Confiança
Confiar é preciso, mas como?
A confiança é relativa. O tempo a transforma e nós observamos que há pelo menos quatro níveis de confiança.
1º - Confiamos em todos. O empregado confia que ao fim de mês de trabalho, o empregador lhe pague o que lhe é devido. O patrão, por sua vez, confia que seu trabalhador assalariado faça um bom produto com o material que lhe fornece e pelo que lhe paga. Podemos dizer que essa confiança é geral.
2º - Em um segundo nível, revelamos confiança somente em nosso amigos mais próximos e parentes mais queridos. Desabafos, revoltas, tristezas, felicidades, alegrias pessoais podem ser confiados e compartilhados com àqueles mais próximos. Esses são segredos relativos.
3º - Um nível mais profundo corresponde a circunstâncias e situações que nem os mais próximos a nós podem participar. Pensamos conosco, deduzimos dentro de nós, prometendo a nós mesmos guardar segredo para nós. Ninguém pode saber, o segredo nos guarda. São dessas coisas que podem nos denegrir, diminuir aos olhos dos outros e serem usadas contra nós. Às vezes escondemos só para proteger o sentido de nossa existência que essas coisas podem destruir. Caso outros saibam, podemos ser ridicularizados, condenados; cada um de nós sabe acerca de suas mesquinharias e idiossincrasias.
4º - Nesse ultimo nível estão as coisas que não conseguimos dizer nem para nós. Não conseguimos admitir ou ao menos aceitar. A consciência delas pode nos machucar e prejudicar muito. Nós as escondemos de nós e o que tememos a nosso respeito? Nossas fraquezas, fracassos, imprecisões, covardias, infantilidades, estupidez, imperfeições... Melhor deixá-las presas e amarradas no inconsciente. Porque trazê-las à tona? Porque causam problemas psicológicos? Tenho certeza que às vezes lembrar é pior que qualquer problema psicológico, se já não for uma questão psicológica. Podemos até sobreviver, já experimentei isso sobejamente, mas não podemos viver sem o respeito próprio.
Sim, confiar é preciso, mas obedecer esses níveis de confiança é imprescindível. Porque tudo é composto por formas inconstantes, pela própria natureza subjetiva da confiança. E ao confiar abrimos portas, mas não fechamos as janelas por onde poderíamos nos defender.
**
Luiz Mendes
17/04/2013.