O brasil necessita de políticos de cabeça aberta aos valores e ideias das novas gerações
Nas últimas edições, nossa coluna mergulhou em temas cruciais para a construção de uma outra política. Falamos de uma revolução necessária em relação à transparência, passamos pela urgente simplificação da política e agora vamos falar do que chamamos de cabeça aberta para o novo.
Uma política de cabeça aberta para o novo é antes de mais nada comprometida com valores e ideias da nova geração. Trata-se de uma opção comportamental de aproximar a prática política de conceitos que estão na ordem do dia – muitos deles inclusive já vêm sendo debatidos nas edições temáticas da Trip, e experiências práticas significativas relacionadas a esses temas são reconhecidas pelo Prêmio Trip Transformadores. O mundo político tem muito a apreender com os projetos sérios sobre conexão, liberdade, diversidade, saber, biosfera, trabalho, teto, entre outros tópicos abordados por aqui.
Emblema dessa tal cabeça aberta é, por exemplo, a necessidade de pautarmos absolutamente todas as ações políticas sobre uma plataforma sustentável do ponto de vista ecológico. Essa visão deve ser transversal a todas as áreas de governo, regra fixa imposta pelo governante e lei para todos os homens públicos. Não dá para ver, em pleno aquecimento global, secretarias e até o Ministério do Meio Ambiente mendigando orçamento e espaço político em governos nem acreditar na Medida Provisória 458, que versa sobre a ocupação da Amazônia e que perigosamente amplia a exploração comercial da região.
Outro símbolo de uma política diferente é a percepção da importância da economia criativa, derivada da explosão de ações e serviços que a imensa criatividade de nosso país gera e que é pouquíssimo explorada do ponto de vista estratégico e econômico pelos governos. A noite de São Paulo é um exemplo do descaso, empregando milhares de pessoas, gerando riqueza para a cidade e ao mesmo tempo sendo combatida e reprimida pelas autoridades que só a enxergam como algo pervertido e isolado.
Pitacos online
A utilização das novas tecnologias, em especial as redes sociais da internet e os sistemas colaborativos, também pode ser listada como medida prioritária para aproximar a política dessa revolução comportamental da nova geração. Os partidos adoram falar em democracia representativa e em conselhos de consulta popular. Mas imagine que bom seria se esses conselhos fossem substituídos por redes sociais que, através da inclusão digital, pudessem ouvir a opinião de todos os interessados em dar pitaco no rumo das políticas públicas, sem interferências de aparelhamentos partidários e pressões externas.
Exemplos de como a política pode ter a cabeça aberta para o novo não faltam, e iniciativas interessantes que podem ser incentivadas nesse contexto pipocam por aí. O problema é que, para ser posta em prática, esse outro modelo depende de políticos absolutamente antenados aos novos anseios do mundo e a tudo que está acontecendo de novidade. Não acredito que os velhos políticos de hoje possam compreender esse assunto. Alguns até tentam posar de modernos, mas sempre soam falsos.
A outra política passa sim por transparência, simplicidade e cabeça aberta, mas depende de gente arejada e formada no turbilhão da diversidade e da multiplicidade de informação do nosso mundo. A cada dia jovens brilhantes conquistam espaço nos mais variados meios e chegam ao poder em empresas, agências, mídias, tribunais etc. Temos que convencer os ligados ao novo a entrarem também na arena pública, para antenarem a política à nova ordem mundial, livre de dogmas arcaicos, ideologias ultrapassadas, vícios geracionais e a tantos trambiques do arco da velha.
*Alê Youssef, 33, é sócio do Studio SP e foi um dos idealizadores do site www.overmundo.com.br. Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br