A internet é o único veículo onde ainda é possível falar o que bem entendemos
Na internet, encontramos trocentas manifestações, falas iradas e abaixo-assinados mostrando a corrupção e os absurdos de nossos políticos. É o único veículo onde ainda é possível falar o que bem entendemos
O conhecimento não se esgota. Ao contrário, multiplica-se. Ao buscar conhecimento, entramos no desconhecido. O fluxo do que não sabemos é a fonte de toda surpresa e novidade. Acho que é assim que funcionam as redes sociais. Uma caixa de surpresas a explodir na cara da gente a todo instante. Por isso todo esse frisson em relação à internet, que parece cair de paraquedas na história da humanidade. Os mais tímidos e reprimidos têm todas as chances de se relacionar. Muitos casais foram formados a partir do conhecimento virtual. Nas redes, o anonimato é possível e é até recomendado, por conta das invasões.
Fala-se muito do perigo que é se relacionar com pessoas desconhecidas. Mas ninguém liga muito para os riscos. As novidades, emoções e possibilidades são a seiva da vida das pessoas. Temos interesse natural e espontâneo por relacionamentos. Todos nós, ao fim e ao cabo, queremos ser amados, queridos ou pelo menos considerados. Quem diz não querer se engana. É apenas uma reação ao que é novo e desconhecido. O que desconhecemos pode nos assustar.
As novas redes de relacionamentos surgem e rapidamente estão lotadas de pessoas interessadas. E não são somente os tímidos e inibidos. A primeira rede social foi o Friendster, criado em 2002, que dominou o cenário com mais de 1 milhão de usuários. Mas era um relacionamento de pequenos grupos familiares ou amigos ainda não integrados. Depois surgiu o MySpace, que tentou criar um núcleo e usuários mais fortemente conectados. O Orkut também, no início, foi uma explosão de acessos. Lembro quando começou; a repórter Renata Leão veio me convidar, mas era algo quase secreto. Havia algo de escolha, de seleção de pessoas mais antenadas, ilustradas e, portanto, mais interessantes. Junto com o MySpace, foi ultrapassado pelo Facebook no total de usuários a partir de 2009. Hoje o Facebook e o Google+ dominam a cena das redes sociais.
Há também a história dos coletivos que se desenvolveram através das redes. Participei de várias passeatas na avenida Paulista convidado pelo coletivo Dar. Seus objetivos e convocações se expandiram no Facebook levando multidões às ruas. O potencial de mobilização política oferecido pela internet via suas redes vai se provando cada vez mais eficaz. Ainda não atingiu todo o seu potencial, mas tudo indica que chega lá.
FORA, RENAN
Agora mesmo, se acionarmos o “Face”, encontraremos trocentos protestos, falas iradas, citações de grandes pensadores, abaixo-assinados mostrando a corrupção e as absurdidades de nossos políticos. Há protestos do Greenpeace contra o fato de o senador Blairo Maggi, apelidado de “motosserra de ouro”, ser colocado à frente da Comissão de Meio Ambiente. O comentário é que é a mesma coisa que colocar a raposa para tomar conta das galinhas. Há manifestações contra o pastor evangélico Marco Feliciano, que ataca negros e homossexuais e foi colocado por seus pares para chefiar a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Com tais preconceitos, como comandar alguma coisa que diga respeito a direitos humanos? Já se colheram milhares, se não milhões, de assinaturas em abaixo-assinado nas redes sociais para tirar Renan Calheiros da presidência do Senado. A eleição de Henrique Eduardo Alves para presidente da Câmara dos Deputados também foi totalmente repudiada nas redes.
Os limites do absurdo, da decência, da razão e do humanismo foram ultrapassados, e nós não nos calamos. Falamos e escrevemos sobre o que pensamos e sobre a indignação que sentimos. Pode não acontecer nada
do que desejamos agora, mas esta lá registrado para que um dia aconteça. E não é só isso: não somos anônimos. Mostramos a nossa cara, o nosso nome e o nosso endereço eletrônico. Para nos alcançar é só querer.
Meus parabéns a todos os internautas que protestam e emitem suas opiniões. Esse é o único veículo de comunicação democrático que temos e onde ainda é possível falar o que bem entendemos.
*Luiz Alberto Mendes, 60, é autor de Memórias de um sobrevivente. Mantém o blog Mundo Livre no site da Trip. Seu e-mail é lmendesjunior@gmail.com