Educadores e cientistas propõem uma nova maneira de se medir a riqueza de um país
Economistas e educadores brasileiros estão propondo uma nova maneira de medir riqueza, iniciativa que já encontra eco em nações como a França. Para eles, o PIB já era e é preciso considerar também – e principalmente – a qualidade de vida e a preservação do meio ambiente
Quando foi criado, termos tão na moda como “aquecimento global”, “stress”, “desigualdade social” ou “desenvolvimento sustentável” mal existiam. Elaborado no pós-guerra para avaliar a reconstrução dos países devastados, o PIB (Produto Interno Bruto) é o indicador da atividade econômica de uma nação mais utilizado no mundo. No entanto, no cenário catastrófico da crise atual – não só econômica, mas também ambiental e de qualidade de vida –, dirigentes de diversos países e também da ONU (Organização das Nações Unidas) têm questionado o índice do que chamam de velha e insustentável economia, apontando novos rumos para a organização socioeconômica mundial. A novidade maior é que essa preocupação começa a bater também aqui no Brasil.
Numa proposta desafiadora, uma elite de pensadores nacionais quer virar a mesa. “Não podemos mais nos basear no crescimento econômico permanente, pois nossos recursos naturais estão sendo dizimados pelo avanço tecnológico. Hoje temos desafios ambientais e sociais que também precisam ser medidos”, propõe o economista e professor da PUC-SP Ladislau Dowbor, durante o lançamento em junho do livro Compêndio de sustentabilidade de nações. A obra reúne 25 indicadores alternativos ao PIB elaborados no Brasil e no mundo, organizados pela especialista em responsabilidade social Anne Louette.
“O PIB está ultrapassado, pois crescimento econômico não se traduz em qualidade de vida. Crescer por crescer é a filosofia da célula cancerosa”, dizia ele no auditório da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, ressaltando a necessidade de “criar modelos de interdependência no lugar do atual modelo de independência”.
Google, Butão e Sarkozy
Pelo segundo ano consecutivo, o Google levou o título de marca mais valiosa do mundo, ultrapassando os US$ 100 bilhões. O sistema de buscas é multiplicador da informação, valor intangível cada vez mais relevante nos dias de hoje. “O bem de produção hoje é a informação. Precisamos deixar de ser uma sociedade de consumo para nos transformarmos numa sociedade do conhecimento”, afirma Reinaldo Pamponet, diretor da Eletrocooperativa, ONG que lançou um método de educação e geração de renda autossustentável, a Sevirologia. Através do portal na internet, jovens de todo o Brasil enviam produções em áudio e vídeo – a maioria feita com celular – e recebem por isso. “Sevirologia vem de 'se vire para vir a ser'. Queremos legitimar a sabedoria promovendo a transformação a partir do potencial de cada um.”
O Butão foi o país pioneiro a adotar oficialmente indicadores de sustentabilidade no fim de 2008, quando o governo real oficializou o FIB (Felicidade coInterna Bruta). Dentre os 25 indicadores reunidos no compêndio brasileiro, o FIB inspirou, por exemplo, os indicadores de “bem-estar psicológico” e “boa governança” (veja ao lado). E começam a pipocar demonstrações claras de que essa procura por novos caminhos é global e não restrita a nações antes consideradas exóticas, como o reino do Himalaia. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, por exemplo, deve apresentar este mês relatório elaborado por 27 especialistas que busca atualizar o PIB padrão, incorporando medidas de impacto da economia sobre ecossistemas e de avaliação da qualidade de vida e bem-estar. Como resumiu Ladislau, “pensar em explorar indefinidamente os recursos de um planeta finito só pode ser coisa de idiota... ou de economista”.
Termômetro alternativo - Pegada ecológica: mede a exploração dos recursos naturais e a velocidade com que eles podem se regenerar a partir desse uso. - Acesso ao conhecimento: avalia a alfabetização dos adultos, o percentual de alunos matriculados e a formação dos professores. - Pobreza humana: mede o acesso à água potável e a porcentagem de crianças desnutridas e de adultos desempregados há mais de um ano. - Bem-estar psicológico: mede a satisfação popular com a própria saúde física e mental, o tempo gasto com atividades de esporte e lazer e o acesso a programas culturais. - Boa governança: confere o desempenho do governo no combate à corrupção, à violência, à discriminação racial e à desigualdade. |