhor lugar do mundo para se criar gente.
Hoje é a televisão quem educa nossos filhos. Lá estão eles: de olhos redondos de curiosidade, alegria em cada novo conhecimento e prazer na exploração de seu espaço/tempo. Logo serão transformados em “normopatas”, como querem os psicanalistas. Delineamos espaços e nos voltamos cada vez mais para o individualismo pragmático, sem ideologias. Compartimentamos sonhos, calculamos prazeres e ficamos incoerentes. Principalmente, não temos mais curiosidade porque nos ensinaram a temer surpresas.
Reingressei ao meio social, atento a fazer o mais certo que pudesse. Fui aprendendo que relacionamento é esforço contínuo e que é de fragilidades que se constrói fortalezas. Sei que todos somos profundamente carentes de consideração e respeito. Minhas carências sempre ultrapassaram minha capacidade de suportá-las. Mas sentir minha importância para aqueles que me amavam, era grandioso. Enquanto conseguia essa importância, nada mais importava, nem a dor ou a morte. Mas nada é como é para sempre e tudo vai se transformando independente de nossa vontade.
Tudo fica mais difícil porque diante de nossos olhos. Enxergamos mas não conseguimos verbalizar. O pragmatismo ocidental nos ensina que o caminho é o da acumulação a qualquer preço. O método mais baixo é o da corrupção. O que pensar? Relacionamentos fazem parte da vida e são importantes para a existência produtiva que todos queremos. A partir de assumir que é fundamental o relacionamento para o desenvolvimento sadio da pessoa humana, é preciso assumir também que não sabemos quase nada sobre isso. Nós nos relacionamos mal. Tratamos os outros como imaginamos que somos tratados, não acrescentamos nada. Ninguém diz tudo o que faz e nem faz tudo o que diz. Conversamos desconversando de modo a estarmos ausentes. Nada importa além de nós mesmos e nossos problemas.
Não tenho uma solução. Apenas posso afirmar por experiência, que o amor não é o principal elemento no sucesso das relações. Ele não se basta e carece de bases seguras para vicejar. Acredito, sinceramente, que a plataforma mais segura para desenvolver sentimentos e, portanto relações, é o respeito.
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Luiz Mendes
12/10/2014.