Potência cavalar

por Luiz Guedes
Trip #202

A indústria automobilística jamais conseguiu se distanciar da referência equina



Da força dos motores ao batismo de modelos, a indústria automobilística jamais conseguiu dissociar seus produtos da referência equina, presente em clássicos como Mustang, Maverick e Corcel

Desde os primórdios da motorização, é recorrente o fato de os fabricantes de automóveis evocarem animais na hora de batizar seus modelos. Mas nenhum serviu tanto de inspiração quanto o cavalo – até mesmo os primeiros carros eram chamados de “carroças sem cavalos”. O fato é compreensível: afinal, até que veículos automotores fossem inventados, o equino reinou como o principal meio de locomoção humana para grandes distâncias. Referência de força que, não por acaso, a indústria automobilística continua a utilizar para exprimir a potência de seus produtos.

E por que a potência de um motor é medida em cavalos? Apesar de muitos acreditarem que um carro de 60 cv equivale a uma carroça puxada por 60 quadrúpedes, a explicação é outra. Na verdade, a unidade cv (cavalo-vapor) foi baseada no trabalho feito por cavalos nas minas de carvão inglesas do século 18. O pai da teoria, o inventor James Watt, desenvolveu motores a vapor que substituíram a força dos cavalos na tarefa de içar os pesados baldes de carvão das profundezas das minas. Watt definiu que 1 cv é a potência para elevar um objeto de 1 quilo a uma altura de 1 metro em 1 segundo. No Brasil, a indústria adota o termo cv, que deriva do francês “cheval-vapeur”. 1 cv equivale a 0,9863 horse-power (ou simplesmente HP) inglês.

O trinômio automóveis-zoologia-cavalos já fez nascer clássicos sobre quatro rodas como Mustang e Maverick. O animal também aparece no brasão de duas das principais marcas de modelos superesportivos, caso de Ferrari e Porsche. No mercado nacional, o maior exemplo de sucesso foi lançado em dezembro de 1968 sob o nome de Ford Corcel. “O modelo foi desenvolvido numa parceria entre a Renault francesa e a Willys Overland do Brasil, que foi adquirida pela Ford em 1967”, explica o contador Daniel Billalta, 30 anos, proprietário de um raro exemplar 1977 (foto) – último representante da primeira geração do Corcel, antes da reestilização que culminou no lançamento do Corcel II.

Sucesso comercial, o Corcel teve mais de 1,4 milhão de unidades produzidas e entrou para a história por convocar o primeiro recall da indústria automobilística brasileira. Fabricado até 1986, o modelo gerou derivados como a perua Belina, o Del Rey e a picape Pampa.

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